Cada segundo conta

Infâncias interrompidas: o que precisamos aprender com o AVC em crianças

Raquel Nunes enfrenta a dor de perder o seu filho, Vitor Luiz, de 9 anos, após um AVC. Agora, ela tenta se levantar para alertar mais pais sobre os riscos do problema na infância.

Imagem principal sobre energias renováveis no Brasil
Vitor Luiz foi acometido por um Acidente Vascular Cerebral aos 9 anos de idade e infelizmente, não resistiu. | Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Como viver sem o sorriso que irradiava pela casa? Como amenizar uma dor que parece infinita? A saudade sentida pela podóloga Raquel Nunes é imensurável. Há menos de dois meses, ela perdeu o amor da sua vida: Vitor Luiz, seu filho, um menino de 9 anos, repleto de sonhos e com uma infância plena em Penha, Santa Catarina. 

Vitor era goleiro do projeto Anjos do Futebol, no município catarinense. Sempre ativo, nunca apresentou qualquer sintoma de problemas neurológicos — até que passou mal na sexta-feira, 23 de maio, sendo levado ao Pronto Atendimento de Penha e, posteriormente, ao Hospital Pequeno Anjo, em Itajaí. Somente após uma tomografia veio o diagnóstico: Acidente Vascular Cerebral hemorrágico, decorrente de uma malformação arteriovenosa cerebral (MAV), uma condição em que vasos sanguíneos anormais se desenvolvem no cérebro.

Vitor era uma criança saudável, praticava esportes e nunca havia apresentado sintomas de problemas neurológicos (Foto: Arquivo Pessoal/@raquel.podologa)

O AVC do tipo hemorrágico, enfrentado pelo pequeno Vitor,  é o mais raro e grave, responsável por cerca de 15% dos casos gerais no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Esse tipo de AVC é causado pelo rompimento de um vaso cerebral, provocando uma hemorragia que pode ocorrer tanto no tecido cerebral quanto na superfície entre o cérebro e a meninge. Ele tem maior probabilidade de causar morte do que o AVC isquêmico.

Ao MeioNews, o neurologista Eduardo Borges explica que o AVC em pessoas mais jovens podem estar associados a doenças hematológicas e condições genéticas raras, como foi o caso de Vitor. 

“O AVC em jovens é estatisticamente mais raro e, geralmente, associado a doenças hematológicas, como as trombofilias, e a condições genéticas raras. (...) Além disso, fatores ambientais, como poluição do ar, altas temperaturas e estresse crônico, também têm influência.”

"ELE FALOU: 'MÃE, NÃO ESTOU SENTINDO MAIS NADA'"

O pesadelo vivenciado por Raquel Nunes e família iniciou-se num momento de lazer, relaxamento.. Entre risadas no sofá ao assistir um filme na tv, a podóloga foi tomada de surpresa pelo inesperado, por um terror que começou sem aviso prévio. 

Estávamos sentados vendo um filme. Ele olhou pra mim, deu um sorriso e disse: ‘Mãe, não estou sentindo mais nada’. Achei que fosse mais uma das brincadeiras dele, ele era muito palhaço... Mas, de repente, começou a se entortar e a berrar. Foi tudo muito rápido. Uma loucura.

Vitor era autista e mesmo com acompanhamento profissional, nunca havia realizado uma tomografia, pois não apresentou qualquer sintoma que indicasse um problema de saúde mais grave.

“Ele foi assistido por neurologista durante a vida, mas nunca teve nada que justificasse exames mais complexos”, explica a mãe.

Foi apenas no Hospital Pequeno Anjo para onde a família foi encaminhada às pressas após o episódio, que veio o diagnóstico de AVC decorrente de uma MAV – má formação arteriovenosa cerebral. Uma condição rara, silenciosa e letal.

O AVC QUE CALOU UM SORRISO

Após dois dias de internação e a morte cerebral constatada, a família enfrentou um processo longo e doloroso para confirmação do óbito e para a doação de órgãos - uma decisão que propagou o amor que Vitor transmitia a cada momento, deixando uma semente desse amor em outras crianças - que serão salvas e poderão 'florescer'.

“Muita gente estranhou a demora para sair o laudo, mas são vários protocolos. E como optamos pela doação, o tempo se estende ainda mais. O Vitor já não estava mais entre nós. Só o corpo permanecia ali, mantido por aparelhos”, relatou Raquel.

