Os defensores dos juros altos praticados no Brasil, obedecendo ao comando do autônomo Banco Central, estão fazendo a festa. Dados revelados ontem mostram que 22 empresas que colocam suas apostas na Bolsa de Valores, obtiveram lucros líquidos superiores a R$1 bilhão. E isso não foi no decorrer de um ano. Foi tão somente no estreito espaço de três meses, no segundo trimestre de 2024.
os maiores da lista
Dentre essas 22 empresas com lucros líquidos bilionários, nada menos do que sete pertencem ao mercado financeiro, exatamente o setor que mais se beneficia da política suicida (para o país) levada a cabo pelo atual Banco Central, comandado de fato pelos rentistas. Os seis bancos e uma operadora que se colocam nessa lista estão entre os 10 maiores lucros, um deles levando R$9.895 bilhões. Nos dois primeiros lugares estão uma operadora de telefonia e a empresa de mineração Vale, que está com o espantoso ganho de R$14.592 bilhões em três meses.
Os dados foram levantados pela empresa de consultoria Elos Ayta. Somando-se o lucro líquido que essas 22 empresas abocanharam nesses últimos três meses, tem-se um valor magnífico de R$73.652 bilhões. Esse valor corresponde a cerca de 44% de todos os recursos colocados pelo Governo Federal no seu principal programa de transferência de renda, o Bolsa Família, em um ano, que ficou estabelecido em R$168,6 bilhões para 2024.
Desse modo, se essas empresas, impulsionadas pela altura em que os juros estão e diante das ameaças de que podem até aumentar, repetirem o guloso desempenho desse último trimestre, os lucros líquidos somente delas será superior a R$ 294 bilhões, ou R$ 120 bilhões a mais do que toda a verba federal destinada ao esforço nacional de retirar mais de 20 milhões de seres humanos da vergonhosa submissão à fome.
Prova-se aqui o que temos afirmado reiteradas vezes que a prática de juros elevados na economia brasileira cumpre o pernicioso papel de favorecer os rentistas, aqueles que se tornam sempre mais ricos às custas do sacrifício do resto da sociedade produtiva e dos trabalhadores, estes cada dia mais sufocados.
aumento de juros
Enquanto os lucros crescem, alimentados por taxas de juros básicos que são das mais elevadas do planeta terra, as empresas que realmente cumprem o papel de produzir, de gerar os bens que consumimos, de empregar e propiciar renda, favorecendo o aumento do consumo e o crescimento do PIB nacional, passam por enormes dificuldades. São muitos e crescentes os setores produtivos que ficam privados de crédito acessível, tal a exorbitância que lhes são impostas.
O Brasil tem hoje o 3ª maior spread ( os juros que você paga ao fazer empréstimo ou financiamento) do mundo, a segunda maior taxa de juro real do universo, e os juros cobrados para capital de giro estão em torno, em média, de 25%. Mas mesmo diante disso, tem-se falado com insistência na possibilidade de que o Comitê de Política Orçamentária do BC, na sua próxima sessão de 17 e 18 de setembro, volte a aumentar as taxas de juros Selic, hoje mantidas em 10.5%.
Um dos argumentos sustentados pelo sistema financeiro e por todos aqueles que vivem da especulação, é de que o risco de recessão na economia dos Estados Unidos (não estou falando de Brasil, é mesmo dos EUA) e a possibilidade de que por esses dias, frente a isso, eles lá reduzam seus juros internos, pode desencadear a necessidade de que os juros aqui, ao invés de cair, voltem a crescer.
E se isso ocorrer, haveria uma enxurrada de gente saindo de suas aplicações nos Estados Unidos para “investir” nas bolsas brasileiras. Em busca de lucros maiores. Tudo em favor deles, os rentistas, nada em benefício dos que trabalham e produzem a riqueza do Brasil.