Este dia, em 1965, marca o fim daquela que foi a maior empresa de Aviação aérea do país entre os anos 30-50, a Panair do Brasil. A empresa teve suas operações aéreas abruptamente encerradas em 10 de fevereiro de 1965, devido a um decreto do governo militar, que suspendeu suas linhas. A opção pela suspensão, em vez da cassação, teria sido um mero artifício técnico encontrado pelo governo.
Assim, as operações poderiam ser, na prática, paralisadas de imediato, sem o decurso dos prazos legais de uma cassação. Até hoje suas linhas encontram-se tecnicamente suspensas.
Panair do Brasil S.A. foi uma das companhias aéreas pioneiras do Brasil. Nasceu como subsidiária de uma empresa norte-americana, a NYRBA (New York–Rio–Buenos Aires), em 1929. Incorporada pela Pan Am em 1930, teve seu nome modificado de Nyrba do Brasil para Panair do Brasil, em referência ao código telegráfico da Pan American World Airways ("PANAIR"), controladora da empresa.
Foi a principal empresa aérea brasileira entre 1930 e 1950, e perdeu mercado — principalmente o doméstico — na década de 1950, com o crescimento da Varig e da Real. A partir de 1946, as ações da empresa começaram a ser transferidas para investidores brasileiros, tornando-se ela majoritariamente nacional em 1948.
A Panair foi a mais amada empresa aérea do Brasil a seu tempo. Famosa por trazer avanços e novidades, instituiu informalmente o que ficou conhecido como "Padrão Panair", garantia de excelência técnica-operacional. Pioneira sob diversos aspectos, poderosa, charmosa, a companhia mereceu até eulogias em prosa e verso: "Nas asas da Panair", canção imortalizada por Elis Regina e Milton Nascimento, comprova isto.
No entanto, nada disso lhe valeu quando de seu vergonhoso fechamento. "Quebrada" por decreto, numa das mais sórdidas páginas de nossa história política, teve sua morte decretada pelo Governo Federal, numa manobra em conluio com a Varig.
A Panair é um rebento da criação da NYRBA (New York-Rio-Buenos Aires Line) pelo norte-americano Ralph O`Neill. Apaixonado pela aviação, O`Neill passou alguns anos costurando as alianças e entendimentos políticos com os Governos do Brasil, Argentina e Estados Unidos. Apoiado financeiramente por James Rand, fundador da Remington Rand, O`Neill tecia a fina trama necessária para apoiar suas operações transcontinentais. Constituída oficialmente em 17 de março de 1929 e iniciando vôos experimentais em 11 de junho com um hidroavião Sikorsky S-38, O`Neill vê finalmente em 1º de agosto seu sonho decolar: começam os vôos regulares entre Montevidéu e Buenos Aires, logo extendidos para Santiago de Chile, prolongada em novembro até a Bolívia. estes operados com os Ford Trimotor.
Em 24 de janeiro de 1930, a NYRBA é autorizada a voar no Brasil. Sem perder tempo, vôos regulares começam com os hidroaviões Consolidated Commodore em 19 de fevereiro, ligando em seis dias Buenos Aires a Miami. Desde então, os vôos mantiveram impressionante regularidade, mostrando desde os primórdios a excelência e seriedade operacional que caracterizaram a Panair. Mas outra faceta de sua história mostrou-se já no princípio: a feia face política por trás do sucesso operacional.
Nos Estados Unidos, o governo não apoiava a NYRBA. A Pan Am gozava de inbatível prestígio em Washington, sendo apelidada de Chosen Instrument (o instrumento escolhido pelo governo) para sua expansão aérea. Em resumo: a Pan Am contava com subsídios para voar e a NYRBA não. Some-se a isto o crack da Bolsa em 1929 e o final da história você já imagina: em agosto de 1930 a NYRBA passa a ser controlada pela Pan Am. No Brasil, a NYRBA muda então de nome, escolhendo um que refletia sua ligação com sua controladora: PanAir do Brasil, ou simplesmente Panair. Até 1942, 100% de suas ações estiveram em poder dos controladores norte-americanos, que então começaram a vender suas ações para mãos brasileiras.