Raquel ficou com o filho até o último momento, hoje ela busca transformar o luto em luta, visando conscientizar os pais sobre o AVC em crianças e adolescentes (Foto: Arquivo Pessoal /@raquel.podologa)

159 CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM MENOS DE 15 ANOS MORRERAM DE AVC NO BRASIL

Levantamento inédito feito pelo MeioNews, com base nos dados do TabSUS, evidenciam que apesar de raro, o AVC em crianças e adolescentes têm vitimado dezenas de meninos e meninas no Brasil por ano. Em 2023 - base de dados mais recente disponibilizada pela plataforma do Ministério da Saúde, 159 crianças e adolescentes com menos de 15 anos morreram no Brasil vítimas de AVC. A maior parte dessas mortes ocorreu na região Nordeste (58), seguida do Sudeste (54), Norte (23), Sul (12) e Centro-Oeste (12).

Os números escancaram uma realidade pouco debatida: doenças cerebrovasculares também atingem a infância, embora diagnosticá-las seja um desafio. Muitas vezes, como no caso de Vitor, o primeiro sintoma já é o fim.

UM ALERTA ÀS FAMÍLIAS

As lembranças de Vitor no colo, dos primeiros passos, as primeiras palavras, os sorrisos, os sonhos, ficarão sempre na memória de Raquel. As lembranças não morrem jamais. Diante da dor da perda do filho, a podóloga faz questão de deixar um recado a outras mães: 

Fiquem em alerta, mas não se desesperem. (...) A gente só descobriu quando tudo aconteceu. Só conseguimos tratar quando temos sinais.

Em cada canto da casa, Raquel sente a dor da ausência de Vitor (Foto: Arquivo Pessoal/@raquel.podologa)

Serena e corajosa, a mãe enlutada e com feridas profundas compartilha sua dor para promover a conscientização. Afinal, pela 'lógica' do ciclo da vida, ela nunca imaginou enfrentar essa tristeza. 

“Estamos sofrendo. Só quem é mãe sabe. Mas quero seguir, contando a história do Vitor com verdade, para que outras vidas possam ser olhadas com mais atenção. Ele foi luz. E continuará sendo.”

Arthur, de 11 anos, sobrevive a AVC e família corre contra o tempo para cirurgia

A mais de 3,4 mil quilômetros de Penha, em Santa Catarina, outra família enfrenta a dura realidade de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) hemorrágico. Por trás do sorriso de Arthur Silveira, de 11 anos, esconde-se uma urgência que não dá trégua. Morador de Fortaleza (CE), o menino trava uma batalha silenciosa desde setembro do ano passado, quando sofreu um AVC hemorrágico provocado - assim como no caso de Vitor - por uma malformação arteriovenosa cerebral (MAV).

Arthur é uma criança ativa, cheia de energia, que praticava esportes e levava uma vida normal até sentir uma leve dor de cabeça. “Sentiu uma dor de cabeça de uma leve intensidade ano passado e teve esse AVC hemorrágico”, relembra a mãe, Juliana Teixeira. 

Foi um episódio muito, muito rápido. Foi tudo muito rápido.

Após ser prontamente atendido no Hospital do Coração, em Fortaleza, veio o diagnóstico: uma ligação anormal entre as artérias e as veias do cérebro. 

A artéria vai afinando, afinando o calibre e se torna uma veia. A dele não, é como se ligasse direto uma artéria numa veia. É como se fosse uma mangueira de jardim, uma mangueira de bombeiro. Se eu pegar a mangueira de bombeiro e colocar na mangueira de jardim, ela não vai aguentar a força, a pressão da água e vai romper. E foi no caso dele.

Família de Arthur Silveira corre contra o tempo para corrigir a MAV e evitar um novo AVC (Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução)

Apesar do susto, Arthur saiu da internação sem sequelas — um milagre, segundo a família. Mas a ameaça ainda ronda. A MAV continua lá, e a única chance de eliminar definitivamente o risco é por meio de uma cirurgia delicada em São Paulo. O procedimento, no entanto, só é realizado na rede particular. “Aqui em Fortaleza não tinha recursos suficientes para tratar essa malformação dele”, lamenta a mãe. O plano de saúde cobre a parte hospitalar, mas os honorários médicos — R$ 150 mil — precisam ser pagos à vista. E o tempo é inimigo. 

