Decorridos 46 anos de sua morte, ocorrida em 23 de Setembro de 1973, sabe-se hoje que Pablo Neruda não morreu de câncer de próstata, conforme constava de seu atestado de óbito fornecido pela polícia numa época em que o Chile, país de nascimento do poeta, vivia sob o rigor de uma sanguinária ditadura militar.
Em vida, o poeta chileno sofrera da doença, mas ela não teria causado a sua morte em 1973, durante a ditadura que se instalou no país após o golpe de Estado que colocou Augusto Pinochet no poder. Em julho de 2017,especialistas da Espanha, Estados Unidos, Dinamarca, Canadá, França e Chile compartilharam seus estudos e análises do caso em Santiago, após reiteradas pesquisas, e concluíram que Pablo Neruda não teve morte causada por câncer de próstata.
O corpo do Nobel da Literatura 1971 foi exumado em abril de 2013 e os exames e perícias médico-legais afastaram num primeiro momento a intervenção de terceiros na sua morte. Ainda assim, o juiz responsável pela investigação, Mario Carroza, manteve aberto o processo por considerar que os resultados não eram conclusivos e ordenou a realização de novos exames.
Em novembro de 2015, um documento oficial do Ministério do Interior do Governo do Chile reconheceu pela primeira vez que é bem possível que Pablo Neruda tenha sido assassinado. Segundo o documento, o poeta e Prêmio Nobel de Literatura de 1971 não morreu “em consequência do câncer de próstata de que padeceu”, mas é “claramente possível e altamente provável a intervenção de terceiros”.
Neruda morreu em 23 de setembro de 1973, um domingo, às 10 e meia da noite na Clínica Santa María, de Santiago, no Chile. Nesse dia, segundo “está comprovado no processo”, diz o documento oficial, aplicaram-lhe uma injeção ou o fizeram ingerir algo que teria precipitado a sua morte, seis horas e meia depois. Tudo isso, poucas horas antes de o Nobel partir em um avião rumo ao México, onde, como diz o texto do ministério, possivelmente iria liderar um Governo no exílio para denunciar a atuação do general Augusto Pinochet, que havia dado o golpe de Estado em 11 de setembro.
Quando pensamos em poetas latino-americanos, vem logo à memória o nome de Pablo Neruda. Sua obra conquistou e continua conquistando gerações, consagrando-o com o Prêmio Nobel de Literatura em 1973, dois anos antes de sua morte. Além de poeta exponencial, foi diplmata e político vervoroso, defensor intransigente da liberdade não apenas dos chilenos, mas de todos os povos, e teve duro enfrentamento ao regime de Pinochet, considerado um dos ditadores mais sanguinários da história. Neruda é autor de clássicos da literatura mundial, a exemplo de “Canto Geral” e “Confesso que Vivi”. Seu romantismo se expressa de forma abundante em muito de sua vasta e valiosa obra, como nesse trecho :
“ Dois amantes felizes não têm fim nem morte, nascem e morrem tanta vez enquanto vivem, são eternos como é a natureza.”