José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Importação de arroz pelo governo contraria produtores gaúchos

O aumento dos preços do arroz, apesar da safra significativa, levou o governo a importar 1 milhão de toneladas para reduzir a especulação.

As tragédias que se abatem sobre o Rio Grande do Sul desde final de abril, têm trazido, além de mortes e destruições materiais, muitas polêmicas em torno do comportamento humano no trato da assistência às populações atingidas, das respostas às suas graves consequências. De um lado, há uma distorcida politização sobre o papel que cabe a cada parte governamental, isso também envolvendo a culpabilidade pelas causas das enchentes, envolvendo os diversos protagonistas dessa questão.

Agora mesmo, a polêmica da vez é sobre o arroz. Sabe-se que o Rio Grande do Sul é responsável por 70% de toda a produção nacional desse que é um cereal essencial à mesa do brasileiro, que faz companhia inseparável a outro produto obrigatório, o feijão. Sabe-se, por outro lado, que quando as enchentes chegaram ao Rio grande no finalzinho do mês passado, cerca de 80% da safra de arroz já havia sido colhida, o que, supostamente, faria o mercado abastecido, sem necessidade de soluções alternativas para faze-lo chegar às prateleiras dos supermercados ou de quitandas da esquina.

Acontece, porém, que a mídia já vinha fazendo registros de aumento dos preços desde o mês de janeiro, quando subiam desse o ano passado, chegando aos maiores aumentos da história. Agora em maio, o quilo do arroz, já em meio às enchentes, passou à média de R$ 6,50, mas em alguns pontos de Porto Alegre estava sendo vendido por R$ 37 o pacote de 5 quilos, o que equivale a R$ 7,40 por unidade.

Diante disso, consciente de que a maioria da população, já duramente atingida em todos os aspectos pelas inundações, passaria necessidade para adquirir esse alimento indispensável à sua mesa, e supondo que o produto estava sendo represado por setores da produção e distribuição, para forçar aumento de valor, o governo decidiu realizar um leilão para compra no exterior.

Primeiro, priorizando os países do Mercosul, mas essa ideia não vingou porque os produtores e exportadores dessas nações resolveram elevar os preços em cerca de 30% antes de vendê-los ao Brasil.

Daí, o Governo Lula ordenou à Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) que compre 1 milhão de toneladas de arroz em diversos países, para vender diretamente a supermercados e redes de atacado de alimentos, como resposta às necessidades impostas pelas tragédias gaúchas e pela atitude de represamento do grão por produtores e fornecedores.

É a primeira vez na história que a Conab realiza esse tipo completo de operação, da importação à distribuição. Tradicionalmente, a estatal fazia a recomposição de estoques, executando a regulação para garantir preço mínimo e assim assegurar que a população não seria explorada.

Desta vez, entretanto, realizando os leilões e recebendo o produto, ele será repassado às redes de supermercados e distribuidores, contendo desde a origem, no ensacamento, a logomarca da Conab e a inscrição: “Arroz adquirido pelo Governo Federal”. O produto chegará também aos atacarejos e estabelecimentos comerciais com redes amplas de pontos de venda nas regiões metropolitanas do país.

Um detalhe muitíssimo importante é que esse arroz não poderá ser vendido ao consumidor por preço acima de R$ 8 o pacote de dois quilos, significando que o valor de cada quilo será apenas de 4 reais.

Esse volume de 1 milhão de toneladas representa algo em torno de 10% de toda a produção brasileira, o que não é muito diante dessa triste realidade, mas foi o suficiente para provocar imediata reação dos produtores e distribuidores gaúchos, que vêm na decisão do Governo Federal “interferência indevida no mercado”, algo que o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, rebate: “ É legítima a preocupação dos produtores de arroz com a importação, por não quererem achatamento de preços, mas é legítima a preocupação do Presidente Lula de evitar a especulação e proteger os cidadãos.”

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