CAMPANHA DE ARRECADAÇÃO: A CORRIDA CONTRA O TEMPO

Sem conseguir reunir sozinhos o valor necessário, os pais de Arthur iniciaram uma vaquinha virtual. Amigos, familiares e até desconhecidos estão se mobilizando para ajudar. “A cada dia tem o risco de acontecer de novo”, diz Juliana, consciente de que só com a cirurgia será possível garantir o futuro do filho. “Ainda não tem data fixa. Até o dia da cirurgia tem que estar tudo pago.”

Em meio ao medo e à angústia, resta à família a fé e a esperança de que a solidariedade faça o que a burocracia e o sistema de saúde não conseguiram: salvar Arthur.

A vaquinha para ajudar Arthur a conseguir o valor necessário para cirurgia está disponível no link: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/arthur-silveira

AVC AOS 13 ANOS: “Eu estava jogando bola quando tudo mudou”

Aos 13 anos, Carolina Betoni Cavalli vivia uma infância comum, repleta de brincadeiras e energia. Até que, em uma fração de segundos, sua vida virou de cabeça para baixo. 

Eu estava jogando bola no quintal de casa quando senti uma forte dor de cabeça. De repente, caí. Não conseguia levantar… nem pedir socorro. Fiquei em pânico. Foi minha família que correu, me ergueu e me levou ao hospital. Eu ainda era muito nova — e nem imaginava o que era um AVC.

O susto foi apenas o início de um longo e desafiador caminho de recuperação, que Carolina percorreu com coragem, determinação e apoio. Hoje, sua história inspira pais e mães que têm filhos que sofreram um AVC. 

Carolina superou o AVC e hoje, usa sua história para alertar pais e responsáveis (Foto: Adilson Gomes e instagram @cavallicaroll_ , @fisio.carolcavalli)

"tinha vergonha que meus colegas me vissem como eu estava"

O pós-AVC foi repleto de barreiras — físicas, emocionais e sociais. Carolina precisou reaprender a andar, a falar, a se comunicar. Mas, acima de tudo, precisou lutar contra a insegurança que se instalou em sua mente jovem e ferida.

No começo, eu não andava. Tinha vergonha do que as pessoas iriam pensar. Mal conseguia me comunicar… e, por um tempo, não quis voltar para a escola, pois tinha vergonha que meus colegas me vissem como eu estava. Mas aos poucos, com apoio, força e fisioterapia, fui reconquistando minha confiança, meus passos… e meu lugar no mundo.

Acolhimento que transforma

Mesmo nos dias mais sombrios, Carolina encontrou na família e na escola um espaço de afeto e reconstrução. “Foi no abraço da minha família e no acolhimento da escola que encontrei a força para recomeçar — mesmo nos dias mais difíceis.”

Esse suporte, segundo ela, foi essencial para seguir acreditando na própria capacidade, mesmo diante das limitações impostas por um problema neurológico tão grave e repentino. 

"CADA PASSO, CADA CONQUISTA, CARREGA UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO"

Atualmente, Carolina é fisioterapeuta e representante do Conselho AVC do Rio Grande do Sul, mas sua trajetória até aqui foi feita de pequenas grandes vitórias. Ela lembra com brilho nos olhos do dia em que conseguiu andar sozinha novamente — uma cena simples para muitos, mas um marco para quem precisou reaprender a viver.

Um dos momentos mais marcantes da minha recuperação foi quando voltei a andar sozinha. Senti, pela primeira vez, o gosto da independência. Anos depois, conquistei algo que antes parecia impossível: me formei em Fisioterapia, me especializei em Geriatria… e ainda realizei o sonho de tirar minha carteira de habilitação. Cada passo, cada conquista, carrega uma história de superação.

Carolina Betoni Cavalli superou o AVC que sofreu aos 13 anos de idade e conseguiu se formar em fisioterapia (Foto: @cavallicaroll_ , @fisio.carolcavalli)

Uma mensagem para quem está recomeçando

Ao recordar tudo que enfrentou e as etapas do longo processo de recuperação, a jovem fisioterapeuta não esconde a emoção. E deixa um recado forte e sereno para outras crianças, adolescentes e famílias que enfrentam a realidade de um AVC precoce.

Que nunca desistam da vida, por mais difíceis que sejam os caminhos. Mesmo quando tudo parece parado, há sempre uma chance de recomeçar. Acredite nos seus sonhos, mesmo que eles pareçam distantes. Com fé, coragem e apoio, é possível transformar dor em força, e desafio em conquista.

 PAIS E MÃES: QUAIS SINAIS DE ATENÇÃO? busque um neuropediatra!

