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"Transtornada, família de atirador tem medo de sair à rua", diz um dos irmãos do homem que matou 12 crianças

Corpo está no IML desde quinta (7), mas ninguém da família procurou. “Está sendo doloroso”, declarou irmão, que diz temer represálias.

Um dos irmãos do homem que matou 12 crianças e depois se matou em Realengo disse que a família está "transtornada" com a situação (veja ao lado vídeo da entrevista). Até esta terça-feira (12), cinco dias depois do crime, na última quinta-feira (7), nenhum familiar apareceu no Instituto Médico Legal (IML) para liberar o corpo.

"Nenhum de nós esperávamos uma situação dessa. Tanto que hoje minha família está totalmente transtornada diante da situação. Não tem nem condição. Eu tenho irmãs que não têm nem condição de conversar. Estão na cama, literalmente na cama. Doente por uma situação dessas que, para elas, foi um choque. Porque nós temos uma ligação muito grande com crianças, sempre tivemos uma ligação muito grande com crianças. Está sendo muito difícil, está sendo doloroso. Está sendo muito doloroso", disse o irmão, que preferiu não se identificar, em entrevista exclusiva à TV Globo. Parte da entrevista foi exibida no programa "Fantástico", na noite de domingo (10) ? veja vídeo da reportagem mais abaixo.

Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, era ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, onde ocorreu o ataque. Nenhuma pessoa da família reclamou o corpo, que está no IML desde quinta. Se ninguém reivindicar, o corpo do rapaz será enterrado como "não reclamado".

O irmão de Wellington disse que a família teme ser agredida por pessoas revoltadas com a situação. "Temos medo e por isso que nós estamos tentando preservar a nossa família nesse sentido, de não mostrar o rosto e tentar falar que nós não temos culpa de uma situação."

Confira abaixo trechos da entrevista com o irmão de Wellington.

Quem era a dona Dicéa?

Irmão - Dona Dicéa era minha mãe. Era uma pessoa que tinha uma conduta religiosa. Tinha um proceder religioso. Uma pessoa extremamente sentimental. (...) Tanto que era uma pessoa que todos os vizinhos, de volta da casa onde eu fui criado, e onde ele também foi criado, não têm nada que falar do nosso proceder.

E o Wellington, como chegou à família de vocês?

Irmão ? O Wellington chegou porque minha mãe o adotou assim que ele nasceu. Ele era filho de uma pessoa que não podia criar o filho. E, por fazer parte, ter uma ligação com a família, minha mãe - com o coração dela, maravilhoso, bondoso -, ela ficou ao lado do segundo casamento dela, do esposo dela. Resolveram os dois adotar e deram a ele o nome dela e o nome do marido.

Que tipo de pessoa ele era?

Irmão - Ele nunca teve nenhum desvio, nenhum, nada que viesse a justificar uma situação assim de agressividade, nada disso aí. Ele sempre agiu como um filho e tudo mais. Só, muito ausente, muito trancado. Não tinha amigos. (...) Ele era no canto, ausente de tudo. Mas não tinha nenhum vestígio de, digamos assim, de agressividade.

Você acha que após a morte da sua mãe ? a mãe adotiva dele ? isso influenciou ainda mais naquele garoto que você diz que ficava no canto?

Irmão - Penso que isso possa ter, sim, porque, veja bem, a única pessoa que existia presente na vida dele para poder fazer o porto seguro dele era a minha mãe. (...) Quando ele fez 15 para 16 anos, minha mãe conversou com ele e contou toda a história para ele [sobre ele ser adotado]. Então, ele se sentia seguro. (...) De repentemente, ela teve um infarto do miocárdio, de uma madrugada para uma manhã. E ali mesmo ela faleceu, foi coisa de segundos. Não deu nem tempo. Quando meu sobrinho chegou, ela já estava praticamente morta. (...) Acho que isso aí também possa ter influenciado. No sentido da perda da mãe também porque foi a mãe que ele conheceu. Ele não conheceu a mãe biológica dele. Tanto que quando minha mãe contou a historia, e que se referiu à mãe biológica, que ele precisava conversar com a mãe biológica, precisava ir lá, conversar e tudo mais. Minha mãe deu conselho: ?você precisa ver porque ela não tem culpa?. (...) Ele foi, viu. Mas ele não quis ficar com contatos. O negócio dele era nossa família mesmo, era minha mãe. (...) Eu acho que a perda da minha mãe realmente desajustou muito uma situação.

Essa perda levou-o a fazer essa chacina ?

Irmão ? Aí é uma pergunta que eu também me faço o tempo inteiro. Porque nós, da família, não esperávamos uma reação ou um transtorno mental nesse nível dele. Então, uma situação como essa, também nos abalou profundamente sem a gente saber. Nós estamos todo mundo perdidos diante dessa situação também. (...) Nenhum de nós esperávamos uma situação dessa. Tanto que hoje minha família está totalmente transtornada diante da situação. Não tem nem condição. Eu tenho irmãs que não têm nem condição de conversar. Estão na cama, literalmente na cama. Doente por uma situação dessas que, para elas, foi um choque. Porque nós temos uma ligação muito grande com crianças, sempre tivemos uma ligação muito grande com crianças. Está sendo muito difícil, está sendo doloroso. Está sendo muito doloroso.

Ele fazia algum trabalho psicológico, alguma coisa, no Rio ?

Irmão ? Sim, porque assim, na escola sempre há aquela avaliação de psicopedagogo, psicólogos. Uma ocasião, na escola, houve uma avaliação de um psicólogo. E aí achou que ele estava um pouco desligado, né, dali da escola conversou com minha mãe. Chamou ela: ?Dona Dicéa, precisa cuidar dele, tudo?. E minha mãe começou a levá-lo ao psicólogo, tratar dele. Mas quando ele fez 17 anos ? que ele sempre ia ao psicólogo e tudo mais ? mas, quando ele fez 17 anos, ele não quis mais ir ao psicólogo.

Você sabe se ele foi treinado por alguém para aprender a usar armas?

Irmão - Isso é uma coisa que nós não temos conhecimento algum a respeito disso. (...) Mas a questão do armamento, dessas coisas todas, isso ele pode ter visto isso aí no computador, pode ter buscado pesquisa nisso aí. Porque no sentido de bandidagem, não acredito que ele tenha se envolvido. (...) Aí, mais um fato acontecendo na vida, ele manipular muito bem um armamento, inclusive diz que estava com cinturão, com tudo aquilo. Com certeza, é coisa de internet, que ele veio a buscar em internet.

Vocês [os familiares] têm medo de serem agredidos na rua?

Irmão - A gente tem medo sim, de uma represália, a gente tem medo porque existe essa cultura de vingança dessas coisas. Então, toda a minha família está desestruturada. Eu tenho parentes que não podem nem ir em casa. Minha irmã não pode nem ir na casa dela. Então, tudo isso nos chocou demais.