A mulher de 21 anos foi cuidadosamente treinada para não flertar com ninguém que chegasse ao seu laboratório ao longo de vários meses. Ela mantinha contato visual e conversas ao mínimo necessário. Nunca usava maquiagem ou perfume, mantinha os cabelos presos num rabo de cavalo, e sempre usava jeans e uma camiseta básica.
Cada um dos jovens rapazes pensava que ela era apenas uma colega estudante da Florida State University que participava do experimento, que aparentemente consistia em que eles montassem juntos um quebra-cabeça de blocos de Lego. Mas o experimento verdadeiro veio depois, quando cada rapaz classificou o grau de atratividade da garota. Pesquisas anteriores mostraram que uma mulher no período fértil de seu ciclo menstrual parece mais atraente, e esse mesmo efeito foi observado aqui -- mas apenas quando a mulher foi avaliada por um homem que não estava envolvido com outra pessoa.
Os outros rapazes, que tinham relacionamentos amorosos, classificaram a garota como significativamente menos atraente quando ela estava no auge da fertilidade, possivelmente porque, em certo aspecto, eles sentiram que ela representava a maior ameaça para seus relacionamentos de longo prazo. Para evitar serem tentados, eles aparentemente disseram a si mesmos que ela nem era tão bonita assim.
Esse experimento faz parte de uma nova tendência na psicologia evolutiva, de estudar a "manutenção dos relacionamentos". Pesquisas anteriores enfatizaram como a evolução nos aperfeiçoou no encontro e acasalamento: como os homens e as mulheres escolhem parceiros buscando pistas como simetria fácil, formato do corpo, status social e recursos.
Porém, o jogo do acasalamento evolucionário não se tratava apenas de encontrar um rosto simétrico no equivalente a um bar de solteiros da savana. A seleção natural favorecia os que permaneciam juntos tempo suficiente para criar os filhos: os homens e mulheres capazes de manter um relacionamento ao manter seus parceiros felizes. Eles podem ter se beneficiado com a virtude de permanecer fiel, ou pelo menos a vontade de parecer fiel enquanto traíam discretamente.
Espantando tentações
É possível que alguns dos homens da Flórida estivessem apenas tentando parecer íntegros ao rebaixar a atratividade da garota, da mesma forma como um marido instantaneamente descarta qualquer mulher aponta pela esposa (aquela modelo de lingerie? Imagina, um esqueleto de silicone!). No entanto, Jon Maner, co-autor do estudo, afirma que isso é improvável, pois os homens preencheram suas respostas em particular e não esperavam que as respostas seriam vistas por outras pessoas, com exceção dos pesquisadores.
"Parece que os homens estavam realmente tentando espantar qualquer tentação em relação à mulher que ovulava", disse Maner, que trabalhou com Saul Miller, seu colega psicólogo da Florida State. "Eles estavam tentando convencer a si mesmos de que ela não era desejável. Acho que alguns homens realmente chegaram a acreditar no que disseram. Outros podem ter sentido o desejo proibido, mas aposto que só o fato de expressar a falta de atração já os ajudou a suprimir esse desejo".
Pode parecer difícil acreditar que os homens possam distinguir uma mulher que está no auge da fertilidade apenas sentando-se ao seu lado por alguns minutos. Cientistas há muito tempo deduziam que a ovulação nos humanos era oculta para ambos os sexos.
Pistas escondidas
Mas estudos recentes descobriram grandes mudanças em indicações e comportamento quando uma mulher está no auge da fertilidade. As dançarinas de "lap dance" ganham gorjetas muito maiores (a não ser que elas tomem pílula anticoncepcional que suprime a ovulação, nesse caso as gorjetas continuam menores). A voz da mulher fica mais alta. Os homens classificam seu odor corporal como mais atraente e respondem com níveis mais altos de testosterona.
"O mais fascinante sobre esse período é que ele ocorre sob o radar da consciência", diz Martie Haselton, psicólogo da UCLA. "As mulheres e os homens são afetados pela ovulação, mas não temos ideia é isso que motiva essas mudanças substanciais no nosso comportamento. Está claro que somos muito mais como outros mamíferos do que pensávamos".
