Francy Teixeira - Enviado Especial do MeioNews | Paranatinga (MT)
Em uma terra onde o passado era de degradação, o presente agora é de solo coberto, palhada alta e um horizonte de diversificação. O Grupo JCN, um conglomerado familiar com 75 mil hectares distribuídos entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, tornou-se um exemplo de como a adesão a programas de sustentabilidade de impacto, como o REVERTE, pode acelerar uma transformação já em curso, agregando escala, capital e conhecimento técnico.
Fundado por Josué Corso Netto em 1980, o grupo é hoje uma operação de grande porte, com 50 mil hectares plantados (25 mil de soja, 10 mil de milho e 15 mil de algodão), além de uma pecuária com 8 mil cabeças de gado. Foi na sua propriedade em Paranatinga, no Norte do Mato Grosso, que o JCN deu um salto em sua jornada regenerativa: em 2023, iniciou a conversão de 9 mil hectares de áreas degradadas, viabilizada por um financiamento de R$ 120 milhões através do Programa REVERTE.
Solo é preparado para a produção de soja (Foto: Francy Teixeira/MeioNews) "Essas áreas tinham solo exposto e muita espécie invasora. O Reverte trouxe capital e conhecimento técnico para fazer essa virada", resume Jonas Oliveira, Gerente do REVERTE e de Projetos de Sustentabilidade da Syngenta.
A Estratégia da Integração: Solo Vivo e Produtividade em Alta
JCN usa tecnologia para ampliar a produção e proteger o ecossistema. Cada máquina é acompanhada em tempo real (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)
A aposta do JCN vai além da simples conversão de pasto em lavoura. O grupo abraçou a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) como um pilar de seu modelo de negócio. Na fazenda Reunidas, em Paranatinga, são 19,1 mil hectares de agricultura (sendo 3,2 mil irrigados), 2,3 mil para pecuária e expressivos 4,6 mil hectares dedicados ao sistema ILP.
Elson Aparecido Esteves, Diretor-Geral do Grupo JCN, explica a lógica por trás do sistema, que ele compara a um tratamento de saúde para o solo:
"O principal desafio do agricultor é manter esse solo saudável e adicionar matéria orgânica no sistema... a braquiária, o componente de planta de cobertura, é como se fosse uma vacina do solo. Então, quanto mais planta de cobertura, quanto mais pastoreio de gado, quanto mais adubação orgânica nesse solo, mais inserção de matéria orgânica teremos, e mais esse solo estará resiliente", afirma.
O processo de recuperação no Cerrado, segundo Esteves, é minucioso e exige investimento. Começa com uma pesada correção do solo: aplicação de 8 a 10 toneladas de calcário por hectare, gesso e fósforo. Em seguida, um ano é dedicado à formação de palhada com braquiária, que recebe o gado em um manejo cuidadoso.
"Fazendo uma conta simples: com cerca de 10 bois por hectare durante 90 dias, você consegue adicionar aproximadamente 80 a 100 unidades de nitrogênio, 50 de fósforo e de 80 a 105 de potássio puro. Assim, você enriquece o solo quimicamente, fisicamente e biologicamente", detalha o diretor.
Os resultados aparecem no bolso e na lavoura. Ele contrasta: uma soja plantada diretamente em área de pastagem degradada produz de 20 a 40 sacas por hectare. Já numa área que passou pelo processo de recuperação com ILP, os rendimentos saltam para 70 a 80 sacas por hectare – um incremento que pode chegar a 30 sacas.
Jonas Oliveira, da Syngenta, atesta a eficácia: "A soja se beneficia do nitrogênio deixado pelo capim, e a pastagem, depois, cresce mais vigorosa. A última amostragem de solo mostrou que 60% da área já está classificada como saudável e outros 40% em recuperação".
Tecnologia de Ponta e Recuperação de Nascentes
O compromisso do JCN com a produção inteligente é anterior ao REVERTE. O grupo é cliente da Syngenta Digital desde 2019, que hoje monitora mais de 22 mil hectares de suas culturas (soja, algodão, milho, sorgo, milheto e braquiária) através de ferramentas como Cropwise Protector, NemaDigital e Perfect Flight.
Produção de mudas nativas para recuperação de nascentes (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)Mas a visão de sustentabilidade do grupo extrapola a porteira. Há 12 anos, o JCN mantém um viveiro próprio que produz 35 mil mudas de espécies nativas por ano, como jatobá, pequi e aroeira. O objetivo é claro: recuperar e proteger as 46 nascentes identificadas dentro da propriedade.
"Nós começamos esse trabalho há uns 12 anos, e as nascentes que estavam mais degradadas já estão bem recuperadas. As nascentes de água tiveram aumento de volume, que é justamente o objetivo — aumentar o volume de água nas nascentes", relata Elson Esteves.
Ele descreve um cuidado quase artesanal na coleta de sementes: "Temos um rapaz em Lucas que coordena o viveiro. Ele sai no meio da roça catando sementes para fazer o material original, o autêntico. Hoje ele tem cerca de 50 variedades de mudas".
Sustentabilidade com Viabilidade Econômica
Diretor-geral do Grupo JCN, Elson Esteves, fala ao Meio News sobre o projeto de recuperação de áreas degradadas (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)
Para o diretor-geral, a lição é clara: a regeneração é um investimento, não um custo. Sem financiamento, um produtor tende a optar pelo caminho mais curto e arriscado, plantando soja diretamente na área degradada, com baixa correção do solo, e colhendo pouco.
"Para fazer isso, é preciso investimento... Mas, se ele faz dois anos de reserva com o gado, com esterco e práticas regenerativas, a possibilidade de colher 30 ou 40 sacas a mais é muito maior", argumenta Esteves.
O caso do Grupo JCN ilustra à perfeição a tese central do REVERTE e de seus idealizadores: a sustentabilidade, para ser adotada em larga escala, precisa fazer sentido econômico para o produtor. Não se trata de um altruísmo vago, mas de uma estratégia inteligente de negócio que recupera o capital natural – o solo – e o transforma no principal ativo para a prosperidade de longo prazo.
Na vastidão dos 90 mil hectares do grupo, a cada muda plantada às margens de uma nascente, a cada hectare de braquiária que sustenta o gado e prepara a terra para a soja, o JCN constrói, na prática, a prova de que o agro brasileiro já encontrou o caminho para ser, de fato, uma potência alimentar e ambiental.
O repórter viajou ao Mato Grosso à convite da Syngenta e Itaú BBA