Você desconfiava, os petistas temiam, Lula dava a entender, mas agora o músico Reginho esclareceu uma dúvida nacional: a presidente Dilma Rousseff não deixa, não. O autor de "Minha mulher não deixa, não" admite que a primeira mandatária "tem a pegada" do hit mais cantado em 2011. "Ela tem esse jeitão mesmo nas palavras, nos modos, certo? Tudo a ver com a música", afirma o pernambucano assaltado pelo sucesso.
O hino das mulheres mandonas estourou numa casualidade recifense. Um grupo de garotos encenou um clipe da música numa praia e, sem temer o ridículo, postou-o no site de vídeos YouTube. Em poucos meses, houve milhões de execuções. Acordado pela filha, Reginho correu a uma lan-house e comprovou o início do sucesso. Depois correu mais um pouco, arranjou um empresário e tratou de melhorar a primeira gravação. Na letra ingênua, mas erótica, o homem se submete à patroa.
"- Ei! Tem duas nega. E aí, vamos arrastar?
No Xanadu a gente bota o bicho lá
Quem és tu? És boiolão? Tu vai ou não?
Vou não, quero não, posso não, minha mulher não deixa não,
não vou não, quero não."
"Foi um pouquinho de minha história, junto com a do DJ Sandro, que vive numa luta até hoje", conta Reginho, igualmente inspirado nos frequentadores de um bar. "(As mulheres) tomavam a carteira, pagavam a conta e pegavam pela camisa. A gente começava a rir. Fui juntando tudo e fiz a música. Foi uma brincadeira, uma versatilidade, não foi nada pensando em sucesso. O sucesso veio porque Deus quis, não foi esperado, não", confessa.
Com a fama, dezenas de fãs se rasgam pelo nada charmoso recifense de 39 anos, pai de três filhas e acorrentado há dois anos a uma pequena. Sua namorada, com todo respeito, segue a dureza presidencial: não deixa, não. "O marido, quando ele se sente muito dominado, o casamento dura. Com certeza. Tende a durar. Porque a mulher se sente mesmo a bam-bam-bam da história", receita o compositor, que não aprova o modelo matrimonial de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. "Cada um pensa do seu jeito. Mas, já que casou, tem que morar junto, pô", reclama.
Autorizado pela mulher, ele subirá pela primeira vez num trio elétrico, no carnaval de Salvador. Para não receber vaias masculinas, já compôs "Vou sim, quero sim, posso sim, minha mulher não manda em mim", o salvo-conduto dos valentões.
Terra Magazine - O que a música "Minha mulher não deixa, não" mudou em sua vida?
Reginho - Mudou um pouco. Tem mais trabalho, graças a Deus. Mudou pra melhor. Mas meus pezinhos tão no chão, sabe? Sei que isso é coisa passageira, foi muito de repente, nem acordei ainda.
Já rolou algum dinheiro?
Tá bem melhor do que no tempo de voz e teclado.
Como tem sido a execução da música no País?
Já tem show marcado pra Espanha, Itália, França... Eu me sinto feliz de ver Ivete (Sangalo) e Alexandre Pires cantando, me sinto muito feliz mesmo.
Chovendo mulher?
Ah, tem muitas, mas o cara releva, né? O cara vai relevando porque não deve se empolgar muito, como te falei. Eu trato direitinho pra não causar transtorno.
Depois do show, suas fãs não lhe atacam?
Muito, muito, chegam até a cair. Invadem o camarim e caem.
Não invadiram quarto de hotel, não?
Quarto de hotel, não, mas o hospital... Precisou de polícia e muito segurança lá na Bahia, em Paulo Afonso (o ônibus do grupo sofreu um acidente numa estrada baiana; morreu o baixista).
Alguma mulher entrou em seu quarto?
Levou bilhete, bilhete-coração, levou... Falando que gostava do meu jeito de se apresentar...
Você é casado, namora?
Rapaz, eu diria que... É melhor do que ficar pulando de galho em galho.
O quê? Mas você tá namorando?
