Uma em cada três crianças brasileiras vive em família cuja renda é menor do que dois salários mínimos, o equivalente a R$ 1.020. Na região Nordeste, a proporção aumenta: 55% dos jovens estão nessas condições. As informações são da última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e foram apresentadas em evento sobre educação infantil, realizado em São Paulo nesta nesta quarta-feira (23).
Na opinião de Aloísio Araújo, professor de matemática aplicada da FGV (Fundação Getúlio Vargas), os dados levam a outro problema relacionado com a pobreza: a dificuldade de acesso à educação, começando pelo ensino infantil. Ele cita como exemplos de consequências o aumento da criminalidade, a dificuldade em aprender até a idade adulta e a gravidez na adolescência. O presidente do instituto Zero a Seis, João Augusto Figueiró, concorda com as colocações de Araújo.
- Nas condições de pobreza em que a criança vive, é impossível desenvolvê-la. O jovem pobre não tem brinquedos nem acesso à atividades que desenvolvam sua criatividade. Ele cita um levantamento feito pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) no qual foi calculado que, para cada R$ 1,80 (US$ 1) investido em políticas públicas para a primeira infância, o retorno gerado equivale a R$ 12,6 (US$ 7) para a economia.
- O maior volume de desenvolvimento cerebral ocorre até o terceiro de vida. 75% do que você é hoje intelectualmente foi alcançado até os seis anos. Falta de mão de obra O futuro também preocupa entidades que participaram do seminário. A previsão do Ceal (Conselho Empresarial da América Latina) é que, em 20 anos, falte mão de obra tanto para empregos com nível universitário quanto os de baixa qualificação. Uma das saídas para evitar um colapso na economia é melhorar o ensino infantil a partir de 2011, afirma Alberto Pfeifer, presidente do conselho formado por executivos.
Com mais pessoas recebendo aposentadoria e menos trabalhadores chegando ao mercado, explica ele, o país terá que investir em crianças e idosos ao mesmo tempo e “ as contas não vão aguentar”. Pfeifer diz que investir na educação desde agora vai permitir que as próximas gerações estejam qualificadas e preparadas para desenvolver trabalhos com maior retorno econômico.