Ao contrário das ocorrências em adultos, cujas causas geralmente estão ligadas a hipertensão, obesidade ou tabagismo, o AVC em crianças e adolescentes está associado a fatores como anemia falciforme, malformações cardíacas, infecções como meningite, doenças autoimunes e distúrbios de coagulação. Em bebês recém-nascidos, o risco também é maior em casos de doenças genéticas ou problemas vasculares ainda não diagnosticados.

Nesse âmbito, vale destacar que os sinais da doença variam conforme a idade. Em crianças maiores, os sintomas incluem perda de força em um dos lados do corpo, dificuldade na fala, convulsões, dores de cabeça súbitas e confusão mental. Já em recém-nascidos, sinais mais sutis como irritabilidade, sucção fraca e diminuição de tônus muscular podem ser os únicos alertas. Em qualquer faixa etária, o socorro imediato é essencial. Cada segundo conta! 


O tratamento do AVC infantil foca em estabilizar funções vitais como pressão, oxigenação e glicemia, além de investigar e controlar os fatores que causaram o evento. O prognóstico é geralmente mais favorável em crianças, pois o cérebro infantil tem maior capacidade de criar novas conexões neuronais. Ainda assim, há risco de sequelas como dificuldade de locomoção e fala.

A prevenção é limitada, já que muitos casos ocorrem sem aviso - como ocorreu com o pequeno Vitor Luiz. Contudo, crianças com doenças como anemia falciforme devem ser monitoradas com exames como o Doppler Transcraniano. Em situações específicas, transfusões de sangue ou medicamentos anticoagulantes são indicados. 

Por isso, o alerta é claro: pais e responsáveis devem ficar atentos a qualquer alteração neurológica ou comportamental e buscar acompanhamento com um neuropediatra ao menor sinal de anormalidade. O diagnóstico precoce pode fazer toda a diferença entre a recuperação e as sequelas permanentes.

A família pode ajudar na identificação dos sintomas?

Como o tempo é essencial para garantir o sucesso do socorro na ocorrência de um AVC, o médico neurologista Carlos Daniel Miranda reitera qual o procedimento para o diagnóstico: 

“Deve-se suspeitar de um AVC sempre que uma pessoa desenvolve sintomas neurológicos súbitos, como fraqueza muscular, dormência, alteração da fala, dificuldade para se comunicar, falta de coordenação motora, alteração do equilíbrio e da marcha, alteração da visão, dor de cabeça súbita e intensa. Nestes casos, o paciente deve ser encaminhado imediatamente para um serviço médico para que sejam realizados, o mais rapidamente possível, a investigação com exames complementares (como a tomografia de crânio) e o tratamento”.

Nesse sentido, o também neurologista Eduardo Borges explica ao MeioNews que os familiares e pessoas próximas precisam ficar atentos na identificação dos sinais da doença. O conhecimento dos sintomas ajuda na busca pelo atendimento profissional.

O médico explicita que há um mnemônico conhecido para o AVC, o qual reproduziremos a seguir:

"O tempo é neurônio". Essa frase do médico Eduardo Borges exemplifica o quão é importante um atendimento célere. Assim, os pais de crianças e adolescentes, ao menor sinal de um problema neurológico, busquem imediatamente os serviços de saúde: 

Essa rápida identificação dos sintomas é crucial para que a avaliação e tratamento sejam realizados o mais breve possível, pois tempo é neurônio. Sabe-se que cada minuto perdido representa a morte de aproximadamente 2 milhões de neurônios, o que aumenta o risco de morte ou sequela grave. 

fisioterapia: como se dá a recuperação PÓS avc? 

Para crianças e adolescentes - assim como os pacientes em geral  que enfrentam comprometimento funcional devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC), a fisioterapia desempenha um papel essencial, muitos encontram nas técnicas fisioterapêuticas uma esperança concreta de recuperação. No caso dos mais jovens, a recuperação tende a ser ainda mais eficiente. Ou seja, dá para garantir uma infância plena e segura

“Os objetivos da fisioterapia na recuperação de uma pessoa que sofre qualquer sequela neuromotora por um acidente vascular encefálico são recuperar a funcionalidade dentro das possibilidades, permitindo que o paciente alcance independência nas atividades de vida diária (ABDs) e, idealmente, a recuperação completa da funcionalidade motora dos membros afetados”, explica o fisioterapeuta Hélio Siqueira.

