Em 23 de junho de 1968, decorridos hoje 51 anos, o estádio Monumental de Núñez, em Buenos Aires, registrou uma das maiores fatalidades do futebol argentino, aquela que ficou conhecida como a “tragédia da Puerta 12”, que resultou na morte de 71 pessoas e em maus de 100 de feridos.
Naquele domingo 23 de junho ocorria o mais esperado clássico argentino, entre as equipes do Boca Junior e River Plate, com o River na fila por títulos já há alguns anos e o Boca com poucas aspirações de conquista.
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Mas aquele passou a ser um domingo a ser esquecido. As únicas coisas a lembrar serão para sempre os 71 mortos, as dezenas de feridos, e as cenas dramáticas de gente sendo espezinhada na tentativa de ultrapassar o portão.
Impressionava a quantidade de sapatos, chapéus e casacos nos degraus da imensa escadaria da Puerta 12, portão que dava acesso à torcida visitante, ingressando pela avenida Figueroa Alcorta, até a arquibancada Centenário Alta do estádio .
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No inverno portenho, o 0 a 0 de um jogo sem muita emoção era o convite ideal para o retorno pra casa o antes possível. A torcida do Boca deixava a arquibancada e descia as escadas quando, de repente, o fluxo de passos emperrou em algum funil lá embaixo, perto do portão. Quem estava na ponta tinha de suportar a pressão e empurrões de uma multidão que se apinhava forçando a saída.
“Por causa da pressão humana, aconteceu um efeito raríssimo: começamos a sair do chão. Eu estava flutuando a quase meio metro sem poder me mexer, até que em um certo momento essa pressão cedeu e começamos a rolar uns por cima dos outros. Foi então quando o meu melhor amigo, Guido Von Bernard, morreu ao bater a cabeça em uma das paredes do túnel”.
O testemunho é do sobrevivente Juan Nicholson ao jornal La Nación neste ano, quando a tragédia Puerta 12 completou 50 anos. O amigo Guido e mais 70 pessoas perderam a vida sufocadas e pisoteadas naquela escadaria. “Eu tive a sorte de cair por cima de um corpo que já estava sem vida, enquanto muita gente caía em cima de mim. Só naquele lugar morreram cerca de cinquenta pessoas”, completou Juan em seu depoimento.
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A notícia do que acontecia no estádio do River abalou uma sociedade que vivia sob a ditadura militar incorporada na figura do general-presidente Juan Carlos Onganía, homem conservador e que liderava ferrenha oposição ao peronismo dentro do exército. Segundo algumas testemunhas ouvidas durante o processo que investigou as causas da maior tragédia do futebol argentino, a polícia teria fechado o portão e preparado uma revista aos torcedores do Boca.