Beijos e abraços, lágrimas e sorrisos, promessas e pedidos ? tudo isso ficou do lado de fora, no Brasil, no saguão do aeroporto. Agora, dentro do avião, dez mil pés de altura, estão Helena e Luciana, madrasta e enteada, companheiras de trabalho e rivais, próximas e sozinhas como nunca antes haviam estado. À frente delas, apenas o desejo de cruzar a passarela em Petra, brilhar naquele cenário deslumbrante, de sonho.
Obviamente, há um desconforto entre as duas ? normal até. O que dizer depois de tanto que já se disse, de tanto que se desperdiçou em acusações e briguinhas vazias? Olhos fechados, as duas optam pelo silêncio. Mas será que vão permanecer assim pelas próximas dez horas do voo? Pelo período quer durar a viagem? Semanas? Talvez. Isso é, se nenhuma delas quebrar o gelo antes.
As margaridinhas de Jorge servem exatamente a esse propósito.
Sem ter o que fazer ou para ocupar as mãos ou intencionalmente mesmo, Luciana começa a despetalar as flores, uma a uma. ?Bem-me-quer, mal-me-quer...?, diz baixinho. O gesto chama a atenção de Helena. Aí, Luciana estende para ela uma flor e Helena repete o mesmo gesto, solidária. Já sorriem uma pra outra. A viagem segue e as duas, como numa oração, quase que entregando seus destinos a essa ingênua brincadeira de criança, vão em busca do mesmo sonho.
Vão viver a vida.
Já não há mais rivalidade. Lado a lado, agora, há apenas duas velhas e grandes amigas.