Fatores determinantes no processo de recuperação

O tempo e o grau de recuperação variam conforme fatores como idade, gravidade da lesão e o período em que o paciente ficou sem realizar qualquer tipo de terapia. Nem todos conseguem reabilitação total, mas o objetivo é alcançar o mais próximo possível de uma vida normal.

“O tempo de recuperação deve considerar a idade, a gravidade da lesão e quanto tempo ele ficou sem realizar terapias funcionais e motoras. Esses fatores são diretamente proporcionais ao resultado alcançado, pois a gravidade da lesão neurológica compromete o número e a qualidade das funções que o paciente consegue executar”, complementa o fisioterapeuta.


Hélio Siqueira fala ao MeioNews sobre o papel da fisioterapia na recuperação de uma vida plena pós AVC (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal) 

A fisioterapia como um conjunto de ações

Hélio destaca que a fisioterapia neuromotora não se limita a uma técnica específica; ela é composta por um conjunto de abordagens para ajudar o paciente a recuperar movimentos e funções.

“O principal foco da fisioterapia é reduzir a rigidez muscular, quando presente, restaurar a amplitude dos movimentos, melhorar o controle de contração e relaxamento muscular, e desenvolver receptividade, equilíbrio, coordenação, força e agilidade nos movimentos”, detalha Siqueira.

Entre as técnicas utilizadas, o profissional menciona as estimulações proprioceptivas e as técnicas de facilitação neuromuscular. Além disso, a fisioterapia atua no controle da espasticidade e rigidez muscular por meio de cinesioterapia ou terapia manual. Essas abordagens buscam melhorar a agilidade muscular, quebrar a rigidez e garantir maior coordenação nos movimentos.

“Com essas técnicas, trabalhamos para que os movimentos tenham melhor coordenação e percepção, permitindo ao paciente realizar tarefas com os membros afetados de maneira mais funcional e eficiente”, conclui o fisioterapeuta.

Reaprender a se comunicar

A infância e adolescência são fases de descobrimento e a comunicação oral é essencial na evolução, seja nas relações sociais ou no ensino. É normal que pais fiquem apavorados quanto ao desenvolvimento dos filhos depois de um Acidente Vascular Cerebral, mas mesmo no caso de sequelas, é possível recuperar o que foi perdido - seja parcialmente ou na sua totalidade. Ao Meio News, a fonoaudióloga Denise Nascimento explica o trabalho realizado com pessoas acometidas por AVC.

“O tratamento fonoaudiológico é de suma importância para os pacientes que sofreram AVC justamente porque a Fonoaudiologia é a ciência que trabalha as múltiplas formas de comunicação. Além disso, atua em áreas correlatas, como a deglutição, auxiliando na redução dos quadros de disfagia”, esclarece.

A deglutição também pode ser afetada nos sobreviventes de Acidente Vascular Cerebral, e o profissional de fonoaudiologia auxilia no restabelecimento dessas funções, possibilitando que o paciente recupere certa independência.

“Ou seja, trabalhamos para restabelecer as funções cognitivas alteradas em decorrência do AVC, como a memória e a fala. Podemos, por exemplo, utilizar recursos de Comunicação Alternativa para ajudar na recuperação. O AVC comumente afeta a fala, a comunicação global, a deglutição e até mesmo a capacidade de compreender e expressar a linguagem. Por esses aspectos, a Fonoaudiologia torna-se imprescindível”, conclui Denise Nascimento.

Denise Nascimento detalha a importância da fonoaudiologia para pacientes que tiveram AVC


COMO SERÁ O AMANHÃ?

Raquel Nunes e o marido sonham com Vitor Luiz, sonhos recorrentes em que o pequeno goleiro os tranquiliza e narra um lugar bonito, feliz, mágico... É um alento para quem está reaprendendo a viver, quem está sobrevivendo após uma dor dilacerante.

Ela entende que haverão dias mais difíceis e outros em que a dor será mais contida, no entanto, tem a certeza de que nunca cessará totalmente. A 'nova vida' de Raquel é repleta de desafios, a mãe enlutada escolheu atuar na conscientização de pais sobre o AVC em crianças e adolescentes, é uma forma de manter a memória de Vitor 'viva'. Aliás, o jovem jogador sempre estará vivo, presente em cada emoção, no abraço dos amigos do futebol, na saudade incontida... 

Raquel ressignifica o 'amanhã', com a memória de garra, força e alegria que o seu 'anjinho' sempre resplandeceu.