A agenda do Presidente Lula, desenvolvida fora de Brasília, iniciada nesta quinta-feira, é pontuada por dois aspectos significativos. O primeiro deles, é a retomada de suas viagens pelo interior do Brasil, começando preferencialmente por Estados do Nordeste. Segundo, pela determinação governamental, tomada como verdadeira questão de Estado, de retomar as obras de ampliação da Petrobrás.
Lula escolhe o Nordeste para recomeçar suas viagens, num visível reconhecimento à região do país que lhe dá os mais expressivos índices de aprovação, antes e depois das eleições. E Lula escolhe a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, para, pessoalmente, anunciar a retomada de investimentos da Petrobrás, uma obra em que serão aplicados R$ 6 bilhões na ampliação, gerando cerca de 40 mil empregos.
As obras da refinaria Abreu e Lima, quando concluídas, vão acrescentar mais de 13 milhões de litros de diesel S10 (de baixo teor de enxofre) por dia à capacidade de produção da Petrobrás, ampliando a capacidade dessa unidade de 115 mil para 260 mil barris de petróleo por dia. Essa obra faz parte da meta estabelecida pela Petrobrás, fixada em seu Plano Estratégico 2024-2028, de tornar o país autossuficiente na produção de combustíveis, reduzindo a zero a sua demanda por importação. Hoje, ainda, o Brasil importa cerca de um terço do diesel que consome.
Além de emprestar lucratividade à Petrobrás e independência nacional no aspecto de suprimento de combustíveis, essa refinaria tem sentido emblemático, por ter sido ela o pivô da grave crise que se abateu sobre a Petrobrás, em 2014, ambiente adequado à instalação da operação Lava-Jato, um movimento comandado pelo ex-juiz Sérgio Moro, que teve a maior estatal brasileira como objetivo e que gerou gigantescos prejuízos à empresa, com desmonte e venda de grande parte de seus ativos.
Após início das operações da primeira etapa da refinaria, as obras foram paralisadas em 2015, agora retomadas, com previsão de funcionamento pleno até 2027. A Abreu e Lima é considerada fundamental para aumentar a produção e a disponibilidade de derivados, em especial, óleo diesel S10. Localizada estrategicamente em Pernambuco, a refinaria está conectada ao sistema logístico nacional, com notável contribuição para o desenvolvimento do Nordeste brasileiro.
O plano estratégico da Petrobrás, no qual se insere a retomada da refinaria Abreu e Lima, prevê investimentos de US$ 102 bilhões em cinco anos, um crescimento de 31% em relação ao ciclo anterior encerrado em 2023, quando a maior estatal do país sofreu revezes extraordinários, desfez-se de importantes ativos, a exemplo da refinaria Landulpho Alves, localizada na Bahia, a mais antiga do Brasil, que foi entregue ao grupo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes, durante o governo passado, a preço inferiorizado, calculando-se em um terço do seu real valor.
A retomada de um vigoroso plano de investimentos na Petrobrás é uma opção pessoal do presidente Lula, considerada de elevado interesse nacional, e visa não apenas ampliar a produção, reconquistar mercados, mas especialmente devolver dignidade a essa empresa brasileira que, no passado, notabilizou-se por sua enorme capacidade técnica, operacional e de pesquisa. Detentora da exploração de óleo e gás em águas profundas oceânicas, foi a Petrobrás quem descobriu e explora no pré-sal, um avanço sem comparação em todo o mundo.
Enfim, retomando suas viagens pelo Brasil exatamente por territórios nordestinos, Lula parece mandar um recado para adversários e aliados: está de olho aberto nas eleições de 2024, quando o país deverá eleger e reeleger seus 5.472 prefeitos e milhares de integrantes das Câmaras Municipais de Vereadores. E começa sua agenda pelo espaço territorial que abriga a população sempre mais favorável a ele. Lula terminou seu primeiro ano de terceiro mandato com uma aprovação estável, na média nacional, de 54%.
Mas no Nordeste, mais de 70% dizem aprovar seu jeito de governar, e entre os mais pobres da região, esse percentual de concordância chega aos 80%. Daí, de mãos com a retomada de investimentos na Petrobrás, Lula acelera seus planos de também retomar milhares de obras que o governo passado deixou paralisadas em toda a região.