Nesse estágio de pico de fertilidade, as mulheres ficam mais interessadas em ir a festas e boates, e se vestem de forma mais atraente (conforme o julgamento de homens e mulheres). Algumas atitudes das mulheres em relação aos seus próprios parceiros também podem mudar, de acordo com uma pesquisa feita por Haselton com uma colega da UCLA, Christina Larson, e Steven Gangestad, da Universidade do Novo México.
"As mulheres que estão em relacionamentos estáveis com homens que não são muito atraentes sexualmente _ os que não têm o equivalente humano à cauda do pavão _ de repente começam a notar outros homens e flertar com eles", disse Haselton. "Elas criticam mais seus parceiros e se sentem menos especiais para eles nos dias anteriores à ovulação. Mas isso não significa que elas estejam planejando acabar a relação".
"Essas mulheres não mostram qualquer mudança no sentimento de comprometimento", disse Haselton. "Elas não querem deixar seus parceiros. Só querem olhar para os outros homens ao redor e considerá-los como parceiros sexuais alternativos".
Isso se enquadra na explicação evolucionária dos "genes bons" para o adultério: um caso rápido com um rapaz bonito pode gerar uma criança com genes melhores, que, portanto, terão uma chance maior de transmitir adiante os genes da mãe. Mas esse tipo de infidelidade é arriscado se o parceiro pouco sexy descobrir e deixá-la sozinha cuidando da criança. Então, faz sentido que a mulher limite seus riscos ao ser infiel apenas no período fértil.
Parceiro também fica mais ciumento no período fértil da esposa
Nessa mesma lógica evolucionária, faz sentido que o parceiro da mulher seja o mais preocupado com seu período fértil, e foi exatamente o que ocorreu nos relacionamentos monitorados por Haselton e Gangestad. Os homens pouco atraentes ficaram especialmente enciumados e adotaram posturas mais "protetoras" durante o período de alta fertilidade _ talvez porque eles sintam as sutis indicações físicas, ou talvez porque eles veem o flerte evidente.
Uma forma segura de homens e mulheres permanecerem num relacionamento é evitar até mesmo olhar para alternativas tentadoras. Parece haver mecanismos mentais sutis para brecar o olhar saidinho, como descobriu Maner e colegas da Florida State, num experimento que verificou a "adesão atencional" das pessoas.
Os homens e mulheres do experimento, depois de terem sido preparados com rápidos flashes de palavras como "luxúria" e "beijo", receberam uma série de fotografias e outras imagens para visualização. Os homens e as mulheres solteiras do estudo não conseguiram evitar olhar para as fotografias de pessoas bonitas do sexo oposto _ o olhar demorava mais nesses candidatos atraentes mesmo quando eles deveriam olhar uma nova imagem que aparecia em outro lugar da tela.
Mas as pessoas que já estão num relacionamento reagiram de forma diferente. Elas desviavam o olhar mais rapidamente dos rostos atraentes. A preparação subliminar com as palavras relacionadas ao sexo aparentemente ativaram algum tipo de mecanismo protetor inconsciente: Não me tente! Não vejo nada!
Essa é uma boa notícia para quem gosta de fidelidade, mas há um porém de um estudo subsequente feito por Maner e C. Nathan DeWall, da Universidade do Kentucky, e colegas. Dessa vez, os pesquisadores sutilmente dificultaram prestar atenção nos rostos atraentes. Homens e mulheres reagiram tentando um olhar mais forte para o fruto proibido. Depois, eles expressaram menos satisfação com seus parceiros e mais interesse na infidelidade.
A lição aprendida aqui parece ser que "proteção demais" pode atrapalhar a "manutenção do relacionamento".
"Não queremos que nosso parceiro fique olhando vários outros candidates, porque isso é ruim para o relacionamento", disse Maner. "Ao mesmo tempo, evitar que ele ou ela olhe não ajuda, e o tiro pode sair pela culatra".