O Brasileiro anda muito ocupado, e o pouco tempo livre que lhe resta,está sendo preenchido na rede mundial de computadores, a Internet. Segundo dados do Ibope Media, somos 94,2 milhões de internautas, sendo o Brasil o 5º país mais conectado. As informações foram obtidas em dezembro de 2012.
Mas o assunto que quero abordar aqui, não é exatamente a Internet, mas sim o hábito da leitura, um ato tão necessário e que tem sido trocado pela instantaneidade das redes sociais e o poder da troca de informações e conteúdos que a grande teia permite.
Ano passado a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, divulgou um resultado que aponta que o brasileiro lê em média 4 livros por ano, e apenas a metade da população pode ser considerada leitora. A mesma pesquisa realizada em 2007 revelou que o hábito de leitura da população brasileira, fora do que é solicitado pela escola, era de 1,3 livros. Número baixo se comparado com países como a França que em 2006, a média foi de 7 livros.
Por que o brasileiro lê pouco? A resposta desta pergunta pode está em cada brasileiro, disperso pelas regiões do país, na escola, na política pública e mais presente ainda nos lares, onde muitos não tiveram a oportunidade do pai pegar um livro e ler em suas presenças. Muitos pais não tiveram acesso à escola, e com isso o exemplo prático não acontece, enquanto isso as crianças sem um exemplo prático, limitam-se a leitura apenas de livros didáticos exigidos ou adotados pelas escolas.
Nossas bibliotecas escolares (Públicas), mas precisamente aquelas dos interiores brasileiros, não dispõem de acervo adequado a idade do aluno, faltando ainda, um bibliotecário que tenha amplo conhecimento em literatura para promover o gosto pela leitura, bem como a inexistência das mesmas para ocupar a cabeça dos estudantes.
De acordo com a Lei 12.244, o Brasil precisa construir 130 bibliotecas até 2020, estabelecendo a existência de um acervo de pelo menos um livro por aluno em cada instituição de ensino no País, tanto em redes públicas como privadas. Hoje, na rede pública, apenas 27,5% das escolas têm biblioteca.
Exemplificando, o Estado do Piauí, das 6.111 escolas, 5.278 não possuem bibliotecas. Ou seja, 86,37%, estão na carência. Para adequar a Lei 12.244, o Estado precisava construir 1,6 bibliotecas por dia. (Estadão)
Desinformação
Muitos municípios brasileiros desconhecem parâmetros que permitem a organização e criação de bibliotecas ou aquisição de acervos. Em algumas escolas o espaço que seria destinado a bibliotecas, funciona laboratórios de informática. E este às vezes torna permissivo o acesso de conteúdos que fogem do conceito pedagógico da escola ou dos objetivos imputados ao recinto. Mesmo havendo orientadores, muitos destes laboratórios se tornam uma espécie de lan house dentro da escola, onde o uso que deveria ser para o rendimento do aluno, acaba sendo prejudicial, quando muitos deles chegam a matar aulas para ficarem plugados na rede.
Outro fator que repreende o desenvolvimento da leitura é a pouca ou nenhuma destinação de verba pública por parte dos municípios brasileiros a aquisição de livros e produção de eventos que norteiem o interesse dos jovens a lerem e a terem contato com a arte literária. Estes jovens crescem e vão prestar vestibulares ou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), e se deparam com temas da literatura brasileira, o que deveria ser favorável, torna se um bicho papão, por desconhecerem tais obras genuinamente nacionais.
Virar a página
O Plano Nacional de Cultura (PNC), desenvolvido pelo Ministério da Cultura, lançado em junho de 2012, contempla 53 metas direcionadas ao desenvolvimento da cultura de forma abrangente. Em sua meta numero 20, estipula o aumento para 4 a média de livros que os brasileiros leem por ano fora da escola. Com isto a capacidade intelectual seria ampliada e a tomada de decisões e opiniões sobre diferentes assuntos, ganhariam contorno, ou seja, teríamos cidadãos mais críticos.
