Aeronaves da Força Aérea Brasileira fizeram o transporte, neste domingo, de 1260 quilos de alimentos para comunidades da região de Surucucu, em Roraima (RR), devido às condições de calamidade decretada pelo Ministério da Saúde e ocasionada pela crise sanitária que atingiu às populações na Terra Indígena Yanomami.
A Base Aérea de Boa Vista é a mesma de onde, exatamente às 17:07h do dia 30 de dezembro de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) embarcou para os Estados Unidos, a dois dias de entregar a faixa ao seu sucessor, Luís Inácio Lula da Silva (PT) . Indiferente aos mais de 20 apelos de socorro para o povo yanomami, o ex-presidente fez uma "parada técnica" no estado, não por acaso, o que garantiu a ele o maior percentual de votos na eleição presidencial em que saiu derrotado: foram 69,5% dos votos, uma maioria em 14 dos 15 municípios do estado. Antes de embarcar, mandou um abraço para o eleitorado fiel e para o governador Antonio Denarium (PP), conta o secretário extraordinário de Relações Federativas, Deilson Bolsonaro (foto), última pessoa a falar com o ex-presidente que ainda hoje permanece na Florida.
Nas redes sociais, o secretário publicou à época que conversou com o então presidente, a quem chama de " meu mentor político" e relatou "continuamos 'a menina dos olhos' do Presidente, ele reconhece a lealdade do nosso povo", diz. O aluno tem razão ao falar da predileção do extremista por Roraima. Bolsonaro chegou a declarar "se eu fosse rei de Roraima, o estado teriao PIB igual ao de São Paulo, dado o potencial". A declaração foi feita no dia da filiação dele ao Partido Liberal, que lhe deu legenda para disputar, sem sucesso, a reeleição. No mesmo discurso, ele segue a linha de raciocínio que tornou conhecida desde que assumiu: o seu desapreço pela legislação ambiental que protege áreas ocupadas pelos povos originários na região amazônica. "As leis que foram feitas para proteger de, forma excessiva, a região, o que acabou prejudicando o estado. Como retornar isso aí, não é difícil."Estamos trabalhando para, no momento certo, apresentar projeto nesse sentido" afirmou aos correligionários, dentre eles o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto. Link do vídeo: https://youtu.be/vGBfPnBXp9Y
A situação de calamidade da área ocupada pelos yanomamis, e atestada pela Força Nacional do SUS, que atua no local desde a última segunda-feira, inclui doenças evitáveis, como diarreias, verminosos e a desnutrição profunda. Além da malária e da Covid19. Pelo menos 570 yanomamis morreram em quatro anos. A última morte foi de uma idosa da Comunidade Kataroa, que aparece nos registros da equipe de saúde e que foram divulgados no mundo. Lideranças indígenas pedem para que, em respeito à sua memória, as imagens não sejam mais compartilhadas. A cultura yanomami é rigorosa em relação a falecimentos. Após a morte, o nome não é mais pronunciado " queimamos todos os seus pertences, e não permitimos que fotografias permaneçam sendo divulgadas", pede Junior Hekurari,presidente do Conelho Distrital de Saúde Indígena.
A Roraima que é a queridinha de Bolsonaro não é a mesma onde vivem quase 30 mil indígenas da etnia Yanomami. Mesmo não sendo o monarca de RR, seu governo liberou áreas de garimpo. Em 2020, na pandemia de Covid-19, a atividade ilegal aumentou a degradação e a exposição dos indígenas à doenças e violência. A Polícia Federal interviu mas os garimpeiros retornavam. O relatório “Yanomami sob ataque!” da Hutukara Associação Yanomami foi um dos muitos que alertaram o governo federal. Além de trazer a relação direta entre a prática do garimpo e o aumento de malária "O desmatamento causado pelo garimpo e as piscinas de resíduos deixadas pela atividade alteram o ecossistema das regiões favorecendo o aumento do número de mosquitos" informa da Rede de Notícias Infoamazônia.
Roraima também aparece relacionada à Bolsonaro em outra situação recente, após a derrubada do sigilo do uso do cartão corporativo: em um único dia, 26/20/2021, o cartão foi usado para pagar a conta de R$ 109.266,00 no restaurante popular Sabor de Casa, no centro de Boa Vista. O restaurante oferece marmitas a R$ 17 e R$ 23. Naquele dia, Bolsonaro visitou áreas de garimpoilegal (foto) . Ou seja, na hipótese remota do dinheiro público ter sido usado para comprar 6,4 mil marmitas para distribuir entre pessoas carentes, ainda assim, nenhuma delas chegaria à Comunidade Kataroa.