(Francisco Clarin)
Nos últimos anos, o mercado de entretenimento tem sido tomado por uma avalanche de produções live-action, principalmente vindas de estúdios como Disney e grandes plataformas de streaming. Produções como O Rei Leão, A Pequena Sereia e Mulan ganharam suas versões "reais", trazendo nostalgia aos fãs, mas levantando uma questão fundamental: onde está a criatividade para criar algo verdadeiramente novo?
A estratégia de revisitar clássicos em live-action pode parecer, à primeira vista, uma forma de homenagear grandes sucessos. No entanto, essa tendência revela algo preocupante: o comodismo da indústria. Em vez de investir em roteiros originais ou explorar novas ideias, os estúdios optam pelo caminho seguro, explorando franquias já estabelecidas, muitas vezes não investindo em inovação e diversidade narrativa.
Uma aposta lucrativa, mas arriscada
Os números não mentem: as produções live-action têm garantido números significativos em bilheterias. O Rei Leão (2019) arrecadou mais de US$ 1,6 bilhão mundialmente, e A Pequena Sereia (2023) foi um sucesso em plataformas de streaming após sua estreia nos cinemas. Para os estúdios, essas adaptações são investimentos certeiros, uma vez que contam com uma base de fãs consolidada e forte apelo emocional.
Entretanto, essa busca por lucro tem gerado uma saturação de mercado. Em muitos casos, as novas versões não trazem nada de realmente significativo. Pelo contrário, perdem a magia e o encanto das animações originais, que se destacaram por sua inovação e impacto cultural na época de lançamento.
O que falta para a indústria?
O maior problema não é apenas a reciclagem de histórias, mas a falta de ousadia em criar novos universos. Onde estão os roteiros originais que inspiram uma nova geração? Grandes sucessos da história do cinema, como Star Wars ou Toy Story, nasceram de ideias inovadoras que moldaram a cultura pop. Hoje, vemos uma tendência de se apoiar exclusivamente em produções já existentes, com pouca ou nenhuma vontade de arriscar.
Além disso, essa repetição narrativa cria uma sensação de estagnação no público. Enquanto plataformas de streaming e estúdios lançam live-actions atrás de live-actions, a concorrência por atenção cresce e o cansaço dos espectadores também. Existe um limite para o apelo da nostalgia.
Exemplos como Soul (2020), da Pixar, e Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022), vencedora de sete Oscars, mostram que ainda há espaço para ideias originais que emocionam e engajam o público. Barbie (2023) foi um sucesso em bilheterias e bastante elogiado pela critíca. Apesar de ser um live-action, o filme caminhou por outros caminhos. Ao invés de repetir as mesmas narrativas presentes nos filmes de animação, a personagem passa a lidar com problemas do dia a dia. Patriarcado, machismo e assédio são destaques ao decorrer da longa-metragem, trazendo temas e diálogos mais maduros, assim acompanhando a geração que cresceu assistindo ao desenho. Essas produções provam que o público está ávido por histórias novas e impactantes, e que o risco criativo pode ser recompensador.
Embora a nostalgia seja um recurso poderoso, ela não pode ser a única base para a produção cinematográfica. O público merece mais do que remakes; merece narrativas que desafiem e deixem sua marca na cultura. Se os estúdios e plataformas continuarem apostando apenas em live-actions, correm o risco de se tornarem reféns de um ciclo repetitivo, esvaziando o impacto de seus próprios clássicos.