Varejo registra o mais fraco desempenho de fim de ano desde recessão

Grandes varejistas abrem temporada de descontos, de até 80%.

O varejo encerra 2020 registrando o mais fraco desempenho de fim de ano desde 2015 e 2016, quando a recessão fez o setor encolher cerca de 7% no Natal. Associações projetam números para dezembro abaixo do verificado em anos anteriores, reflexo do encolhimento do auxílio emergencial e de uma nova onda de fechamento de lojas e de reduções de horário de funcionamento do comércio no país. Grandes varejistas já abrem a temporada de liquidações com descontos de até 80%.

O Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) mostra queda de 1,8% nas vendas em lojas físicas e no comércio eletrônico no período de 19 a 25 de dezembro em relação ao mesmo intervalo de 2019. No varejo on-line, que equivale a cerca de 10% do varejo total, a alta foi de 15,5% sobre 2019.

A associação de lojistas de médio e pequeno portes que operam em shopping centers (Ablos), estima queda, em dezembro, entre 10% e 35% nas vendas de produtos como vestuário, calçados, acessórios, itens de perfumaria e ótica, além do setor de serviços. Os maiores recuos no varejo estão em moda e calçados (25% a 28%).

Em lojistas da área de serviços (cabelereiro, manicure, consertos de produtos), o recuo varia de 30% a 35%. Há projeção de alta nas vendas em apenas dois segmentos: artigos para o lar (12% a 15%) e joalheria (5% a 6%). Foram ouvidas cerca de 100 redes associadas, num total de mais de 7 mil lojas no Brasil. “Praticamente não tivemos festas de fim de ano, não houve tantas trocas de presentes, e ainda tivemos um abre e fecha de lojas o mês todo em praças importantes, como São Paulo, com as mudanças nas regras de funcionamento. Isso tudo se somou ao efeito da queda pela metade do auxílio emergencial [em setembro, diminuiu de R$ 600 para R$ 300]. É um dos piores dezembros que já tivemos”, disse Tito Bessa Jr, presidente da Ablos e fundador da rede TNG.

Lojas anunciam descontos em vendas no Natal - Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo

Redes e empresas de logística confirmam uma demanda mais forte entre a segunda e terceira semanas de dezembro, e uma desaceleração após o dia 23. “A partir do dia sete de dezembro, começou a acelerar, mas na véspera do Natal, a venda perdeu força e continua num ritmo mais fraco nessa semana”, disse Benhur Cezar, diretor da varejista on-line Estrela 10.

A FecomercioSP estima alta de 1% nas vendas de dezembro, com elevação mais representativa em segmentos como materiais de construção (43%) supermercados e atacarejo (15%), lojas de móveis e decoração (15%) e farmácias (10%). “Os números só serão melhores nas áreas ligadas ao consumo essencial, que se manteve aberto o fim de ano todo, e naquelas  voltadas para cuidados com a casa”, diz o assessor econômico da entidade Altamiro Carvalho.

A população começou a compreender que o “coronavoucher” está chegando ao fim e passou a cortar gastos do orçamento. “Só o auxílio emergencial jogou R$ 197 bilhões no varejo brasileiro em 2020. Mesmo com ele, projetamos queda de 2% no comércio brasileiro em 2020. Sem ele, cairíamos 11%. Mas isso tudo deixa de existir em 2021”, afirma Carvalho.

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) tem uma visão mais otimista. “Nós fomos supreendidos por um varejo retomando as vendas mais rapidamente já a partir de junho. Mas entendemos que as altas passadas, de 6%, 7%, 8% no mês contra mês anterior, não se sustentam. Por isso projetamos um Natal com taxa positiva, mas menos forte”, disse o economista da CNC, Fabio Bentes. A CNC estima avanço de 3,4% nas vendas natalinas, chegando a R$ 38,1 bilhões.

As informações são do Valor Econômico

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