Foi em 25 de Outubro de 1927, há 95 anos, que se deu na costa do Brasil, no litoral da Bahia, uma das maiores tragédias da navegação atlântica do século XX, na qual morreram afogadas 314 pessoas. A tragédia aconteceu mais precisamente na região do arquipélago dos Abrolhos, com transatlântico italiano Principessa Mafalda, pertencente à companhia Navigazione Generale Italiana.
Entre os 314 mortos, grande parte italianos que ocupavam a Terceira Classe, provavelmente imigrantes com destino para o Brasil e a Argentina. O Principessa Mafalda levantou âncora em Gênova, em 11 de Outubro de 1927. Transportou 300 toneladas de carga, incluindo 600-700 malas postais. O navio também tinha 250.000 liras de ouro do governo italiano destinadas ao governo argentino. Este foi carregado a bordo por cinco guardas armados.
A empresa informou, logo após o acidente, que a lista de passageiros era composta por três passageiros da Primeira Classe, 10 da Segunda Classe e 9 da Terceira Classe para o Rio de Janeiro, sendo 6 da Primeira Classe, 4 da Segunda Classe e 48 da Terceira Classe para Santos, sendo dois da Primeira Classe , quatro da Segunda Classe e 48 da Terceira Classe com destino a Montevidéu e, finalmente, 41 passageiros da Primeira Classe, 55 da Segunda Classe e 711 da Terceira Classe com destino a Buenos Aires.
O luxuoso transatlântico, construído na primeira década do século XX, fez sua viagem inaugural em 1909. Moderno, luxuoso e rápido, era capaz de realizar a viagem entra a Itália e a Argentina em 14 dias. Seu trajeto usual era Gênova – Barcelona – Dakar - Rio de Janeiro – Montevidéu – Buenos Aires. Entre 1909 e 1927 já havia cumprido cerca de noventa travessias entre a Europa e América do Sul e, provavelmente, sua viagem de outubro de 1927 seria a última regular de sua história (ironicamente, foi fato a sua última viagem).
As famílias abastadas uruguaias, argentinas e brasileiras frequentemente iam para a Europa e voltam de lá a bordo do Principessa Mafalda. Além disso, conduzia centenas de imigrantes devido a sua grande capacidade de embarcação. Na sua derradeira viagem levava por volta de 1300 pessoas. Pouco mais de 60 na primeira classe, 80 na segunda, quase 1000 passageiros na terceira e cerca de 300 tripulantes. Em sua carga, a valiosa quantidade de 250 mil liras em ouro que o governo italiano estava enviando à Argentina. O que se sabe é que houve desespero, muitas pessoas relutaram em abandonar o navio e os botes salva vidas não estavam em boas condições. Além disso o pedido de socorro foi rápido e a ajuda também. O navio Alhena resgatou mais de 500 pessoas, o Empire Star, 180; o Formose, 200; o Mosella e o Rosett pouco mais de 20. Alguns barcos brasileiros também responderam ao chamado de ajuda, mas quando chegaram ao local do naufrágio já não havia mais quem resgatar.
O Principessa transportava gente de vários lugares do mundo, principalmente italianos, sírios e espanhóis. Também havia brasileiros, uruguaios, argentinos, iugoslavos, austríacos, húngaros e suíços. Quase 400 pessoas faleceram nessa tragédia e alguns dos sobreviventes acabaram passando pela Hospedaria de Imigrantes do Brás.
Em 31 de outubro de 1927 chegam na Hospedaria 42 sobreviventes do naufrágio. Em 1 de novembro, mais um. Eram 7 húngaros e 36 italianos. Famílias Yori, Rupolo, Petina, Silvino, Massassite, De Rossi, Strufaldi, Forner, Lovato, Panarotti, Puldeghinio, Da Tonia, Beck, Strobel, Piretto e Ban. Tanto indivíduos que vinham para o Brasil pela primeira vez quanto gente já acostumada com as viagens, que já tinham habitado São Paulo por algum tempo. Dentre tais pessoas, algumas crianças: Maria Rupolo, de 2 anos e meio; os irmãos Aldo Silvino, de 3 anos e meio e Marcella Silvino de 6 anos; as irmãs Octavia e Maria Petina, de 2 anos e 3 meses respectivamente; os irmãos Ginita (7 anos), Puscheira (6 anos), Rino (4 anos) e Danilo (2 anos) acompanhados da mãe Maria Forner; Augusto, de 3 anos; mais uma Maria e um Eurico, ambos com apenas um ano. Lembremos que quase trinta por cento dos sobreviventes que passaram pela Hospedaria eram crianças bem pequenas.