Eles são sucesso. Isso é fato. Não dá para negar que são muitos espectadores e telespectadores pelo mundo que se ligam nesse tipo de programa.
Os programas voltados para a vida real como são denominados os reality shows estão a cada dia mais atraindo um público que não se cansa em acompanhar cada passo de quem está do outro lado da tela.
No Brasil, o primeiro Reality Show a ser exibido na televisão foi o No Limite, em 2000. E já tem nova versão chegando ai em maio. Nem é preciso dizer que muitas serão as pessoas que irão acompanhar essa nova proposta do programa.
De lá para cá, desde 2000 já foram muitos reality shows na TV brasileira, sem falar mundo afora.
Outro campeão de sucesso é o Big Brother Brasil (BBB), da Rede Globo. Todos os anos, é uma infinidade de pessoas atentas a cada passo dos participantes.
O índice de engajamento das torcidas nas redes sociais e os altos níveis de audiência, dignos de jogo de Copa do Mundo, tornaram o programa um fenômeno.
De acordo com a professora do Centro de Ciências e Tecnologia (CCT) da UPM, campus Campinas, Mariana Munis, especialista na área de Marketing, além do entretenimento, o reality show, assim como um produto e serviço, é lançado para satisfazer necessidades e desejos de seu público-alvo e de seus parceiros de negócio envolvidos com o programa.
Munis destaca que o BBB passou por uma mudança de 2019 para 2020. Desde então, o programa bateu recorde de audiência e arrecadação. No ano passado, o programa foi visto por 37 milhões de pessoas por dia e a emissora faturou bem menos com anunciantes fixos, que totalizou R$ 304 milhões. Para esse ano, o reality pretende arrecadar mais de meio bilhão de reais, conseguindo vender, antecipadamente, cotas de anúncios para empresas. Antes mesmo do BBB21 começar, a Globo já havia arrecadado R$ 470 milhões, com projeção de um faturamento total de R$ 520 milhões.
A professora destaca alguns pontos que justificam a utilização de ferramentas de neurociência durante a exibição do programa e que tornam os realities tão queridos pelos brasileiros. Confira:
Escolha do elenco:
Cada participante é escolhido com base em um arquétipo diferente. O psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung descobriu que existem 12 arquétipos de personalidade que se repetem em todas as culturas. As marcas utilizam esses personagens para compor sua personalidade: o fora da lei, o inocente, o cara comum, o amante/apaixonado, o governante, o bobo da corte, o herói, o mago, o sábio, o explorador, o prestativo e o criador. No momento de escolher o elenco, a Globo avalia a personalidade das pessoas. Além do mais, por serem pessoas com vivências diferentes, os desentendimentos virão mais facilmente.
Boas histórias
De acordo com Mariana Munis, apontando o BBB como exemplo, a Globo narra e edita os acontecimentos, contando-os como boas histórias. Com alguns personagens, pode até utilizar a jornada do herói, técnica de produção de narrativas.
"Percebemos a jornada do herói sendo contada pela participante Juliette, por exemplo: primeiro, a participante do grupo pipoca recebe um chamado para entrar na casa. Ela ganha o favoritismo do público para ficar imune na primeira semana, começa a fazer piadinhas e se afobar e começa a desagradar o público. Depois de um tempo, ela se encontra dentro da casa e se transforma, mostrando-se muito mais forte e contando a história de suas origens. Muitos brasileiros se identificam com a sua garra, com sua origem e até onde chegou", assinala ela.
Munis ainda complementa que Juliette pode não ter feito isso de propósito, mas conseguiu traçar a jornada do herói em sua trajetória ao longo do BBB.
Boas narrativas, com começo, meio e fim:
A professora explica que o cérebro ama histórias que tenham alguma conclusão e ressalta que o programa sempre faz de tudo para dar continuidade a essa história semanalmente. "Como o BBB dura um pouco mais de três meses, as pessoas se apegam e querem ver até onde o reality show vai. Além do mais, a cada prova, a cada paredão, há uma surpresa diferente", reforça.
A especialista explica que o BBB trabalha com histórias empolgantes, utilizando algumas técnicas de neuromarketing e tudo é feito para gerar narrativa: desde as provas do líder, anjo, jogo da discórdia, até mesmo na escolha de seu elenco, ao misturar os grupos pipoca (anônimos) e camarote (famosos). Quanto maior a diversidade entre os brothers, maiores são as polêmicas e discussões e, portanto, mais narrativas são geradas.
"Com isso, o programa consegue gerar assunto aos diversos meios de comunicação, além de trazer marcas interessantes para patrociná-lo", conclui.