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Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Lobby na Reforma Tributária deixa o Governo aos pés dos parlamentares

Na semana passada, o Ministro Fernando Haddad entregou pessoalmente ao presidente da Câmara Federal, Artur Lira, os detalhes da tão aguardada regulamentação da Reforma Tributária.

Na semana passada ao ministro Fernando Haddad, cercado pelo corpo técnico do seu Ministério, foi à Câmara Federal entregar nas mãos do presidente Artur Lira o projeto contendo os detalhamentos da regulamentação da Reforma Tributária. O gesto teve ampla repercussão na mídia, em razão do clima civilizado em que se deu o encontro e na aparente melhoria que poderia estar ocorrendo nas relações entre governantes e parlamentares.

Mas logo o ministro Haddad e seus auxiliares deram as costas, logo começam os mistérios, iniciando-se pela declaração bastante segura de Lira, ao que parece, de que não admitirá apenas um relator para o projeto, como correu em relação à primeira aprovação do texto básico da reforma, cuja relatoria ficou a cargo do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). 

Grupos de Trabalho

Por ter realizado um trabalho bastante elogiado, governo e parlamentares favoráveis à reforma tributária esperavam que o próprio deputado paraibano ficasse com essa nova tarefa. Mas não. O Presidente Artur Lira não deseja que essa proposta governamental de regulamentação fique nas mãos de uma só pessoa e anunciou que vai criar “grupos de trabalho” para cada tema indicado no projeto governamental.

Seriam esses grupos comitês de campanha?

Tem gente achando que esses grupos trarão o risco de virarem pequenos “comitês de campanha”, com força para dar ou tirar de acordo com as conveniências, pois Lira não perde a oportunidade de dar sempre um passo adiante na tentativa de fazer seu sucessor na Presidência da Câmara.

Debates específicos

Na prática, o que o presidente Artur Lira quer mesmo, com esses “grupos de trabalho”, ao instituir debate específico para cada tema tratado na proposta, é impor ainda mais complexidade às votações. Ilações à parte, o fato concreto é que os lobbys, que constituem um exercício permanente nas relações dos segmentos econômicos e de entidades representativas junto à Câmara, já botam a cabeça de fora e começam a pressionar os deputados para que não aprovem o projeto de regulamentação na forma como foi enviado pelo Governo.

Duas possibilidades

E aí as movimentações têm duas vias de passagem. A primeira delas diz respeito à imposição de exceções, para incluir o quanto mais possível produtos e serviços com tarifas reduzida ou até mesmo sejam isentas de pagar tributos. E isso tem um efeito grande e danoso, pois quanto maiores forem os setores beneficiados com desconto ou isenção, menos o Governo terá resultados na sua necessidade de elevar receitas, ou ainda, que tarifas sobre outros produtos e segmentos sejam aumentadas para compensar as dispensas que os parlamentares fizerem.

Decisões sob influências

E como estamos num ano eleitoral, em que as bases municipais têm maior influência sobre os congressistas, esse risco cresce bastante. É só ver, por exemplo, que no texto encaminhado pelo Palácio do Planalto, foram listadas 18 categorias de profissões liberais que recolheriam 30% a menos de impostos na nova medida. Agora, inúmeras outras profissões armam barraca a partir desta semana, para pressionar a Câmara e sejam também admitidas no benefício.

"Imposto do pecado"

Outra briga que já está claríssima – e essa praticada de modo pesado, organizado, poderoso-, é a quem vem dos segmentos industriais atingidos pela alíquota do chamado “imposto do pecado”. A proposta governamental lista nesse rol produtos como bebidas alcoólicas e açucaradas, cigarros e algumas categorias de carros, além de barcos e afins. O perigo que esse lobby ostenta é de tal forma, que alguns dos seus porta-vozes começam a ameaçar que essas alíquotas sejam direcionadas à desoneração da cesta básica, um golpe mortal para os mais pobres.

A elevação de tarifas para produtos classificados como “pecado” tem objetivos claros de torná-los mais caros, em defesa da saúde coletiva e da proteção ambiental, garantido mais recursos para tocar projetos governamentais e apresentar um mínimo de redução nas desigualdades e desequilíbrios até hoje existentes. Mais isso parece interessar a poucos. Os próximos dias serão de embates complicados. Acompanhemos.

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