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Opinião: Documentário sobre Eliza Samúdio é admirável, mas tem falhas

A mídia usou Eliza e sua história como um mero instrumento para gerar entretenimento

O documentário “A Vítima Invisível: O Caso Eliza Samúdio”disponível na Netflix, oferece uma nova perspectiva sobre um dos casos mais trágicos da história criminal brasileira, onde a figura da vítima, muitas vezes excedida pelo estardalhaço midiático e pela figura do goleiro Bruno, finalmente ganha destaque.

Lançado na última quinta-feira (26), o filme se destaca por trazer à tona conversas inéditas do computador de Eliza, que revelam não apenas a profundidade de sua dor e desespero, mas também sua luta por amor e aceitação em um relacionamento tóxico e abusivo. Essas conversas ajudam o espectador a se colocar no lugar de Eliza.

As mensagens reveladas no documentário mostram uma menina apaixonada, nos fazendo pensar que, talvez, ela insistia tanto naquela relação por acreditar que, ao lado de Bruno, encontraria a felicidade que tanto queria.

Foto:Divulgação/Netflix

Contudo, essas conversas também expõem o lado sombrio desse relacionamento, revelando os temores e as angústias de uma mulher que se sentia perseguida e, ao mesmo tempo, desprezada. Esse retrato mais humano de Eliza é crucial, pois ela sempre foi tratada como um mero “brinquedo” na narrativa que girava em torno da carreira de Bruno, um dos goleiros mais renomados do Brasil na época.

A produção conta quem era Eliza pelo ponto de vista de amigos da infância e familiares, além de mostrar alguns momentos de sua vida antes do encontro fatal com o goleiro Bruno. Assim, o documentário faz um trabalho admirável ao humanizar Eliza, apresentando a jovem como uma mulher que, antes de se tornar a “vítima” do caso, carregava uma vida repleta de desafios e sonhos como qualquer outra pessoa.

No filme, podemos perceber a busca incessante da modelo por amor, a solidão e o desprezo que marcaram sua vida, chegando ao seu trágico desaparecimento e, depois, sua morte. Essa abordagem contrasta fortemente com a cobertura midiática da época, que frequentemente a desumanizava e a transformava em objeto de espetáculo.

Foto: Reprodução - Bruno teve um caso com Eliza

Essa colunista ainda expõe seu ponto de vista, ao deixar claro para vocês, leitores, que a mídia usou Eliza e sua história como um mero instrumento para gerar entretenimento.

Entretanto, apesar de suas qualidades, o documentário falha em oferecer um exame mais aprofundado da investigação policial e do julgamento que se seguiram ao desaparecimento de Eliza. Aspectos cruciais, como o encontro de uma mala com roupas de criança e fotografias do filho de Eliza, e a descoberta de DNAs em um dos carros de Bruno, são tratados de maneira superficial, deixando brechas que poderiam ter sido exploradas para esclarecer o desenrolar da tragédia.

O espectador é deixado com perguntas sem resposta, questionando a eficácia da investigação e a falta de um exame mais rigoroso dos principais suspeitos.

Foto:Reprodução-Bruno é acusado de ser o mandante do crime

Para quem é amante de documentários e histórias criminais, vai entender de qual superficialidade estou falando. Para quem não conhece o caso Eliza Samúdio e vai assistir ao documentário como um primeiro contato, consegue, sim, compreender a história, mas perde alguns detalhes essenciais que permitiriam um aprofundamento melhor.

Outro aspecto que merecia maior atenção é o histórico familiar de Eliza, especialmente sua relação com um pai violento e abusivo. Embora o documentário mencione o comportamento agressivo do pai, não aprofunda as repercussões que essa dinâmica familiar teve sobre a vida de Eliza.

Então, o que a Eliza passou de verdade enquanto morava com o pai? Será que a Eliza fugiu de casa realmente porque queria ir atrás dos seus sonhos, ou ela passava por alguma coisa dentro de casa que já não suportava mais, e por isso decidiu fugir?

Foto:Reprodução/Netflix

Compreender as raízes de sua busca por amor e validação poderia ter proporcionado uma visão ainda mais completa de sua vulnerabilidade e das razões que a levaram a se manter próxima de Bruno, mesmo diante de tantos abusos.

Além disso, a crítica à mídia é uma dimensão que também carece de exploração mais profunda. O documentário destaca como Eliza foi tratada como um “personagem” em uma novela trágica, mas não investiga adequadamente o papel da mídia em desumanizar sua experiência. O uso de sua imagem e de sua história para fins sensacionalistas, especialmente em programas de televisão que ignoravam sua dor, reflete uma falha ética que poderia ser abordada de maneira mais profunda pela Netflix.

Assim como o caso de Isabella Nardoni, onde a plataforma de streaming evidenciou bem a exploração midiática de uma tragédia.

O caso de Eliza Samúdio, por mais que a Netflix tenha trazido falas da advogada sobre a mídia não ter escutado a jovem da maneira correta, faltou mais — mais pontos de vista, mais análises de jornais e revistas da época, volto a repetir, assim como foi feito no caso de Isabella Nardoni.

Considerações finais

No geral, “A Vítima Invisível” é um documentário valioso que dá voz a Eliza Samúdio e também nos faz refletir sobre as injustiças que cercam seu caso e a cultura de silêncio que ainda permeia as histórias de muitas mulheres vítimas de violência. Embora falhe em alguns aspectos, a produção acerta ao devolver a Eliza a narrativa que sempre lhe foi negada, humanizando a jovem e convidando o espectador a questionar não apenas a culpa no papel do agressor, mas também da sociedade.

Essa reavaliação é fundamental, não apenas para a memória de Eliza, mas também para um futuro onde outras histórias não sejam silenciadas ou transformadas em mero entretenimento.

Por Luany Sousa

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As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.


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