Um dos rostos mais famosos do planeta, Pelé se diz orgulhoso por "não guardar segredos" e ter uma vida que é um "livro aberto". Aos 71 anos, o Rei do Futebol não se acanhou ao comentar detalhes da vida íntima em um evento realizado em São Paulo, na última terça-feira. O ex-atleta respondeu a perguntas sobre sua sexualidade com a mesma naturalidade com que opinou sobre a Seleção de Mano Menezes e analisou os times favoritos ao título na reta final do Campeonato Brasileiro.
De todas as questões pessoais que recebeu, nenhuma surpreendeu mais Pelé do que a lembrança de uma entrevista que concedeu para a Revista Playboy em 1981, quando admitiu ter tido sua primeira relação sexual por volta dos 15 anos, com um garoto em Bauru. Vinte anos depois, ele se diz mal interpretado: "naquela época, a gente nem chamava de "bicha", era "veado" mesmo. Mas nunca falei que tinha transado com essa "bichinha", era o resto do time (do Bauru Atlético Clube, primeiro time de Pelé) que fazia isso. Publicaram errado... De qualquer forma, não tenho problemas com isso e eu diria se tivesse feito. Até porque criança faz um monte de besteiras", disse.
A declaração na década de 80 havia caído no esquecimento até ser usada como provocação por Diego Maradona em 2009, quando, ao ter o trabalho como técnico de futebol criticado por Pelé, o argentino retrucou: "o que querem que eu diga? Pelé começou com um garoto". Na época, o brasileiro não comentou a insinuação.
Pelé fala abertamente sobre Viagra, Xuxa e vida de solteiro
Ainda dentro do tema sexo, mais desinibido do que em entrevistas habituais, o Rei não hesitou ao esclarecer outras dúvidas. Garoto propaganda no lançamento do Viagra no Brasil, Pelé negou ter utilizado o remédio para disfunção erétil. "Nunca usei Viagra, nunca precisei, só fiz promoção. Na propaganda eu pedi que quem precisasse fosse procurar um médico, mas não é o meu caso", explicou, com um sorriso debochado.
Solteiro desde que se divorciou de Assíria Lemos, sua última mulher, há um ano, o ex-jogador se mostrou disposto a começar novos relacionamentos. "Sou um homem de Três Corações e "eles" estão abertos", brincou, fazendo um trocadilho com o nome de sua cidade natal, em Minas Gerais.
Quando os relacionamentos passados entraram em discussão, Pelé demonstrou remorso com Xuxa Meneghel, que recentemente definiu os pés do ex-jogador como uma das coisas "mais feias" já vistas. "Se ela lembra do pé, que é a parte mais feia, imagina do resto", alfinetou, sem citar o nome da ex-namorada, a quem apenas se referiu como "apresentadora loira".
"O Pelé" é mais importante do que "o Edson"
Nem todas as curiosidades, porém, diziam respeito à vida afetiva e sexual de Pelé. Um tópico mais leve abordado foi o estilo característico da fala do ex-jogador, que se refere a si próprio na terceira pessoa e às vezes trata "o Pelé" e "o Edson" (seu nome de batismo) como duas pessoas diferentes.
"Não sei quando comecei a falar assim, foi desde muito novo. Eu não gostava do apelido Pelé, cheguei a bater em garotos que me chamaram assim. Mas, depois que fiquei conhecido, o "Pelé" é mais importante que o "Edson", entende? São a mesma pessoa, mas é diferente falar que encontrou "o Edson" ou "o Pelé" na rua. Eu falo assim há muito tempo (de si mesmo na terceira pessoa)", contou.
Apesar de negar a distinção, o ex-camisa 10, nas entrelinhas, entrega mudanças que o "Edson" sofreu quando virou "Pelé". Sem saber explicar o sentimento de, no decorrer da vida, partir de uma rotina simples no interior brasileiro para se tornar um ícone mundial, ele apenas diz que "as coisas mudam" e a vida "tomou um rumo".
"Quando era jovem eu queria voltar para Bauru depois do futebol, voltar para uma cidade pequena, levar uma vida simples de novo. Era o que me fazia me sentir bem. Mas as coisas mudam, a vida tomou um rumo. Fui e sou muito feliz", encerrou, com um ar nostálgico e, ao mesmo tempo, satisfeito.