Sim, sim.
Pernambucana?
Também.
E ela tá deixando você circular pelo País?
(risos) É como a música diz: "Vou sim, quero sim". Tô nesse lado aí. Mas eu respeito, sei respeitar.
Qual foi a inspiração pra sua música? Sua mulher, a mulher dos outros?
Foi um pouquinho de minha história, junto com a do DJ Sandro, que vive numa luta até hoje. E os clientes do bar, que chegavam... "Rapaz, você não foi em casa!". Tomavam a carteira, pagavam a conta e pegavam pela camisa. A gente começava a rir. Fui juntando tudo e fiz a música. Foi uma brincadeira, uma versatilidade, não foi nada pensando em sucesso. O sucesso veio porque Deus quis, não foi esperado, não.
Qual é o tipo de mulher pra você? De pagar a conta?
As que pagavam a conta eram as dos que largavam o trabalho e iam pro bar. Elas vinham atrás, pegavam a carteira, pagavam a conta e arrastavam eles pela goela da camisa.
Isso é comum em Pernambuco?
Lógico, lógico. Tudo isso é verdade. Talvez essa música tenha acontecido mais por isso. O marido, quando ele se sente muito dominado, o casamento dura. Com certeza. Tende a durar. Porque a mulher se sente mesmo a bam-bam-bam da história. Então, se ela se sente, ela comanda o casamento. Como eu te falei, o DJ Sandro vive essa história. E ele é muito dominado, a mulher dele é braba. Eu saí juntando um pouquinho dele, um pouquinho de mim, de uns clientes. Mas não foi na intenção de sucesso, não. Só fiz pra brincar mesmo. E aí pegou.
Você disse que viveu uma relação de dominação, a mulher mandava em você. É a atual ou você trocou?
No passado, e agora do mesmo jeito.
Então, vai durar?
Ajuda, ajuda, pra quem não quer viver trocando de mulher. Ajuda.
Mas, me diga uma coisa: o estilo da presidente Dilma é esse de "Minha mulher não deixa, não"? Ela é desse estilo de mulher mandona?
Posso falar a verdade?
Hã, hã.
Não sei como você vai colocar aí, mas... Com certeza ela é assim, viu?
Ah, é? Por quê?
Pô... Realmente, a presidente tem uma pegada muito forte até nas palavras. Ela é tudo isso aí que minha música conta. Veja o que você vai colocar aí, senão... (risos)
Ela é presidente, mas não tem problema, não. Estamos numa democracia...
Ela tem esse jeitão mesmo nas palavras, nos modos, certo? Então, ela tem tudo a ver com a música.
O ex-presidente Lula também reclamava que dona Marisa Lecticia era desse estilo, de não deixar, não.
Já escutei várias vezes...
E ele é pernambucano também...
É daquele perfil de Garanhuns.
Como é o perfil do homem de Garanhuns?
De Recife pra Garanhuns, dá o quê? Duas horas, duas horas e meia. São mais assim de interior, resguardados. Recife é uma cidade meia quase que São Paulo. É uma cidade mais pequena, mas é evoluída também, sabe? Só é menor que São Paulo.
O que você ouvia na juventude e lhe marcou?
As músicas de Fábio Jr., do José Augusto, do Nelson Gonçalves, o repertório dele de seresta era muito bom. Músicas internacionais: o A-Ha, Led Zeppelin, Rod Stewart... São músicas dos anos 80 que realmente marcaram.
Uma dúvida de sua música: o que vem a ser o Xanadu, onde vocês vão enfiar o bicho?
É um motelzinho, visse? Muito bom...
Motelzinho?
Simplezinho. Coloquei na música de brincadeira também, porque eu conheço o dono, o porteiro é meu amigo, mora aqui também no Recife. Aí eu coloquei. O Xanadu é um motel simples.
Você é um cliente especial?
(ri) Conheço muito o dono, o porteiro... Já descansei muito lá, porque eu tocava perto numa churrascaria. Quando eu voltava pra casa, passava lá.
