As denúncias de assédio sexual que derrubaram o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, expuseram a conduta nada republicana do homem que, por quase quatro anos, esteve à frente de um dos maiores bancos do Brasil. “Era uma questão de tempo para a bomba estourar”, avalia a diretora financeira da APCEF-PI (Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal), Maria da Glória Araújo.
Um dos casos mais rumorosos foi o flagrante de relação sexual ocorrida dentro de um veículo locado para atender Guimarães em uma visita à Teresina, em 2019. Uma fonte da CEF informou que o caso se espalhou rapidamente porque o motorista da empresa teria comentado e Guimarães tentou forçar a demissão do funcionário da empresa privada, porém foi contido por integrantes do seu staff, convencendo-o de que, por tratar-se de empresa terceirizada, a interferência não poderia acontecer. O episódio, entretanto, gerou estresse na comitiva que o acompanhava.
Para a sua primeira visita ao Piauí, ocorrida em 26 de fevereiro de 2019, o recém-empossado presidente da Caixa fez uma série de exigências. Uma delas incluía um carro blindado. Para visitar a APCEF, equipes de segurança fizeram varreduras prévias na entidade, que fica localizada na avenida presidente Kennedy. O aparato chamou a atenção dos organizadores do evento.
Em 2020, Pedro Guimarães voltou ao Piauí. Ele esteve no município de Oeiras, depois de ir à Itapipoca (CE) com o objetivo de cumprir "agendas institucionais com o objetivo de entender as peculiaridades locais do banco, redirecionando tecnicamente as estratégias de atuação da Caixa, no que couber", segundo a instituição financeira. A visita apareceu, depois, em uma investigação do TCU (Tribunal de Contas da União) por ter sido a mais cara agenda O valor gasto nessa expedição ao nordeste foi de R$ 88,9 mil. De janeiro a setembro de 2019, Guimarães viajou 202 vezes pelo Brasil ao custo de R$ 2,75 milhões em passagens e diárias, segundo investigação do Ministério Público Federal.
Os relatos de assédio sexual na Caixa demoraram a aparecer. Para a diretora da APCEF-PI, os comentários entre os funcionários davam conta dos casos mas também do medo de retaliação que as empregadas enfrentavam. “As denúncias não chegavam nem mesmo à Comissão de Ética”, relata. A Associação e o Sindicato dos Bancários emitiram uma Nota de Repúdio e cobraram a saída de Guimarães que pediu demissão no início da noite, menos de 24 anos após a denúncia do site Metrópoles. “ Foi um alívio para a categoria” diz Araújo.
Assédio Sexual. Artigo 216-A do Código Penal — constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício do emprego, cargo ou função. Pena: detenção de 1(um) a 2 (dois) anos.