José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Ascensão da extrema direita: um alerta que a Espanha manda ao mundo

Extrema direita conquista espaço político na Espanha com vitória do partido Vox e gera preocupações sobre o futuro democrático

Quem, na semana passada, acompanhou o caso de racismo praticada contra o atacante brasileiro Vinícius Júnior, e viu essa manifestação pública, dentro de um estádio de futebol, como sinais de atuação da extrema direita, pode ter certeza de que acertou redondamente. Contados oito dias da triste ocorrência, apenas de um domingo para outro, a Espanha vê ressurgir, com imensa força, o extremismo de direita, uma realidade retirada das urnas, através do voto, da livre escolha do povo espanhol, no pleito realizado na região de Andaluzia, com grande influência sobre o resto do país.

Trata-se de algo bastante significativo, pois a Andaluzia é a região mais populosa da Espanha e uma de suas potências econômicas. Pois é daí que surge com toda força um novo partido anti-imigrantes, com presença assegurada no Parlamento, algo surpreendente e até pouco provável desde o fim do domínio ditatorial de Francisco Franco, que infelicitou o país durante 36 anos. O nome do vitorioso é Vox, um partido extremista que o presidente de La Liga ( a principal instituição do futebol espanhol), Javier Tebas, ajudou a fundar e a ele esteve filiado durante muitos anos. Tem o racismo, no culto ao purismo de cor, e a repulsa aos imigrantes, como principais preferências.

A força política emergente, fundada em 2013, mostrou um resultado impressionante, ganhando duas vezes mais votos do que o esperado, assegurando 12 assentos na legislatura. Enquanto a maioria dos principais partidos que participaram das eleições perdeu o apoio dos eleitores, o Vox foi um dos poucos que desfrutaram de um aumento significativo no apoio popular.

POSTURA ANTI-ISLÃ

Fundado por um grupo dissidente do conservador Partido Popular Espanhol, o Vox logo assumiu uma postura anti-Islã e anti-imigração. A legenda também abriga uma visão eurocética, enquanto se opõe ao aumento da autonomia para as regiões espanholas, como a Catalunha.

Embora o Vox fosse a menor facção da legislatura da Andaluzia, ainda assim poderia decidir o destino da futura coalizão dominante e remover os socialistas do poder. As forças de esquerda no Parlamento não têm assentos suficientes para formar uma maioria governista. O Partido do Povo, que ficou em segundo lugar, pode ser capaz de reunir os números, mas apenas se eles se aliarem ao Partido Cidadão liberal e ao Vox.

A conquista da extrema direita foi celebrada pelo próprio partido, com um anúncio que prevê novos avanços e a futura submissão da Espanha aos seus princípios. O próprio partido direitista Vox celebrou em voz alta seu sucesso. "A Reconquista da Espanha começa na Andaluzia!", declarou o gerente da campanha eleitoral do partido corajosamente em uma festa pós-eleitoral, conforme relatado pela mídia espanhola.

FORTES ADEPTOS NO BRASIL

O extremista Vox, que conquista um avanço histórico na Espanha, através do voto popular, é herdeiro do franquismo e tem fortes adeptos no Brasil, a partir do bolsonarismo. O grupo viu dobrar sua presença no parlamento, triplicou o número de eleitos para as câmaras municipais e regionais, e se consolida como nova força política em toda a Andaluzia, região até então dominada por partido socialistas.

Para quem acha que isso é pouco, o Vox conseguiu ser eleito em todas as zonas e somou mais de 1.5 milhão de votos. O crescimento, comparativamente a 2019, foi o mais expressivo entre todos os partidos políticos espanhóis.

A imediata atitude do primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, face ao avanço da extrema direita, foi a dissolução do parlamento e a convocação antecipada de eleições gerais para 23 de julho.

Claramente, a vitória dos extremistas pode significar a consolidação de um projeto nacional. E serve ao mundo político como um alerta, como uma ameaça a ser contida em favor dos valores humanos e da democracia.

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