Até os 21 anos de idade, Adolf Mendes sofreu pouco com reações de desconhecidos ao seu nome completo: Adolf Hitler Souza Mendes. Mas, desde terça-feira (13), ele afirma que vem sofrendo ofensas de desconhecidos pela internet. O problema começou quando a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) divulgou, em seu site oficial, a lista de candidatos aprovados para a segunda fase do vestibular 2012 para ciências e tecnologias.
Vítima tanto da decisão unilateral do pai quanto da ordem alfabética, Adolf teve seu nome facilmente notado pelos internautas. Ele era o terceiro na lista de mais de 1.500 candidatos que fizeram o número mínimo de pontos na prova objetiva e, agora, aguardam a nota da redação e das questões discursivas.
O link da lista de aprovação tem sido compartilhado no Facebook e no Twitter dezenas de vezes, regado de risadas e comentários sobre os pais do garoto e o fato de ele estar colocado na 1.330ª posição.
"Tem bastante gente criticando, outras fazendo chacota, me chamando de burro, chamando meus pais de burros", afirmou Adolf.
Acostumado ao susto como primeira reação natural das pessoas ao seu nome, o jovem conta que não se incomoda em ter que explicar que não sabe o motivo do nome e que não descende de uma família de admiradores do Hitler da Alemanha.
Porém, a repercussão na internet tem sido tão negativa que a família materna decidiu procurar um advogado para mudar o nome legal de Adolf.
"Me preocupei a vida inteira por isso, sabia que um dia isso ia acontecer", disse a socióloga Maria do Perpétuo Socorro de Almeida, prima de segundo grau do garoto.
"São comentários terríveis que saem, a gente está assombrado. Não queremos publicidade, só queremos reverter a história para as pessoas entenderem que a família não é nazista. A gente não tem nada com isso, foi um erro."
Contra a vontade da mãe
Registrado pelo pai, que se separou da mãe quando Adolf era pequeno, o vestibulando afirmou que nunca descobriu o motivo exato para se chamar assim. "Só tive contato com ele até os cinco ou seis anos. Meu pai registrou contra a vontade da minha mãe, ela não queria que esse fosse meu nome."
Ainda bebê, Adolf foi levado à Igreja Católica para receber o sacramento do batismo. "Eles não aceitaram me batizar como Adolf Hitler", disse o garoto, que acabou saindo de lá com nome de batismo Adolf Henrique.
Ao atingir a maioridade, há três anos, o estudante, que vive em Natal, decidiu tentar adotar legalmente o nome católico, mas acabou não seguindo em frente porque estudava e trabalhava, e ficou sem tempo. Apesar da tentativa, Adolf afirma que não se importou tanto com o nome durante a infância e a adolescência, já que ele recebia pouca atenção.
"Quando eu era pequeno, morava em uma cidadezinha no interior, e lá pouca gente conhece a história de Hitler", contou.
Agora, com chances de se tornar universitário, ele teme receber uma atenção maior dos colegas de faculdade. "São pessoas que vão ter mais conhecimento de mundo, que conhecem mais a história, acho que vou sofrer mais preconceito."
Enquanto o resultado final do vestibular não é divulgado - a previsão, segundo a Comissão Permanente de Vestibular (Comperve) da UFRN, é de que ele saia em janeiro -, Adolf experimenta o lado ruim da exposição virtual. "Com certeza na internet tem mais intolerância", diz.
Engenheiro civil e músico
O vestibulando está confiante de suas chances de se matricular na UFRN já em 2012. Magda Maria Pinheiro de Melo, presidente da Comperve, confirmou que o candidato foi aprovado para a próxima fase do processo seletivo e ainda concorre a uma das 1.120 vagas na carreira de ciências e tecnologia.
Segundo ela, a comissão sequer se deu conta do nome curioso na lista divulgada na terça-feira. "Para a gente, todos os candidatos são iguais."
O estudante, que se formou no ensino médio no ano passado, sonha em ser engenheiro civil e optou por ciências e tecnologia porque ela é "um atalho para engenharia, você cursa três anos e depois pode migrar para qualquer outra engenharia".
Caso consiga se tornar engenheiro, Adolf pretende em seguida estudar música, uma de suas paixões. Ele toca saxofone e violão.
"Quero construir uma carreira de sucesso, ser um bom engenheiro e um bom músico", diz o estudante, que toca em bandas de forró e em bares da capital potiguar.
Por enquanto, ele pretende permanecer na capital, onde aproveita o verão para frequentar uma igreja evangélica, da qual é devoto há três anos, e namorar uma vestibulanda de medicina, de 19 anos. "Conheci no verão, a gente vai fazer um ano de namoro."