Para que de fato aconteça a emancipação da leitura e a mesma seja acessível a todos, o PNC sugere que ações como a criação de bibliotecas em todas as cidades, com equipamentos, acervo e funcionários suficientes para mantê-las em funcionamento; capacitar pessoas para que atuem na democratização do acesso ao livro e formação de leitores, por meio de visitas domiciliares, empréstimos de livros, rodas de leitura, contação de histórias, criação de clubes de leitura e saraus literários; e ainda o apoio a novos espaços de leitura, tais como salas de leitura, bibliotecas circulantes, bibliotecas comunitárias, acervos em hospitais e associações comunitárias.
As ações estão sendo cumpridas? Sim, não em toda a estrutura do país, mas em partes, algumas atividades importantes veem sendo desenvolvidas. Por exemplo, o Prêmio Viva a Leitura, realizado em 2012, o Projeto de Mediação da Leitura, que visa à produção de trabalhos desenvolvidos por bibliotecas, escolas públicas e privadas, sociedade civil, ONGs, empresas, universidades e faculdades. Foram avaliados 2.038 projetos, dos quais 45 foram escolhidos pela Fundação Biblioteca Nacional. Destes, 18 serão premiados agora no início de 2013.
Outras ações pertinentes ao desenvolvimento da leitura e ou produção cultural, estão sendo desenvolvidas em escolas, teatros e praças públicas. Mas nem sempre estas manifestações ganham destaque, pois a iniciativa ainda é pouco aceita, e os que aderem, não possuem estrutura ou condição financeira para tocar projetos.
O que falta para que os brasis se entendam, desenvolvam e ganhem notoriedade importante, às vezes é falta de políticas acertadas no setor cultural. Cultura existe e as pessoas a produzem todos os dias, faltando lhes incentivos por parte daqueles que os assistem, ou deveriam assistir. Não adianta a escola lá no interior do Nordeste ter um trabalho bacana, louvável, mas ficar apenas nos arredores, sem expandir, sem engajar. Trabalhos que dão certo e são motivadores, precisam alavancar e ganhar destaque. Quem desenvolve uma atividade seja ela um artesanato, uma peça teatral, um musical, uma roda de leitura semanal na escola, enfim, merece ser visto e apoiado.
Quem deve tomar iniciativas? A própria sociedade civil imbuída de seus conceitos coletivos, deve levar ao conhecimento dos gestores de suas cidades projetos que almejem manter vivos em suas comunidades, bairros, escolas, e etc. Talvez um prefeito deva deixar de comprar um carro luxuoso, e investir na criação de escolas, bibliotecas, na compra de livros e na preparação de professores. A sociedade não tem apenas que ficar criticando o mau feito, o feio ou descaso, elas devem evitar primeiro que isso aconteça.
Parada da leitura
Em Brasília na zona central da cidade, mas especificamente nas asas sul e norte, todas as paradas de ônibus dispõem de estantes de livros para os passageiros que aguardam o transporte coletivo lerem. É uma iniciativa interessante mantida por uma ONG chamada Açougue Cultural T-Bone, que distribui mais de 24 mil exemplares, alocando em média, mil livros por dia nas paradas de ônibus, que ficaram conhecidas como Estações Culturais.
Ações como estas, dizem muito a favor da cultura e do desenvolvimento do senso crítico que o brasileiro precisa ter. O país está crescendo economicamente, diz investir muito na educação, mas ainda falta preparar os jovens para que não sejam somente humanos mimados e moldados por uma política de vícios que ofusca a forma de pensar e decidir. Os jovens precisam de mais incentivos para alma - a da criatividade, sem pieguice ou preguiça, é preciso produzir e para isso, a leitura ainda continua sendo a melhor saída.
Parada de ônibus com livros em Brasília
As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.