Uma agenda que poderia enlouquecer qualquer um. Hoje Rio, amanhã Foz do Iguaçu, depois Curitiba, Ponta Grossa, Sorocaba, um dia de descanso, São Luis do Maranhão, São Paulo, gravações para a TV e planos para mais TV, cinema e seguir fazendo teatros. Aliás, todos lotados há mais três anos. Há dias em que são necessárias duas sessões, fôlego e um bom humor que não acaba nunca. O tempo parece não passar para o quase sessentão Sérgio Mallandro.
A reportagem conversou com ele depois de um show em um teatro na Tijuca, no Rio de Janeiro. Era véspera de um super feriado e o teatro estava lotado. O trânsito fez com que o artista chegasse com atraso, mas, se ele não perde o humor, o público também não. Uma hora e quarenta de muitas gargalhadas, Sérgio ainda teve tempo para mais trinta minutos de autógrafos, fotos e, claro, muito ?glu, glu?, yeah, yeah!?e ?Rá!?, suas marcas registradas. ?Adoro palco, adoro interagir com as pessoas, adoro brincar. São quase três anos de shows e quase todos os dias. Sempre gosto de tirar fotos com as pessoas. Há pouco tempo, em Curitiba, fiz um show para 2500 pessoas em duas sessões. E só não tirei fotos depois da primeira, porque tinha a segunda logo depois. Faço isso desde que apresentava programa para as crianças. Tenho esse hábito, gosto. Sei que eles vão guardar isso para o resto da vida. Levam para casa uma energia positiva, faz parte do meu ritual?, disse Mallandro.
O visual é de garoto: camisa de banda de heavy metal, chapéu com hélice, calça jeans e tênis compõem o figurino em cima do palco. Sérgio Mallandro é um veterano da televisão brasileira. Está no ar desde 1981, quando o SBT levou ao ar O Povo na TV, dirigido por Wilton Franco (?Uma pessoa maravilhosa, que me ensinou tudo de TV?, afirma) e revelando gente como Wagner Montes, Cristina Rocha e Roberto Jefferson (o mesmo do Mensalão). Ainda assim ele acredita ser esse o melhor momento de sua carreira. ?Acho que é essa a melhor fase. Já tive milhares de fases na minha vida. Acho que Deus foi muito bom comigo?, afirmou, lembrando dos anos em que foi jurado do Programa de Calouros do Silvio Santos, do programa infantil Oradukapeta, da ida para a Globo, dos filmes com Renato Aragão, com Xuxa e das investidas próprias na carreira.
?Em 82 lancei a música "Vou fazer glu, glu" e vendi um milhão de discos. Acho que o povo era surdo nesse época?, brincou. Isso sem falar nas incursões pelo cinema com participações em Menino do Rio e Garota Dourada. ?Ainda nem era artista, era um cara da praia e o André de Biasi me convidou e fui lá fazer. A verdade é que sempre dei muita sorte. Até contra Xuxa eu brigava pela audiência. Quando fui para a CNT/ Gazeta, dei 18 pontos de audiência com as minhas pegadinhas. Até saiu na Veja: ?o que está acontecendo com a televisão quando Sérgio Mallandro dá 18 pontos de audiência??, disse, gargalhando de satisfação.
E nessa longa trajetória, o nome de Silvio Santos é onipresente. Mesmo longe do SBT, Mallandro sente a emissora como sua casa e Silvio como ídolo e mentor. ?É um gênio, mas é louco. Muda a grade de programação toda hora. Quem tá de manhã vai pra tarde, quem está de tarde vai embora. Mas é meu espelho. Aprendi muito com ele. O jeito dele não só diante das câmeras, mas fora delas também. Raciocínio rápido. Fazíamos uma ótima dupla. Um dia bolei uma piada e disse: "Silvio, eu falo isso, você responde aquilo" e ele respondeu: "Sai pra lá, vai com sua piada para lá". Um poder de comunicação e raciocínio incrível?, elogiou, afirmando que trabalhar ao lado de Silvio Santos é como fazer uma Faculdade. ?E ainda recebia para estudar nessa faculdade?.
