O banimento de livros em bibliotecas públicas, para impedir que essas publicações cheguem aos jovens leitores, sobretudo, é uma velha história da humanidade, uma ação promovida por dirigentes governamentais e religiosos conservadores, que não aceitam novas idéias.
No mundo todo, ao longo da história, mentes retrógradas da direita, extremadas nas suas posições morais, ao chegarem ao poder mandam recolher e até a queimar livros em praças públicas, como ocorreu na Alemanha durante a trágica passagem de Adolf Hitler.
Mas quem imaginaria que os Estados Unidos da América, que se vende ao mundo como a “terra da liberdade”, “a maior democracia do planeta”, se transformasse em palco do maior banimento de livros, muitos deles clássicos, das bibliotecas do país, especialmente dos lugares de acesso público?
Pois é isso que vem acontecendo com frequência e intensidade. 37 estados norte-americanos já acataram milhares de pedidos de retirada de livros das escolas nos últimos 20 anos, crescendo essas ações de 2020 para cá. Só entre 2016 e 2022 foram mais de 1.600. Dentre as obras censuradas e retiradas do uso público pelos jovens leitores americanos, estão obras como “A Vida de Rosa Parks”, “O Caçador de Pipas”, “O Hobbit”, e até o clássico “O Diário de Anne Frank”.
Uma prática da extrema-direita
Os pedidos de banimento dos livros partem de famílias extremistas de direita, que sentem nessas obras ameaças à formação moral de seus filhos. A Flórida é o estado norte-americano que mais tem retirado livros das escolas. Coincidentemente é a unidade federativa onde mais se solidificam governantes de extrema direita.
As organizações que defendem a liberdade de expressão sustentam que essa frequência descomunal de censura e banimento de livros nos Estados Unidos cresceu significativamente devido à polarização política desencadeada por conta das eleições presidenciais de 2016 e 2020, com o surgimento de Donald Trump na cena politica americana, com toda a força do seu extremismo de direita.
Os temas mais recorrentes em livros censurados nos Estados Unidos são violência e abuso físico, saúde e bem-estar de estudantes, experiências sexuais, racismo e raça, questões atinentes a LGBTIA e luto e morte. Mais de 49% dos pedidos de banimento acatados pelas autoridades vêm de pais de alunos das escolas públicas.
Brasil também tem isso
Esse tipo de censura também é conhecido no Brasil. Em 1937, durante o governo Vargas, os escritores José Lins do Rego e Jorge Amado (ambos nordestinos) foram proibidos, tiveram obras apreendidas e queimadas, acusados de “simpatia com o comunismo”.
Isso, porém, não fica no passado. Agora mesmo, o governo do Estado do Paraná, em território brasileiro, mandou retirar das escolas da rede pública o livro “o avesso da pele”, do autor Jeferson Tenório, acusado de trazer vocabulário inadequado, cenas de sexo, discussão sobre aborto, discursos contra o racismo e denúncias de preconceito contra minorias.
Um contorno inteligente que tem surgido no mundo, ao qual o Brasil aderiu com sucesso, tem sido a criação dos Clubes de Livros, unindo jovens, sobretudo nos meios digitais, para trocas e para conversas, análises e críticas em torno de títulos já conhecidos ou de novas obras lançadas ao mercado.