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Exercícios físicos e libido: como o treino pode influenciar o desejo sexual

Entenda de que forma diferentes tipos de exercícios influenciam o desejo sexual e por que a musculação pode trazer mais benefícios, desde que sua intensidade seja adequada

A relação entre a prática de atividades físicas e a libido tem sido amplamente discutida em vídeos virais nas redes sociais. Após uma consulta com especialistas realizada pelo portal g1, para entender de que forma diferentes tipos de exercícios influenciam o desejo sexual e por que a musculação pode trazer mais benefícios, desde que sua intensidade seja adequada.

Influência da musculação e da corrida na função sexual

A presidente da Comissão Nacional Especializada de Sexologia da Febrasgo, Fabiene Bernardes Castro Vale, explica que tanto a corrida quanto a musculação proporcionam impactos positivos para a função sexual, mas de maneiras distintas.

Enquanto a musculação afeta diretamente os níveis de testosterona e a libido, a corrida, assim como outros exercícios aeróbicos, melhora a circulação sanguínea, reduz o estresse e favorece a liberação de endorfinas, o que pode estimular o desejo sexual.

Por outro lado, práticas de alta intensidade, como o crossfit, quando realizadas em excesso, podem reduzir a libido. Até mesmo corredores profissionais, submetidos a treinos rigorosos, podem experimentar efeitos negativos. O equilíbrio entre treinamento, recuperação e alimentação é essencial para evitar esses impactos.

Musculação e a regulação hormonal

A prática de musculação contribui para a saúde sexual ao equilibrar hormônios, aumentar a condição física e influenciar positivamente a autoestima.

A redução dos níveis de cortisol, hormônio relacionado ao estresse, é um dos fatores que explicam esse benefício, já que o cortisol elevado pode inibir a produção de hormônios sexuais.

“A musculação tem um impacto direto nos hormônios sexuais, aumentando os níveis de testosterona e diminuindo o cortisol, o que pode potencializar a libido”, afirma Vale.

 Testosterona e libido

Durante o treino, o cérebro envia sinais para estimular a produção de testosterona. O hipotálamo libera um hormônio que ativa a glândula pituitária, levando os testículos a sintetizarem mais testosterona. Esse hormônio é fundamental para a libido, a energia e o desenvolvimento muscular.

“Após o exercício, os níveis de testosterona aumentam temporariamente, o que favorece o crescimento muscular e pode melhorar a libido. Esse processo é mais pronunciado nos homens, já que eles produzem mais testosterona do que as mulheres”, explica o urologista Daniel Cernach Ayres, do hospital Vila Nova Star.

A endocrinologista Deborah Beranger acrescenta que a musculação fortalece o assoalho pélvico, beneficiando a ereção e auxiliando na prevenção da ejaculação precoce. Além disso, a melhora da autoestima e da percepção corporal impacta positivamente a satisfação sexual em mulheres que praticam a atividade regularmente.

O estudo "Physical Activity and Female Sexual Dysfunction" (2021) indica que mulheres adeptas da musculação apresentam melhor desejo sexual e menor incidência de disfunções sexuais, devido à influência da testosterona e ao fortalecimento da autoimagem.

Benefícios e limitações da corrida

A prática de corrida e outros exercícios aeróbicos pode favorecer a libido por meio do aumento da circulação sanguínea, da redução do estresse e da produção de endorfinas. No entanto, treinos em excesso podem ter o efeito oposto.

“Exercícios aeróbicos melhoram a circulação, aumentando o suprimento de sangue para os órgãos genitais, o que favorece a excitação sexual. E a prática da corrida libera neurotransmissores, como endorfinas e dopamina, que promovem bem-estar, reduzindo o estresse e a ansiedade, fatores que podem interferir no desejo sexual”, explica Vale.

Além disso, o exercício aeróbico melhora a sensibilidade à insulina, o que contribui para o equilíbrio da produção hormonal.

Um estudo realizado em 2020, com mais de mil corredores, identificou que homens que treinam para maratonas possuem uma libido 20% menor em comparação a outros praticantes da corrida. A pesquisa sugere que essa redução pode estar associada à Síndrome de Deficiência Energética Relativa no Esporte (RED-S), que afeta a função hormonal e reprodutiva.

 Treinos de alta intensidade e seus efeitos

Exercícios extenuantes, como o crossfit, podem levar à queda na libido quando praticados de forma excessiva. O estudo "Physical Activity and Female Sexual Dysfunction" (2021) indica que treinos muito intensos elevam o cortisol, o que inibe a produção de testosterona e pode resultar em fadiga e redução do desejo sexual.

A ausência de períodos adequados de recuperação pode comprometer o sistema endócrino, gerando desequilíbrios hormonais e fadiga. Além disso, a ingestão calórica insuficiente interfere na produção hormonal.

O overtraining, ou excesso de treinamento, pode desencadear inflamações no organismo, afetando a função hormonal e levando a quadros de estresse físico e desequilíbrio energético, o que impacta negativamente o desejo sexual e a função erétil em homens. Atletas de modalidades como corrida, ciclismo e triatlo costumam estar mais sujeitos a esse fenômeno.

Manter um equilíbrio entre treino, repouso e alimentação é essencial para evitar esses problemas.

Como identificar o limite adequado do exercício?

Cada indivíduo possui um limite específico para que a prática esportiva não reduza os níveis de testosterona e comprometa a vida sexual. Vale destaca que monitorar alguns fatores pode ajudar a manter esse equilíbrio:

Frequência cardíaca: pesquisas apontam que a zona de treinamento mais benéfica para a função hormonal e a libido está entre 50% e 70% da frequência cardíaca máxima (FCmax). Manter-se acima desse patamar por períodos prolongados pode levar ao aumento do cortisol e à fadiga.

Duração do treino: a revisão sistemática "A Systematic Review on the Relationship Between Physical Activity and Sexual Function in Adults" (2023) indica que até seis horas semanais de exercícios trazem benefícios, enquanto volumes superiores podem gerar impactos negativos.

Sinais do corpo: sintomas como fadiga excessiva, insônia, diminuição da libido e dificuldade na recuperação muscular podem ser indícios de que a intensidade do treino está acima do ideal.

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