Na esperada estreia de seu novo programa na TV aberta, com a versão brasileira do humorístico norte-americano Saturday Night Live, Rafinha Bastos apontou sua metralhadora cômica para o polo aquático nacional, e toda a batalha do esporte atrás da classificação olímpica. O esquete exibido no último domingo, que fez graça com a repercussão da modalidade no país, provocou ambiente de desconforto para a comunidade que vive essa atividade por aqui.
No esquete em questão, Rafinha Bastos interpretou o técnico da seleção masculina, que conversava com sua equipe durante o intervalo de uma partida internacional, em que hipoteticamente o Brasil poderia conquistar a vaga olímpica em caso de vitória. No quadro, o treinador dizia a seus jogadores que não valia a pena voltar para o jogo, pois a derrota viria de qualquer jeito.
O esquete trouxe na boca do protagonista do "SNL" da RedeTV! tiradas como "Não é esporte, é um tratamento médico" [sobre atletas do polo que sofrem de bronquite], "Você e mais 28 praticam essa bosta" e "É handebol dentro de uma piscina".
A brincadeira gerou desconforto e alguma revolta da comunidade que pratica e vive o polo aquático no país. Em abril passado, a seleção masculina ficou próxima da vaga para Londres, perdendo a classificação em duelo direto com a Romênia nas quartas de final do Pré-Olímpico mundial, no Canadá [time não vai aos Jogos desde 1984].
"Achei de mau gosto. A maneira como foi feito o quadro pareceu que quem criou o tinha informações do esporte, um pouco estranho. Passaram de maneira muito pesada, muito pejorativa, criticando o atleta que sonha com o esporte, inclusive falando que ninguém se importa com o polo aquático. Tratou o esporte como lixo", opina Felipe "Charuto" Silva, jogador da seleção brasileira.
Charuto esteve no Pré-Olímpico de abril com a seleção e nesta semana disputa etapa da Taça Brasil de clubes no Rio de Janeiro. O atleta relata que a sátira virou tema de conversas entre os praticantes nos últimos dias, mas afirma que os familiares dos jogadores foram quem mais se revoltaram com a brincadeira.
Outras pessoas envolvidas na comunidade do polo aquático se manifestaram nesta semana, como Clodoaldo Lino, que mantém um dos blogs independentes mais conhecidos sobre a modalidade (Potóff Water Polo) e é pai de dois ex-jogadores.
"Repercutiu, obviamente, de forma negativa na comunidade do polo aquático. Ela ficou muito chateada com a piada do Rafinha Bastos", afirma Lino.
"É ofensivo no primeiro momento. É uma piada, pegou o polo aquático, como poderia ter pegado qualquer outro assunto, outra comunidade minoritária. Pessoalmente, achei o quadro fraco, bobo. Não soube explorar aspectos que o polo tem. No fim das contas é só uma piada, mas tivemos que botar panos quentes para acalmar o pessoal", emenda o entusiasta.
A piada sobre o esporte repercutiu inclusive dentro da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), que chegou a debater uma resposta, mas acabou optando por não fazer barulho.
"A posição da confederação que tenho é que resolvemos não dar crédito ao programa. Não tem sentido. Pode ter sido uma coisa induzida ou não, pegaram por acaso uma modalidade que luta, que tem um sacrifício grande para participar dos Jogos Olímpicos. Estamos começando a nos profissionalizar, captar mais recursos, temos um planejamento sério para 2016, em que já estamos classificados como país-sede. Soa mais como uma piada, de mau gosto. Mas decidimos não fazer nada de forma institucional", diz Ricardo Cabral, supervisor-técnico polo aquático masculino.