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"Não sou mais o gostosão", diz José Mayer

José Mayer será Tevye, um rústico leiteiro de um vilarejo judeu encravado na Rússia Czarista.



O rei que não perde a majestade. Aos 62 anos, José Mayer, eternizado como o grande conquistador das novelas, diz que não se sente o galã de antigamente, mas está disposto a viver um sessentão apaixonado. "Não sou mais o gostosão de antes. Meu prazo de validade está no fim. Mas quando escreverem uma história amorosa de um homem jovial, aos 60 anos, e quiserem que eu faça...", brinca o ator, que estreia na próxima sexta-feira (20), no musical de Cláudio Botelho e Charles Möeller, Um Violinista no Telhado, no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon. Uma boa oportunidade para ver de perto o vozeirão de Mayer.

"Antes de atuar, eu já sabia cantar. Na escola em que estudei, tive uma formação musical bacana e até cantava em coros. A quem vier, espero que gostem de ouvir a minha voz. Ouvirão um homem afinado, uma voz de barítono, talvez não seja um grande cantor, mas um ator no mínimo interessante", ironiza ele que, para o personagem, deixou crescer uma farta barba. "Poucas vezes fiz personagens muito barbudos. O último acho que foi o Osnar, em Tieta. Mas isso (alisa a barba) incomoda nas primeiras semanas, coça, pinica. E na hora do travesseiro, quando você deita, incomoda ainda mais. Acho que para namorar é horrível. Se fosse mulher, me sentiria beijando um cabo de vassoura", exagera.

Mas tudo em nome da arte. José Mayer será Tevye, um rústico leiteiro de um vilarejo judeu encravado na Rússia Czarista. Sempre em conflito para sobreviver e honrar as tradições religiosas, ele enfrenta problemas tanto dentro de casa - as cinco filhas se rebelam contra os tradicionais casamentos arranjados - quanto fora, numa época em que ataques russos expulsavam milhões de judeus da região.

"É um grande personagem na história dos musicais. Um dos maiores papeis masculinos nesse gênero. Depois de tantos anos, como ator é uma celebração para mim", avalia. Mas o mundo judeu não é uma novidade para o ator. Em 1981, ele fez o homossexual Marx, na montagem Bent, de Martin Sherman, uma das primeiras encenações da Broadway. "Era uma história de infelicidade. Um homossexual, judeu, prisioneiro que acaba morto no campo de concentração. Mas, sem dúvida, me aproximou desse universo. Agora vivo uma história também complexa, só que mais feliz".

Tradição judaica

Os dramas de Tevye incluem conviver com as escolhas das filhas em se casar com homens não tão bem-sucedidos e a amargura da mulher, vivida por Soraya Ravenle. "Como toda mãe judia ela é dura. Não se conforma com os pretendentes das filhas. O Tevye tem a capacidade de mudar através do afeto. Isso me encanta nesse homem simples, de formação tão rudimentar", elogia.

O investimento feito na montagem foi de R$ 7 milhões. São 43 atores no palco, com 160 figurinos e 13 cenários do clássico espetáculo, que estreou na Broadway, em 1964. E a parceria entre Möeller, Botelho e José Mayer é inédita. "Estou apaixonado. Eles são mais do que geniais. O processo de trabalho é encantador e cansativo, pois eles são extremamente rigorosos. Nunca tinha vivido uma experiência tão exigente no teatro", diz.

O ator deve seguir à risca as orientações dos diretores, já que ele foi escolhido a dedo. "Eles pensaram em mim, em 2002, para um papel em Follies. Depois, em Ópera do Malandro. Não foi possível. Agora minha agenda estava livre. Desde de dezembro não vivo outra coisa", entrega o ator que, em breve, será visto na trama de Aguinaldo Silva, Fina Estampa, substituta de Insensato Coração.

Mayer não será mais o descolado fabricante de moda Paulo. "Tive uma reunião com o Wolf Maia e ele me presenteou com uma novidade. Entro apenas no capítulo 30 e, assim, terei tempo para estrear no teatro tranquilamente. Quero muito trabalhar com o Aguinaldo, com quem fiz muitos sucessos", conclui.