Foi no dia 05 de julho de 1996, decorridos hoje 23 anos, que nasceu a ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado a partir de uma célula somática adulta. Era, assim, a consolidação de um fenômeno inimaginável, resultado de um estudo científico ousado e revolucionário, que gerou uma cópia perfeita e felpuda de outra ovelha. Três mães contribuíram com seu nascimento. Uma forneceu o ovócito, a outra, os cromossomos que foram inseridos no núcleo desse ovócito. A terceira foi a responsável pela gestação. O ovócito é um óvulo imaturo, em um estágio prévio de desenvolvimento.
O feito revolucionário geraria muita polêmica nos meios científicos e acadêmicos, clocando-se como um desafio ético, embora, em teoria, nada de perigoso poderia haver na existência de um par de ovelhas idênticas. Mas não se pode dizer o mesmo de ser humano. Já pensou o que uma cópia fiel de você seria capaz de fazer em seu nome? Essa era a questão posta a partir do nascimento de Dolly.
Fazer um clone é tirar “metade” de DNA que vem de fábrica com o óvulo e substituí-la por uma carga genética completa. Se já está tudo ali, não há necessidade de um espermatozoide trazer a metade que faltava. Basta estímulo artificial para o óvulo se tornar um novo ser vivo. Ele é implantando no útero de uma “mãe de aluguel” e cresce normalmente.
A polêmica permaneceu no ar, sobretudo porque a clonagem é alvo de interesse científico, mas também de interesse econômico.
Sir Ian Wilmut, o cientista responsável pelo nascimento de Dolly, falou, ao jornal britânico The Guardian, que seria possível criar uma “Arca de Noé” genética, um banco de amostras de tecidos que poderiam ser usadas por cientistas no futuro, com técnicas mais avançadas que as disponíveis atualmente, para evitar a extinção de espécies ou traze-las de volta do mundo dos mortos — ao melhor estilo Jurassic Park.
No final de 2015, a China anunciou a construção do maior centro de clonagem animal do mundo, localizado na cidade de Tianjin, no norte do país. Animais domésticos, cavalos de corrida e gado bovino serão “produzidos” no local através da técnica. Foram investidos 31 milhões de dólares nas instalações, que poderão produzir até 10 mil embriões bovinos por ano. Uma forma inusitada de suprir as necessidades alimentares do país continental.
As reações a esses avanços decorrentes da clonagem da ovelha e suas aplicações em diversos outros casos, tiveram atitudes variadas desde então. Pesquisa mostrou que 63% dos americanos não consumiriam carne oriunda de animais clonados, e 90% defenderam que os legisladores levem em conta questões éticas na hora de regulamentar a clonagem.
Grupos de defesa dos direitos dos animais se opõe à prática. A produção de quantidades industriais de bichos idênticos facilitaria a objetificação dos seres vivos, e reforçaria a ideia de que são como máquinas a serviço do homem. A ineficiência do processo de clonagem pode ser degradante: em 1996, 277 embriões clonados foram implantados, e só Dolly sobreviveu. Ela morreu cedo, aos sete anos, em 14 de fevereiro de 2003, de uma doença pulmonar grave. A ovelha também sofria de artrite precoce, um entre os vários problemas a que animais clonados estão sujeitos.