A atitude adotada pelo prefeito Karim Bouamrane, da cidade francesa de Saint-Ouen, de inaugurar uma artéria pública com a denominação “Rue Dr. Sócrates”, devolve a esperança de que exemplos positivos do esporte, notadamente do futebol, possam ser evidenciados, enaltecidos e valorizados, sanando, de alguma forma, as péssimas notícias que têm tomado conta da mídia acerca de comportamentos condenáveis, repulsivos e inaceitáveis de atletas do presente.
O evento que marcou, neste sábado, a inauguração da Rua Dr. Sócrates nessa cidade que compõe a Grande Paris, foi um marco de emoção e de boas lembranças sobre um ser humano que ficou famoso não apenas por ser um grande jogador de futebol, caracterizado pelos toques geniais de calcanhar, mas por ter escrito, dentro e fora de campo, uma história de coragem, liderança, amor à liberdade e à democracia.
A rua com seu nome está localizada na Vila Olímpica, que abrigará os Jogos Olímpicos de 2024, e receberá a delegação brasileira que disputará o evento. Será, assim, uma oportunidade pedagógica para que os nossos atletas de hoje possam saber mais sobre este enorme cidadão, que além de médico, exímio jogador de futebol, escreveu peças de teatro, pintou, tocou, gravou CDS, foi comentarista de televisão, e liderou o Corinthians num exemplar movimento de democratização do futebol, para se impor respeito e dignidade a jogadores.
Esse Sócrates, foi um extraordinário exemplo de profissional, de cidadania, inteligência, consciência política e doação. Nada mais adequado que essa marcante homenagem se dê na França, berço da consagração dos direitos dos cidadãos, pois ele foi o melhor exemplo de fraternidade e igualdade, princípios eternizados pela Revolução Francesa de 1789.
Para nossa sorte, Sócrates deixou no nosso convívio o irmão Raí, formidável atleta e cidadão que marcou época, foi ídolo por vários anos no Paris Saint German, da França, participou da Seleção Brasileira campeã do mundo em 1994, sendo, além do notável desempenho em campo, uma referência esportiva que supera todos os limites do futebol. Raí é, igualmente, o Dr. Sócrates, um exemplo que precisa ser melhor conhecido pelos jovens da atualidade.
Nunca houve tanta necessidade de que referências como Sócrates, Raí, Zico, Juninho Pernambucano, e mais alguns poucos sejam celebrados como modelos a se seguir no esporte, até mesmo pela urgência que se tem de se separar o legado que eles deixaram, das tristes e vergonhosas atitudes de jogadores que conquistaram fama e dinheiro, mas não se cansam de cometer ações condenáveis, como fazem Neymar, Robinho, Daniel Alves, os dois últimos condenados na Itália e na Espanha pela prática de estupro contra mulheres.
A inauguração da Rua Dr. Sócrates, neste sábado, em Paris, virou um merecido ato de louvor à Democracia e um contraponto a figuras como Neymar e o ex-presidente Jair Bolsonaro, culminando com a fala de Raí, que estava presente ao evento, de que “precisamos mais do que nunca combater a ameaça que paira sobre nós.”
Na mesma linha de Raí, o prefeito Karim Bouamrane , ao dizer que “Sócrates era o capitão da sua Seleção, mas levava por onde fosse os valores da Democracia e da Liberdade, para finalizar: “ Precisamos fazer escolhas. Ou é Sócrates ou Neymar. Ou é Democracia ou Ditadura. Ou é Amor ou Ódio.”