O receio de perder os patrocinadores do carnaval de São Paulo fez com que as escolas de samba que desfilaram na noite de sexta-feira e madrugada do sábado desistissem de qualquer protesto contra a legitimidade do campeonato. Após a confusão na apuração dos votos, no último dia 21, terça-feira de Carnaval, correram boatos de que Vai-Vai e Rosas de Ouro, a terceira e segunda colocadas, respectivamente, entrariam no sambódromo com narizes de palhaço.
?Não vai ter protesto nenhum. Quer apostar??, perguntou o presidente da Unidos de Vila Maria e também da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, antes do início dos desfiles das cinco agremiações do grupo especial. E, realmente, a noite correu bem, apesar das alfinetadas de Darly Silva, presidente da Vai-Vai e, principalmente de Angelina Basílio, presidente da Rosas de Ouro, que reivindicou o título.
Solange Cruz Bichara Rezende, presidente da Mocidade Alegre, no entanto, não se abalou. Cantou, dançou e afirmou: ?A Globo focalizou as duas notas que faltavam e somos os campeões.? A Mocidade estava a uma nota dez da vitória e faltavam ainda duas notas do quesito comissão de frente quando a confusão na apuração começou.
Brilho
A noite começou com as escolas vencedoras do grupo de acesso quebrando o clima de tensão do Desfile das Campeãs. A Acadêmicos do Tatuapé, vice-campeã, abriu o desfile com a homenagem à sambista Leci Brandão que, do último carro da escola, cantou o samba-enredo com energia de campeã. Na sequência, a Nenê de Vila Matilde comemorou sua volta ao grupo especial com uma ode a Chica da Silva.
A terceira escola a entrar na avenida foi a Unidos de Vila Maria, cujo presidente Paulo Sérgio Ferreira, o Serginho, também comanda a Liga Independente das Escolas de Samba. Ele garantiu que não haveria nenhum tipo de protesto no Anhembi.
?Não tem nariz de palhaço nenhum?, afirmou Serginho. ?Todo mundo veio aqui fazer uma festa.? O presidente contou que, antes do desfile, conversou com os presidentes das outras agremiações e todos concordaram em sambar sem boicote. Serginho lamentou o incidente que, na opinião dele, também prejudicou a Vila Maria, 5ª colocada do carnaval paulista.
Na hora do esquenta da Vila Maria, ainda na concentração do sambódromo, o presidente da Liga pediu desculpas à Prefeitura e aos outros patrocinadores da folia, inclusive à Rede Globo, pelo incidente da apuração, mesmo sem ter participado do episódio.
O presidente Paulo Serdan, da Mancha Verde, seguiu o exemplo de sua antecessora. ?Agora é a hora de mostrar aos parceiros e redes de TV que São Paulo sabe fazer Carnaval e sabe ser educado.? Ao fim de seu discurso, antes de entrar na avenida, Serdan parabenizou a Mocidade Alegre, grande campeã do carnaval.
A 3ª colocada Vai-Vai foi para o esquenta sob certa tensão. Afinal, o presidente da escola, Darly Silva, deve prestar depoimento à polícia após a confusão na apuração. Ele é um dos dirigentes que aparece nas imagens gravadas pelas redes de televisão pouco antes de Tiago Faria invadir a mesa de apuração para destruir as cédulas.
?A Vai-Vai é escola guerreira que vai à luta?, disse Silva, antes de desfilar. ?A nossa escola só tem glórias. Não tem manchas nem no passado e nem no presente. Vou brigar por essa comunidade sempre.? O único recado da escola estava em um cartaz pequeno que dizia: ?Não temos nada a ver com isso!?
A escola desfilou desfalcada, principalmente em seu carro ?Mulheres que Brilham? que abrigou, no dia 17, celebridades como Marisa Orth, Cláudia Raia e Daiane dos Santos. Desta vez, Luiza Ambiel marcou presença em cima do abre-alas, como Eva, e Adriana Lessa brilhou na comissão de frente.
O pior momento da folia foi protagonizado pela presidente da Rosas de Ouro, Angelina Basílio que, ao microfone, na concentração, reivindicou o campeonato à sua agremiação. ?Estou me sentindo campeã do Carnaval 2012, porque tenho a consciência limpa. Ainda faltam duas notas e somos os verdadeiros campeões?, falou. ?Querem que a gente desista, mas a gente é guerreiro.? E o carnavalesco Jorge Freitas completou: ?Rosas fez desfile de campeão.?
A escola entrou na avenida com muitos componentes, inclusive o homenageado Roberto Justus, que estava com a mulher Ticiane Pinheiro. A rainha Ellen Rocche também marcou presença, mesmo com febre. E, assim como no desfile do dia 17, os membros da disciplina da escola trataram de, com bastante grosseria, manter a imprensa longe dela.
Depois do discurso de Angelina, a Mocidade Alegre entrou no sambódromo para mostrar que foi campeã por merecimento. Assim como a Rosas de Ouro, foi para o Desfile das Campeãs quase inteira e, por lá, o sentimento era de dever cumprido. ?Para nós, essa é uma vitória completa?, disse o carnavalesco Sidnei França.
Solange Cruz Bichara Rezende, presidente da escola, não quis comentar as declarações de Angelina Basílio, mas respondeu: ?Quero pedir desculpas em nome do samba, pois o campeonato é merecido. Entendo o desabafo, mas tem de ter respeito!?
A festa da Mocidade acabou quando surgiram os primeiros raios de sol e o desfile das campeãs encerrou um carnaval difícil para a cidade que, agora, espera para ver punidos os dirigentes e escolas envolvidas na confusão da apuração. ?Vai haver punição sim?, disse o presidente da Liga, Paulo Sérgio Ferreira. ?Não vai acabar em pizza.?