Foi nesta data, em 8 de Junho de 1949, há exatos 72 anos, que foi publicada pela primeira vez o livro “1984”, do escritor britânico George Orwell, que se transformou numa obra polêmica, rigorosamente premonitória, sendo, assim, absolutamente atual. Com o estilo sempre bem-humorado de Orwell, o livro é considerado uma distopia, tendo como cenário uma sociedade governada pelo regime totalitário do Partido, em que os fatos são distorcidos e impera censura e vigilância constante da população.
É essa visão de uma sociedade controlada que o livro transcorre na fina ironia do autor, um escritor essencialmente contrário ao totalitarismo e atento à extensão e profundidade das desigualdades sociais que já à época dominavam o mundo.
O que torna “1984” uma obra atualíssima é que todas as formas de vigilância e controle das pessoas descritas por ele há mais de sete décadas, estão presentes nos dias atuais, embora muitas vezes de forma velada, mas seguramente muito mais vistas, hoje, em razão do aparecimento e ampliação de novas tecnologias que permitem tornar esses controles mais efetivos e invasivos.
Acontecimentos mais recentes da política mundial, como o governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, com seu estilo truculento, com fortes fundamentos na extrema direita, fizeram “1984” voltar a ser consumido pelo público de forma vigorosa, tal a curiosidade que as descrições feitas no livro replicavam uma realidade que as pessoas estavam vivendo.
George Orwell, voltou figurar na lista dos mais vendidos nos Estados Unidos. O súbito impulso no interesse pela obra de 1949 ocorreu após uma declaração de Kellyanne Conway, assessora de imprensa do presidente Donald Trump. Conway definiu como “fatos alternativos” as declarações do porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, de que a posse de Trump teria tido o maior público da história. Fotos comparativas avaliadas por analistas apontaram que a cerimônia teve presença bem menor, na verdade. Mas os “fatos alternativos” citados pela assessora serviram para traçar um paralelo com a obra de Orwell. O termo, de acordo com o livro, descreve uma sociedade em que o governo controla estritamente a informação.
O livro é considerado uma distopia, tendo como cenário uma sociedade governada pelo regime totalitário do Partido, em que os fatos são distorcidos e impera censura e vigilância constante da população. E o controle da informação constitui elemento básico.
O Partido, liderado pelo Grande Irmão, vigia a rotina e as relações interpessoais. O principal instrumento usado são as “teletelas”, existentes em todas as casas, que se assemelham a uma “placa metálica retangular semelhante a um espelho fosco, embutido na parede”. Além disso, há microfones escondidos nas ruas e pequenos helicópteros (drones) que filmam dentro das casas.
Aqueles que não obedecem ao Partido são entregues à “Polícia do Pensamento”. A função desse departamento é justamente fiscalizar o comportamento, repreender e punir todos aqueles que pensam de forma independente e contrariando o Grande Irmão.
A reprodução de práticas descritas em “1984” podem ser apontadas em vários episódios de hoje. Um dos casos mais conhecidos aconteceu em 2013. O ex-técnico da CIA, Edward Snowden, na época com 29 anos, foi acusado de espionagem por vazar informações sigilosas dos Estados Unidos pois, ao fazer isso, revelou em detalhes alguns dos programas de vigilância para monitorar pessoas em vários países do mundo.
Para o controle de informações foram utilizados servidores de empresas como Google, Apple e Facebook. Snowden teve acesso às informações quando prestava serviços terceirizados para a Agência de Segurança Nacional (NSA), no Havaí. Por isso, precisou pedir asilo a outros países para evitar ser preso e julgado pelo vazamento de informações do governo dos Estados Unidos.