Importantes debates acontecem durante esta semana em Teresina, Piauí, em torno de uma das questões mais graves e importantes de nossos tempos, a Fome, que atinge hoje cerca de 735 milhões de pessoas, conforme o relatório Estado de Segurança Alimentar e de Nutrição do Mundo, divulgado em 2023. Dados atualizados mostrarão que esse contingente aumentou em pouco menos de um ano.
O documento produzido pela FAO e outras quatro agências especializadas da ONU revela que de 2019 até metade do ano passado, nada menos do que 122 milhões de seres humanos foram jogados nesse espectro deplorável, em razão, sobretudo, da Covid-19.
Se as consequências da enorme pandemia que se abateu sobre a humanidade entre 2020 e 2021 foi determinante para fazer crescer a fome e a insegurança alimentar, um outro fator tem registrado presença marcante, em decorrência de outro fenômeno do qual o mundo não consegue se livrar, que são as tragédias advindas dos desequilíbrios climáticos.
E esse encontro que acontece no Piauí durante esta semana, e que consiste na terceira etapa preparatória do grande evento que reunirá, em novembro, no Rio de Janeiro, todos os países envolvidos no G20 (grupo que reúne as maiores economias do mundo) e mais os países da África e da Ásia, vai colocar na mesa de debates 5º delegações de países estrangeiros em torno da Fome.
Não por mera coincidência, mas certamente pelo peso das repetições, esse importante encontro acontece no momento em que o Brasil, pontualmente no Rio grande do Sul, passa por tragédias de enchentes graves, com muitas mortes e destruição material, que trarão sérias consequências ao abastecimento de alimentos e elevação dos preços, dificultando sobremodo a vida das pessoas mais pobres, elevando o risco da fome mais uma vez.
O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do Brasil, um produto alimentar obrigatório na mesa dos brasileiros, e responde de maneira expressiva na produção de carne bovina, carne suína e frango, todos essenciais na alimentação das pessoas. Com a perda ou redução drástica de produção, a tendência é que esses alimentos sumam ou aumentem extraordinariamente de preços, elevando assim a desnutrição humana.
É a primeira vez na história que esse preocupante tema é debatido coletivamente, de maneira orgânica, entre tantas nações, na busca de soluções concretas para a tarefa de eliminar a fome no mundo. Impulsionados pelas bandeiras levantadas pelo Brasil, que atualmente preside o G20, os países-membros voltam-se, de forma organizada e cooperada, para cumprir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que é acabar a fome até 2030.
Esse encontro de Teresina tem caráter especial, pois além de reunir o corpo técnico de organismos internacionais e 50 delegações de nações para troca de experiências em torno de programas exitosos realizados por diversos países, fará a todos conhecerem o modelo do Fome Zero (hoje Brasil Sem Fome), uma proposta vitoriosa que teve início no Piauí, no ano de 2003, no primeiro mandato do Presidente Lula, quando Wellington Dias, o hoje Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome estava começando seu primeiro mandato como governador do Estado.
Embora de caráter técnico, no caminho de encontrar programas que se adequem a cada país, mas que mantenham objetivos comuns, esse grande encontro preparatório da Cúpula do Rio de Janeiro tem a missão de solidificar a vontade política na missão de acabar com a fome, substituindo-a por dignidade humana e por igualdade.
Os resultados desta semana serão significativos para a construção conjunta da Aliança Global Contra a Fome e a Miséria, a ser firmada em novembro, no Rio, trazendo peso político de países que se juntarão pela primeira vez nesse que pode ser considerado o maior objetivo do milênio.