Hoje são decorridos 39 anos da morte do “poetinha”, Vinícius de Moraes, o romântico apaixonado, o mais importante letrista da Bossa Nova, autor de melodias memoráveis e que, junto com Tom Jobim, compôs a eterna “Chega de Saudade”, música que consagraria a carreira de outro grande da música brasileira, João Gilberto, morto na última sexta-feira e ontem sepultado no Rio e Janeiro.
Nascido no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1913, batizado Marcos Vinicius da Cruz de Melo Moraes, ele morreu em 9 de julho de 1980, após sucessivas internações hospitalares, vitimado por um edema pulmonar. Em 1979, após voltar de uma viagem à Europa, Vinícius sofreu um derrame a bordo do avião. Desde então sua saúde ficou bastante debilitada. Morreu em casa, na companhia de sua última mulher, Gilda Queirós Mattoso, e de seu parceiro inseparável de música, Toquinho.
Além de músico, cantor, letrista excepcional, romântico inveterado, Vinícius era diplomata de carreira, atividade que exerceu durante 26 anos, de 1943 a 1968. Após todo esse tempo de serviços prestados ao Itamaraty, Vinícius foi aposentado pelo Ato Institucional 5, fato que o magoou profundamente. Na diplomacia, foi vice-cônsul do Brasil em Los Ângeles, EUA, atuou em Montevidéu e por duas vezes serviu ao seu país em Paris.
Suas parcerias com Tom Jobim, Pixinguinha, Baden Powell, Carlos Lyra, João Gilberto, Roberto Menescal, Chico Buarque, Francis Hime, Toquinho, renderam músicas de extraordinária beleza, muitas até hoje cantadas e lembradas por pessoas que sequer o viram vivo.
Nos anos 60, compôs os versos para canções como "Chega de Saudade", "Insensatez" e "Ela é Carioca", parcerias com Tom Jobim, "Samba em Prelúdio" e "Canto de Ossanha", com Baden Powell, e "Você e Eu", com Carlos Lyra, entre outros sucessos.
Vinícius foi um importante poeta da fase do Modernismo brasileiro. Como escritor lançou diversos livros de poemas: "O Caminho para a Distância" (1933), "Forma e Exegese" (1935), "Ariana, a Mulher" (1936), "Cinco Elegias" (1943), "Poemas, Sonetos e Baladas" (1946), "Para Viver um Grande Amor- Prosa e Poesia" (1965), e "Para uma menina com uma flor" (1966), em prosa.
Eterno apaixonado, teve uma vida boêmia, nunca dispensando a presença de uma mulher em sua vida, Vinícius casou-se mais duas vezes durante a década 1970. Uma delas foi em 1970, logo após ser demitido do Itamaraty, com a atriz baiana Gesse Gessy, levando-o a morar um bom tempo na Bahia, período em que construiu longa parceria com Toquinho, que iria continuar até o fim de sua vida. Com o parceiro, excursionava pelo Brasil e pela Europa.
Do seu espírito romântico como poeta, Vinícius nos deixou criações maravilhosas, como o “Soneto da Separação”, que escreveu em 1939, quando se encontrava em Estoril, em Portugal.
Soneto da Separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante