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Ator Paulo Vilhena fala sobre sua má fama: "Acho que cometi alguns erros"

Paulo Vilhena cresceu. E amadureceu, ele enfatiza.

Ele agora prefere ser tratado sem o diminutivo no nome. ?Já tô com 35 anos, né??, explica, com um sorriso maroto. Pois bem. Paulo Vilhena cresceu. E amadureceu, ele enfatiza. Quinze anos depois de estrear na TV na pele de Gustavo, o bom moço que conquistava o coração de Sandy (na vida real e) no seriado que ela protagonizava com o irmão Junior, o ator encara aquele que considera o seu maior papel na TV: Marco Aurélio Baroni, o bandido calculista e audacioso de ?A teia?. O seriado policial estreia na Globo, na próxima terça-feira.

? Tem ator que fica na expectativa a vida inteira e o grande personagem não chega. Para mim chegou numa hora em que eu estava pronto para recebê-lo, maduro, com gente ao meu redor dando total apoio e estrutura ? comemora o ator, com performance irrepreensível na pele do bad boy.

Até então reservado para o elenco de ?Amor à vida?, Paulo foi convocado pelo diretor Rogério Gomes, o Papinha, para uma reunião às pressas, no início do ano passado:

? Recebi uma mensagem urgente no celular, ao chegar de madrugada, em São Paulo, da viagem de réveillon. Poucas horas depois, já estava no Rio para conversar com o Papinha. Ele me apresentou o projeto da ?Teia? e perguntou se eu topava participar. Lembro direitinho da dica que deu sobre o Marco Aurélio: ?Sabe aquele cara legal, que mesmo que só faça merda as pessoas se amarram? Então, é ele!?.


Paulo Vilhena volta à TV e fala sobre sua má fama: ?Acho que cometi alguns erros, mas graças a Deus e a mim consegui reverter?

Paralelamente, o diretor geral já intercedia junto aos poderosos da Globo para levar Vilhena para seu time.

? Eu e os autores (Carolina Kotscho e Bráulio Mantovani) queríamos muito o Paulo para o seriado. A figura dele era adequada ao personagem. Conversamos na empresa para ver a possibilidade de troca e foi sensacional ? empolga-se Papinha, amigo do ator de longa data: ? A primeira novela do Paulo, ?Coração de estudante? (2002), foi comigo. Fiquei surpreso com a qualidade do trabalho em ?A teia? e com sua evolução como ator.

Inteligente e sedutor, Marco Aurélio Baroni, o personagem, é filho de uma família curitibana de classe média alta, que largou a faculdade de Engenharia para se aventurar no crime. Seu grande feito é o roubo de uma carga de 61kg de ouro, na pista do aeroporto internacional de Brasília, acompanhado por oito comparsas. A ousadia deixa as autoridades perplexas e desafia Jorge Macedo (João Miguel), um policial federal afastado e desacreditado da carreira.

? O que mais me impressiona no Baroni é a inteligência. É um cara que não precisava ser criminoso, mas sente um prazer enorme nisso. A ambição e a adrenalina falam mais alto, mexem com a autoestima dele. E ele nem é tão mau assim ? adianta Vilhena, explicando que Marco Aurélio trata a amante Celeste (Andréia Horta) e a filhinha dela, que também considera sua, com a maior delicadeza do mundo.


Paulo Vilhena volta à TV e fala sobre sua má fama: ?Acho que cometi alguns erros, mas graças a Deus e a mim consegui reverter?

E pensar que Vilhena poderia estar dando pinta na novela das nove...

? Eu seria o Niko. Já estava com essa história na cabeça: um gay que tem um restaurante e se envolve num triângulo amoroso com um homem e uma mulher. Até tinha conversado com o Marcello (Antony, o Eron da história). Virou tudo de ponta-cabeça e acabei seduzido pelo Marco Aurélio (risos) ? brinca Vilhena.

Com o novo papel, Paulo quer deixar para trás uma fase conturbada na carreira, quando era mais lembrado por seus entreveros com os paparazzi e a mídia do que pelos trabalhos que realizava. É como se o papel de vilão da história transmutasse da realidade para a ficção, e só nela ficasse.

? Acho que cometi alguns erros, mas graças a Deus e a mim consegui reverter isso. Talvez eu estivesse tentando me proteger demais. Se eu tivesse me aberto um pouco, fosse mais leve nesse trato... Tenho sacado que às vezes é melhor chegar no sapatinho e trocar uma ideia, levar no sorriso, na brincadeira. Faz tanto tempo que eu não vejo os paparazzi que estou tendo até saudades ? abusa do fair play, para logo depois voltar a falar sério: ? O lance é que eu era muito novo, e na minha época não tinha esse aparato que os artistas têm hoje em dia, com assessor de imprensa, assessor de imagem... Era eu por mim mesmo. Mas acho que tudo o que aconteceu me ajudou em vários aspectos. Eu me tornei um cara melhor não só na minha profissão como também nas minhas relações pessoais.


Paulo Vilhena volta à TV e fala sobre sua má fama: ?Acho que cometi alguns erros, mas graças a Deus e a mim consegui reverter?

Quando o assunto é o famoso episódio em que deu uma cusparada no então repórter do ?CQC? Rafael Cortez, ao ser incitado a provar sua ?macheza?, Paulo Vilhena faz mea-culpa:

? Foi uma bela atitude? Não, não foi. Mas o que eu estava passando ali, o que eu estava sentindo, ninguém sabe. Realmente, as pessoas que viram, pais e mães de família, fãs, gente que gosta de mim devem ter achado um grande vacilo. Para essas pessoas eu pedi e peço desculpa.

