José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Afrontando tragédia gaúcha, parlamentares têm 28 propostas para passar a boiada

Os parlamentares que estão à frente dessas 28 repelentes ideais, como autores ou relatores, são quase que totalmente do PL (partido do ex-presidente da República) e do PP, principal agremiação do Centrão

O Rio Grande do Sul tem sido a área central de destrutivos eventos climáticos, que já deixaram, somados, cerca de 200 pessoas mortas e um rastro incalculável de destruição, desde setembro do ano passado, e daí por mais três ocorrências, até descambar no que está acontecendo agora. E tudo, conforme dizem os cientistas, por conta de desequilíbrios climáticos que chegaram ao Estado pela ação humana, por suas práticas destrutivas do meio-ambiente.

E enquanto o Brasil se une em solidariedade para socorrer milhares e milhares de pessoas que perderam suas casas, estão desabrigadas, precisando de alimentação, agasalhos, um lugar para dormir e atenção para a saúde, numa mobilização voluntária que engrandece e orgulha os brasileiros, o Parlamento nacional (Câmara e Senado) produz um imenso pacote de projetos destinados a aumentar as ações danosas de devastação ambiental e desmantelar os organismos de fiscalização e controle do meio ambiente.

Num flagrante desdém às tragédias que se abatem sobre o povo gaúcho e sensibilizam nossa gente de todas as regiões- fazendo o governo central dar mostras de responsabilidade e urgência diante dos ocorridos-, deputados e senadores, na quase totalidade agrupados na direita, produziram e levaram a debate e votação, nada menos do que 25 projetos de lei e três emendas constitucionais, todos  voltados à insana tarefa de fazer liberar desmatamentos, reduzir de 80% para 50% as reservas legais da Amazônia, flexibilizar o Código Florestal, explorar minerais em unidades de conservação, impedir regularização fundiária, liberar os desmatamentos em biomas que “não sejam florestas”, entre tantas e tão perversas iniciativas.

Os parlamentares que estão à frente dessas 28 repelentes ideais, como autores ou relatores, são quase que totalmente do PL (partido do ex-presidente da República) e do PP, principal agremiação do Centrão, esse movimento político retrógrado que tanto dificulta a vida do país. Embora, por razões da lógica e da sensibilidade, Câmara e Senado deveriam ter a sensatez de interromper a discussão dessas propostas infames, por respeito, ao menos até que fosse sanada toda essa desgraça registrada no Rio Grande do Sul, parece, porém, que está acontecendo exatamente o contrário.

Há demonstrações de que essa gente quer aproveitar o momento em que o país volta suas mentes e atenções para missões de solidariedade, ficando desatentos para outros temas, para, enfim, passarem a “boiada”, que era a prática pregada e executada pelo Senhor Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, que finalmente, e felizmente, tornou-se réu, em agosto do ano passado, pela exportação ilegal de madeira brasileira.

O Observatório do Clima, que é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, fez nesta semana um alerta para essa atitude impatriótica de deputados e senadores, chamando a atenção de todos (inclusive de parlamentares sensatos e responsáveis) para que seja possível conter essa onda destrutiva. O Observatório reúne 107 entidades integrantes do seu propósito de luta, desde ONGs ambientalistas, a institutos de pesquisa, universidades e movimentos sociais.

A esperança que temos é de que essa tragédia ambiental, que é a maior da história do Rio grande do Sul,  e fruto das mudanças climáticas e da ação predadora daqueles que visam lucro a qualquer preço, sirva de lição e de oportunidade para que as rotas sejam corridas, o trato com a natureza seja reorientado, exatamente na contramão do que deseja esse conjunto de parlamentares, que é ver a boiada passar.

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