José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Mercúrio nos peixes da Amazônia, marco trágico do garimpo ilegal

Estudo revela grave contaminação e impactos ambientais na região amazônica

Um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), que acaba de ser divulgado, revela que peixes consumidos pela população de seis Estados integrantes da Amazônia brasileira, estão contaminados por mercúrio, um metal que ingerido em grandes quantidades resulta em sérias consequências neurológicas nos humanos e causa igualmente grandes problemas aos animais.

Na medição geral, a concentração de mercúrio encontrada nos peixes é de 21,3%, acima do admitido em saúde pública, mas eleva-se para 40% no Estado de Roraima, exatamente na área em que se localiza a reserva indígena Yanomami, imenso espaço que  foi ( e continua sendo) alvo da invasão do garimpo ilegal, que se fixou nessas terras para destruição da floresta e exploração indiscriminada de minerais, especialmente  do ouro.

É justamente pela exploração predatória do ouro, que os garimpeiros ilegais utilizam o mercúrio nas águas dos rios da região, com a finalidade de separar o mineral de outros materiais encontrados no solo, contaminando todo o ambiente, de maneira especial os peixes. Há cidades da região em que o percentual sobe para 50% de contaminação, um índice incompatível com a saúde humana. Foram coletadas 80 espécies de peixes em todas as capitais desses seis estados da Amazônia e em mais 11 municípios do interior.

GARIMPO SUPERA A INDÚSTRIA

Em menos de uma década a área de garimpo ilegal dobrou em relação à mineração industrial, passando de 99 mil hectares para 196 mil hectares, isso medido até o ano 2021. E nos últimos 3 três anos, a partir de 2019, o território ocupado ilegalmente pelo garimpo superou a mineração industrial legalizada.

Tudo isso parece ser uma questão menor aos olhos dos brasileiros, dado sobretudo ao fato de que a chamada grande mídia ignora esse tipo de assunto e não o compreende como grave denúncia. Seria necessária a explosão da crise humanitária pela qual o povo Yanomami tem passado, tornada pública em 21 de Janeiro de 2023 pelo presidente da República, recém-empossado, para que o fato começasse a despertar algum interesse e as autoridades finalmente agissem no sentido de expulsar o garimpo ilegal e reparar um mínimo dos gigantescos danos causados.

ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

A exploração do garimpo na Amazônia revela-se uma das questões mais críticas da região, por abrigar organizações criminosas para a extração do ouro, diamante, e outras riquezas minerais, trazendo junto dessa exploração outras estúpidas mazelas, como a corrupção, a violência (especialmente contra mulheres, idosos e crianças), o contrabando e o envolvimento de agentes públicos, movimentando somas milionárias de dinheiro por empresas brasileiras e estrangeiras, na execução de crimes financeiros e fiscais, na compra e venda ilegal do metal. 

 Mais grave ainda é o fato de que as terras indígenas, que ocupam cerca de 14% do território brasileiro e contém mais de 115 milhões de hectares de vegetação nativa, sejam as áreas mais visadas e ocupadas pelo garimpo ilegal no país. Em consequência, em menos de 30 anos o Brasil já perdeu 65 milhões de hectares de vegetação. Nisso, observa-se que as terras indígenas que ainda não invadidas, perderam nesse período apenas 0,6 milhão de hectares, um decréscimo de apenas 0,9% de sua vegetação nativa. Isso prova o quanto as populações indígenas são capazes de preservar, contrariamente à fúria dos devastadores invasores.

Um absurdo, que parece imperceptível aos olhos da grande maioria, incluindo mídia e autoridades, do legislativo ao judiciário, é a constatação de que a quase totalidade dos garimpos do Brasil, a vergonhosa marca de 91,6%, conforme dados levantados em 2021, está fincada na Amazônia. 

Esse garimpo destruidor está presente fortemente em terras indígenas. Um mapeamento do MapBiomas mostra que as grandes áreas de ocupação estão em território Kaiapó e Mundukuru, no Pará, e nas terras Yanomami, no Amazonas e Roraima. Apenas ano de 2021, o garimpo ilegal dentro de terras indígenas cresceu 625%. Isso mesmo: seiscentos e vinte e cinco por cento. Entre 2020 e 2021, a área de garimpo na Amazônia abocanhou 15.043 hectares (9,1%) e dentro dos territórios indígenas o avanço foi de 3.838 hectares, representando 24%.

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