Vilhena prefere contabilizar as vitórias a tomar conhecimento das possíveis perdas que o temperamento difícil possa ter provocado.

? Não sei dizer se a imagem que me atribuíram por esse tempo todo me prejudicou, se perdi papéis. Mas tudo o que tenho hoje é tão genuíno, tão meu... Ninguém me deu nada, ninguém me aliviou. Fui passando por tudo o que tinha que passar, da maneira que tinha que passar, e cheguei até aqui. Os carinhos, as porradas, veio tudo na hora certa.

Nesse processo, a terapia ajudou, e ainda ajuda. Mas, principalmente, a família e os amigos foram fundamentais.

? Eles estiveram sempre ao meu lado para tudo. Para o céu e para o inferno. Eles me puxavam a orelha, mas também me davam razão quando eu estava certo. Talma (Roberto Talma, diretor de núcleo) foi um cara que me pegou no colo várias vezes e falou: ?Velho, é isso aí. Você está no meio da arena, mas não mude. Continue sendo você mesmo, esse é o seu diferencial, é por isso que você é especial? ? lembra.

Mãe do ator, a empresária Marilena Vilhena, de 65 anos, conta que invasão de privacidade sempre foi um grande problema para o seu caçula:

? Ele não entendia que à medida que se tornava uma pessoa pública, sua privacidade seria invadida. E está tentando entender isso ainda, para ser sincera. Dependendo da forma que você chegar nele, ele vai se defender. Até com a gente, da família! Paulo acha que é o único responsável por sua própria vida, porque é independente desde os 17 anos, quando saiu de casa para ser modelo. Desde então, ele sempre foi autossuficiente, morou sozinho. A gente cria os filhos para isso: ter responsabilidade, liberdade, personalidade. Às vezes é acima da média, né?

Assim como o apoio, a crítica construtiva não demorou a chegar. Até dos amigos famosos.

? Paulinho sabe que não foi injustiçado. Revidava, foi rebelde. Mas é óbvio que se aproveitavam do temperamento e da imaturidade dele para instigá-lo à rebeldia ? acredita Eri Johnson, de 52 anos, ator boa-praça, relembrando sua história com o parceiro de churrascos e diversão: ?- Primeiro, descobri o Paulinho através da mídia. Pensei: ?Nossa, esse menino é levado!?. Certo dia, soube que éramos vizinhos. Começamos a nos aproximar e fui percebendo que ele era um cara família. Havia uma contradição ali. Ele comentava comigo: ?Pô, todo mundo gosta de você, pede autógrafo, se sente íntimo...?. E eu respondia: ?Isso pode acontecer com você também, cara! As pessoas têm um certo receio porque você vendeu a ideia de uma rebeldia que não faz parte da sua personalidade?. Hoje, me encho de orgulho do homem que ele se tornou.

A atriz Fernanda Rodrigues, de 34 anos, que confiou sua Luísa, de 3, ao apadrinhamento do amigo, pondera:

? Antigamente, Paulinho não sabia como lidar com algumas situações da profissão. Sua defesa era o ataque. Mas é uma das pessoas de melhor coração que eu conheço. É um amigo fiel. Ele e Luísa são apaixonados um pelo outro!

Garoto família

Dona Marilena está certa de que seu caçula será um pai sem igual:

? Paulo sempre foi muito ligado em criança. Agora, não sei se a paternidade estará associada a um casamento. Sou intuitiva, e uma vez sonhei que ele tinha uma filha chamada Manuela. Contei pra Thaila. Ela brincou: ?Então não vai ser comigo, porque eu só vou ter filho homem!?.

O rompimento, há pouco mais de três meses, do relacionamento que durava quatro anos não deixou inimizades. Vilhena se refere a Thaila Ayala, de 27, como ?uma querida?. Antes de levantar rumores sobre a separação, durante o réveillon, a atriz passou o Natal com a família do ex-marido.

? Brincamos, foi gostoso como sempre. Achei ótimo quando ele disse que continuaria respeitando a Thaila ? conta dona Lena: ? Paulo vive muito o exemplo que tem em casa. Sou separada do pai dele há 12 anos, e convivemos bem. Na vida, nada tem garantia de ser eterno, nem a própria vida.


Paulo Vilhena volta à TV e fala sobre sua má fama: ?Acho que cometi alguns erros, mas graças a Deus e a mim consegui reverter?

Efêmera também foi a fama de galã, que Vilhena começou a construir em ?Sandy e Junior?, mas não levou adiante. O desvio foi proposital:

? Quando estava começando, vi muitos caras, como o Fabinho Assunção, incomodados com o estereótipo, tentando fazer outras coisas. Então pensei: posso ser galã, mas vou dar uma roupagem diferente. Em ?Coração de estudante?, eu pedi permissão e usei dreadlocks. Em ?A lua me disse? (2005), incorporei um palhaço como par romântico de Monique Alfradique.

Marilena Vilhena entrega: o filho não é vaidoso, ?apenas cuidadoso?:

? Ele está sempre de protetor solar, por causa da paixão pelo surfe. Mas só veste o que se sente bem. A fase de galã e ídolo teen já passou, né? Agora o assédio é mais tranquilo. Paulo continua bonito, charmoso e desejado, mas, principalmente, talentoso.

Dizendo-se ?tranquilão?, o ator não tem perdido o humor nem com os cabelos que insistem em rarear. Uma herança genética, do avô materno...

? Já tomei remédio e fiz tratamento (para crescer fios), mas é chatão. As entradas (na testa) não têm me incomodado. Sempre fui do tipo que olha no espelho e diz: ?É isso aqui que a gente tem pra jogo? Então é com isso que a gente vai jogar, e vai jogar bem?.

Pode isso, Arnaldo?