Mesmo quando a audiência na TV não ajudava muito, Sérgio Mallandro seguia fazendo seus shows com a banda Salsifufu, a mesma que hoje toca a seu lado no programa do Multishow Papo de Mallandro. Um talk show com a marca do artista, recebendo amigos ao lado da ex-mulher, Mary Mallandro, e do filho Sérgio Tadeu. ?O programa é o maior barato. Eu nunca tinha trabalhado em canal fechado e não sabia que era tanta audiência. Paro no posto de gasolina, o frentista assiste, no restaurante todo mundo vê. Aí me chamaram para fazer o Talk Show e para o ano que vem vamos ter um programa só com pegadinhas. Eu casei com o Multishow. Eles acreditam muito em mim e querem fazer a segunda temporada do Vida de Mallandro, começando na Europa, porque meus filhos moram lá?, contou Sérgio, lembrando que sua estreia no canal foi com o reality, onde o tema era seu dia a dia. ?O artista é monitorado 24 horas por dia. Minha vida é um Big Brother. Todo mundo te olha, te aponta, fala com você. Quando abri minha casa para o Multishow fazer o reality, era uma proposta diferente do que fiz em A Fazenda, onde eu ficava confinado. No Vida de Mallandro eles me filmavam indo para a rua, no teatro, tendo reuniões. Eu moro com minha ex-mulher, que é como se fosse minha irmã, e as pessoas ficam muito curiosas com isso?, afirmou.
E morar e trabalhar com a ex-mulher é mesmo um tema que aguça a curiosidade do público. E é nesse ponto que Sérgio Mallandro revela seu lado mais família, que ficou marcado em um dos episódios, quando se despedia do filho Edgarzinho, que mora na Europa. ?A cena chorando, quando meu filho foi embora, ficou famosa porque eles invadiram minha casa, foi bem legal, foi natural?, disse. Sobre morar com a ex-mulher, ele faz questão de deixar as coisas claras. ?Eu levo mulher para casa mesmo, a casa é minha. São cinco andares. Eu fico no meu e ela fica no dela. A gente dá muita risada, porque ela virou mesmo minha irmã?, explicou, afirmando que Mary virou algo sagrado para ele. ?Sempre digo para a mãe dos meus filhos que mora em Londres que não adianta brigar comigo, porque ela me deu o que mais amo na minha vida: meus filhos. A Mary virou irmã. Não importa como a vida vai ser daqui para frente. E essa foi uma mensagem que agradou muito às pessoas. Minha casa é aberta, dou festa, cada um no seu quadrado com muito respeito?.
Respeito é que o Sérgio Mallandro tem com seu público. Mesmo atacado por uma faringite única a uma laringite, ele não perde o pique durante a apresentação. Conta suas piadas, fala de suas histórias, interage, desce até a plateia, e não perde a pose nunca. ?Teatro é o maior barato. Sempre fiz isso na minha vida. Fazia esse monte de brincadeiras na praia, com os amigos, agora faço no teatro com gente pagando?, comentou, distribuindo ?Glu, glus? e ?yeah, yeahs? a cada três minutos. ?Esse show não teve a energia que eu gosto, mas não posso perder o pique por causa deles?. E para manter o pique aos 57 anos, ele promete voltar a fazer exercícios assim que sua hérnia de disco der uma trégua. ?Adoro caminhar e treinar jiu-jitsu. Ando meio relaxadão?, admitiu.
Voltando para casa, Sérgio Mallandro às vezes é uma ?vítima? do seu estilo de ser. E conta duas histórias que dão bem o panorama disso. ?Outro dia cheguei em casa e tinha uma cozinheira nova. Eu não a conhecia, porque minha casa está em obras e tem seis pessoas trabalhando na reforma, tem gente nova todo dia. Cheguei na cozinha e disse: ?Bom dia?. E ela respondeu: ?Yeah, Yeah!?. Eu perguntei: ?O que a senhora vai fazer para o almoço??. E ela respondeu: ?Vou fazer glu, glu!?. ?O que deve ser glu glu pra comer??, perguntou. ?Deve ser picadinho com pirê?. Na outra, Sérgio estava no velório de uma tia, quando uma mão se aproximou por trás. ?Pensei que fosse meu tio, mas era um sujeito que disse: ?Meus sentimentos, Rá!? E o cara ainda queria tirar um foto, no meio do velório?, contou.
Solteiro no momento, o artista admite que está sempre aberto a relacionamentos e às novas oportunidades de fazer uma mulher feliz. Enquanto o amor não vem, faz planos para a carreira e para a família. Além de seguir ?casado? com o Multishow preparando um programa de pegadinhas e uma nova edição do Vida de Mallandro, ele vai filmar ao lado de Lúcio Mauro Filho o longa Dois Malandros em Las Vegas. O filme deve chegar às telas em 2013. Um pouco antes, para o Natal de 2012, chegam os filhos vindos de Londres, os netos de Mary (que considera seus). ?Você poder estar com sua família é o maior barato. Não importa se está separado ou não, o amor é o que importa é o que vai salvar todo mundo.
2012 está chegando, o mundo está acabando, já comprei um monte de coisas para pagar em janeiro, fevereiro. Se o mundo não acabar, tenho um monte de dívidas pela frente", disse, sem perder o humor. Na despedida não pode faltar mais uma dose de ?Glu, glus? e ?yeah, yeahs?, que nunca parecem demais e que parecem ter fôlego para seguir no auge alguns anos mais.