Quem suspeitava de que os recentes incêndios, registrados de modo espantoso sobretudo no Estado de São Paulo, pudessem ter as mãos do crime organizado, pode ter certeza de que suas dúvidas têm razão de ser. Se já havia indicativos nesse sentido a partir da ação da polícia, especialmente da PF, com a prisão de quatro suspeitos de atearem fogo em canaviais e pastagens, contam agora com a análise de um expert em assuntos do clima, mundialmente reconhecido por seu trabalho de décadas, o pesquisador Carlos Nobre.
A partir de sua experiência de anos na região amazônica, ele analisa que essa disparada nos registros de incêndios no interior paulista, com bastante foco na região de Ribeirão Preto, tem certamente a atuação do crime organizado. Referência no mundo em estudos sobre mudanças climáticas, esse renomado cientista é o único brasileiro a integrar, desde maio deste ano, o Grupo Planetary Guardians, que reúne as maiores referências internacionais nesse tema tão agudo para a humanidade.
Ao desenvolver vasto estudo na sua intensa carreira no Instituto Nacional de Pesquisa Aplicada, o cientista Carlos Nobre atuou, conhecendo de perto a realidade da Amazônia, e está hoje engajado em desenvolver um modelo econômico capaz de manter a floresta de pé. E foi no território amazônico que ele conheceu quem está por trás de desmatamentos e da montagem, quase sempre clandestina, de fazendas de gado que ali se instalam, numa engrenagem pouco controlada pelos mecanismos oficiais de fiscalização, e que servem para lavagem de dinheiro e a prática de muitos outros crimes, como homicídios e expulsão violenta de nativos de suas áreas originais.
Ontem, numa esclarecedora e corajosa entrevista um jornal paulista, o cientista Carlos Nobre coloca luz nessa tragédia que se abate sobre São Paulo, alertando que o recorde de detecções de foco de incêndios pode ser “um sinal perigoso de que o crime organizado decidiu expandir seu modo de agir nas áreas mais remotas da Amazônia, replicando em São Paulo sua forma de destruição de biomas e de lucrar ilegalmente na cadeia agropecuária.”
Esse respeitado cientista chama a atenção ao fato de que uma maior atuação, com mais ações dos órgãos públicos contra desmatamentos, possa ter sido um disparo para que o crime organizado tenha adotado uma tentativa mais rápida da devastação de biomas, assim permitindo a eles mais velocidade na ampliação de suas atividades criminosas, com vistas aos ganhos fáceis sob ilicitude. Ele entende que esses incêndios orgânicos em São Paulo e no Pantanal tenham muito dessa gênese.
Carlos Nobre vê com muita possibilidade que mãos humanas estejam inevitavelmente por trás dessas ações recentes. A esse convencimento junta-se a prisão de um suspeito, pela Polícia Civil Paulista, flagrado com material para atear fogo em uma área do interior de São Paulo, tenha afirmado que estava a serviço do PCC, a maior facção criminosa do país.
O pesquisador Carlos Nobre é muito claro ao denunciar algo que estamos muito acostumados saber. Infelizmente, culturalmente, muitos setores da agricultura e da pecuária não respeitam o meio ambiente e fazem queimadas como um hábito. Contudo, essa explosão de focos de incêndio não pode ser creditada à conduta irresponsável historicamente adotada por fazendeiros. Nunca houve isso nessa dimensão.
Conclui-se, então, que tem a mão do crime organizado, como um recado aos órgãos de controle e fiscalização, de que se estão apertando de um lado, como estão fazendo na Amazônia, a resposta é essa: vão espalhar terror pelo resto do país.
Está aí mais um desafio magistral para o Governo e para uma sociedade brasileira ordeira, inclusive econômica, que deseja um país próspero e em paz.