Entendi, entendi.
Pra amanhecer o dia.
Como foi a trajetória da música? Estourou primeiro no YouTube...
Tá fechando hoje em 9 milhões (de exibições). São os meninos da net, rapaz. Quando eu botei ela no Cd, o DJ Sandro pegou e botou na coletânea dele. O DJ pega a música do Calypso, de outras bandas, e botou a minha no meio. E a minha música se destacou. Aí os meninos da net pegaram pra praia de Maria Farinha, no litoral aqui do Recife, e gravaram o vídeo. A namorada de um deles gravou. Um botou pra tocar no carro do pai e começaram a fazer dancinha. Gravaram o vídeo, editaram e botaram no YouTube. Depois de três dias, minha filha me acorda. Eu tenho três filhinhas que moram com a mãe, né? "Pai, sua música tá na internet"... "Tá não, quem foi que botou?. Oxe, minha música não tem condições de botar, porque eu não botei, não".
Aí fechei a camisa e fui numa lan-house. Abri o YouTube lá e vi 478 mil acessos. Começou a chover os telefones pra comprar a música. Não vendi, né? Me juntei com a Lapada Entretenimento, de um parceiro meu, Kleber Lapada. Aí ele me levou até a Premier Produções. Meu empresário agora é Ari (Carvalho). A gente gravou melhor, porque estava gravado em voz e teclado no YouTube. É Reginho e Banda Surpresa agora. Montamos uma estrutura, Ari entrou com uma estrutura muito pesada. A gente não faz vergonha a ninguém. É primeiro mundo a produção do palco. Um ônibus, que sofreu um acidente... A gente caiu na estrada. Graças a Deus, muito boa a repercussão.
O acidente abalou o grupo?
Abalou, com certeza. Abalou muito. Mas é tocar o barco pra frente. A gente já viaja pra Rondônia, Goiás, aí desce pra Recife, volta pra Salvador...
Em Salvador, você vai subir em qual trio elétrico?
O nome do trio, eu não sei. É no dia 6 (de março).
Qual cantor ou cantora que lhe chamou?
Fui convidado pelo camarote VIP do SBT e, também, está surgindo uma parceria aí com a Ivete, que tá tocando muito a música...
Você vai cantar "Minha mulher não deixa, não" no carnaval da Bahia, mas a marca do carnaval é do homem que foge de casa pra dar um corno na mulher... Não tem "não deixa, não".
Ah, mas eu já fiz a outra! (canta) "Vou sim, quero sim, posso sim, minha mulher não manda em mim! Vou beber, vou curtir...". Essa eu já fiz. (risos)
Essa vai fazer sucesso no carnaval?
Com certeza. A rapaziada lá é meio fogosa mesmo.
Então, me esclareça como é que você vê as relações mais liberais. Por exemplo, o filósofo francês Sartre e Simone de Beauvoir eram casados, mas moravam em apartamentos separados. Isso não pode ser bom?
É, o casal liberal, cada um por si aí, né? Cada um pensa do seu jeito. Mas, já que casou, tem que morar junto, pô. Um num apartamento, outro em outro, não tem casamento! É o tal do "ficar". Tô com vontade? Vou lá. Ela tá com vontade? Vem cá... E assim vai. Porque casamento mesmo tem que morar junto.
Os homens, mesmo os nordestinos, não estão requebrando em excesso? Isso não tem afastado as mulheres de determinados homens?
É como eu te falei: se deixar a mulher mandar, o casamento dura. Mas se der uma de machão, fica meio complicado. Porque é o caso da música "Minha mulher não deixa, não". Muitos caras chegam e dizem: "Regi, você viu minha vida". Outros dizem: "Tá difícil minha situação lá em casa". Eu nem sei. Eles que já se entregam. E outros dizem: "Regi, só a mulher, bicho? Faz uma música pra gente!". Foi quando eu fiz: "Vou sim, quero sim, posso sim". Pra dar um pouquinho de moral. Mas "Minha mulher não deixa, não" ainda está em alta.