José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Bancada da bala domina a tribuna para os discursos pró-armadas

A tribuna da Câmara foi palco de 75 discursos a favor do armamento da população, enquanto as falas contrárias, posicionadas em apoio às medidas adotadas pelos atuais gestores nacionais, não passaram de 24

Uma pesquisa produzida pelo Instituto Fogo Cruzado- organização dedicada a produzir indicadores sobre violência armada no país-, que acaba de ser divulgada, mostra o tamanho da ousadia e do empenho que parlamentares integrantes da bancada da bala têm demonstrado no Congresso, com enorme  força na Câmara dos Deputados.

Conforme o levantamento, entre fevereiro e dezembro de 2023, primeiro ano de Lula na Presidência, sob um governo que dá mostra claras de não-armamentismo da população, ao contrário do governo anterior, os membros da bancada da bala foram pra cima, dispostos a tirar o atraso. A tribuna da Câmara foi palco de 75 discursos a favor do armamento da população, enquanto as falas contrárias, posicionadas em apoio às medidas adotadas pelos atuais gestores nacionais, não passaram de 24.

Isso significa que as manifestações a favor de se armar a população, de oferecer-lhe  acesso mais livre e desimpedido a armas e munições, foram pelo menos três vezes mais frequentes e veementes. Essa postura tem acontecido de modo crescente no nosso Parlamento, com tendência de que permanecerá subindo. É só ver as estatísticas: em apenas um ano,  os discursos favoráveis ao armamento equivalem a 72% das 103 manifestações contabilizadas sobre o tema na atual legislatura.

Esse empenho dos parlamentares da bancada da bala, com manifesto aplauso de bancadas pertencentes a outros segmentos, como a bancada ruralista, ganhou impulso a partir do retorno de Lula à Presidência da República, desde o momento em que ele, logo no comecinho do mandato, assinou um decreto suspendendo por um ano os registros para aquisição e transferência de armas e munições de uso restrito, uma prática que se tornara comum, banalizada, pelos detentores de CACs.

Na sequência, o Ministério da Justiça e Segurança Pública editou novo decreto regulamentando e restringindo a compra e uso de armas e munições.

Na avaliação da coordenadora da pesquisa do Fogo Cruzado, Terine Coelho, fica muito claro que há uma institucionalização do movimento pró-armamento no Congresso. Ela alerta que, além do discurso frequente, a bancada que agrega os armamentistas cresce significativamente de tamanho. Nas eleições gerais de 2022 foram eleitos 23 deputados nesta rotulação. Hoje já são 57, significando que o aumento foi além do dobro.

Entre os parlamentares mais barulhentos desse movimento pró-armas todos eles são filiados ao PL do ex-Presidente da República, destacando-se Marcos Pollon(PL-MS), que foi o fundador do movimento, Eduardo Bolsonaro(PL-RJ), e Alberto Fraga (PL-DF). Esses compareceram à tribuna com mais frequência e mais contundência no esforço de armar a população brasileira. Conforme análise dos pesquisadores, os que defendem essa tese são em sua maioria homens e brancos.

Entre 2015 e 2018 ocorreu um avanço enorme nesses discursos pró-armas, quando se registraram 198 falas nessas linha, um impulso que diminuiu a partir de 2019, já sob Bolsonaro no governo, em razão de implantação de outra realidade: o fato de que o então presidente vinha cumprindo a promessa de liberalizar o acesso e o uso de armas e munições, editando dezenas de decretos liberalizantes, daí reduzindo a necessidade de uma atuação mais vigorosa no congresso. Com Lula apertando o cerco, agora a atuação da bancada da bala voltou com carga total.

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