Do dia para a noite, a pequena e pacata cidade de Balbinos, a 400 km de São Paulo, ganhou destaque na mídia por ter a maior população masculina do Brasil (82,2% dos 3.932 moradores, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas ?IBGE). Pouco acostumada às lentes das filmadoras e aos flashes das câmeras, a população balbinense recebeu a notícia com certa desconfiança.
?A proporção aqui na cidade é igual, não tem muita diferença, não?, garante o comerciante Ailton Carlos Rigoto, de 47 anos. De fato, o número de mulheres e de homens é equilibrado na área urbana: segundo dados da prefeitura, 51% dos 1.191 moradores que vivem lá são mulheres. O que inflaciona o número, resultado do Censo 2010 divulgado na segunda-feira (29), é a presença de penitenciárias na zona rural. As duas unidades abrigam 2.556 detentos (quase o dobro dos 1.376 moradores em liberdade).
Os presídios começaram a funcionar em 2006. O que no início foi visto com receio e medo agora é celebrado pelos moradores ?principalmente os comerciantes. Carlos Roberto Pereira, por exemplo, espera com ansiedade a chegada do fim de semana. ?É quando tem visita nos presídios?, afirmou o homem de 46 anos, que é dono de um dos poucos restaurantes do município.
Às sextas-feiras e aos sábados, ele, sua esposa, a filha, o cunhado e mais uma funcionária se revezam no pequeno estabelecimento para cozinhar, arrumar mesas e atender a clientela ? majoritariamente feminina. ?Tem vez que recebo 50 fregueses. O normal são 15?, contou Pereira. ?Muitas mulheres de presos vêm aqui e pedem para a gente fazer ?quentinha? para seus maridos.?
Esse turismo de fim de semana fez com que a economia do município (que é baseada em serviços e na indústria) esquentasse. ?Antes, você conseguia alugar uma casa por R$ 80. Agora, não encontra imóvel com valor inferior a R$ 300?, disse a chefe de gabinete da Prefeitura, Flora Rosilene Carvalho.
Atualmente, os grandes empregadores do município são a Prefeitura, onde trabalham cerca de 170 pessoas, e uma fábrica de condimentos, responsável pelo sustento de ao menos uma centena de moradores e por deixar o Centro da cidade com o cheiro de temperos variados (nesta terça, o ar tinha aroma de sal com alho). O restante dos habitantes vive do comércio e uma pequena parcela trabalha no campo.
Antes, a maior parte da população trabalhava em plantações de café. Com a crise do setor, na década de 1950, houve um êxodo de balbinenses. ?Tínhamos quase 5 mil moradores. Depois dessa crise, a maior parte foi trabalhar em outras lavouras, principalmente no Paraná?, revelou Flora.
O novo crescimento populacional veio justamente com os presídios, que, apesar de fortalecerem a economia, trouxeram problemas para a Polícia Civil.
BOs
Os quatro policiais do único Distrito Policial balbinense tiveram um aumento considerável no volume de trabalho. Dados da Polícia Civil indicam que antes das penitenciárias o número de boletins de ocorrência registrados era muito pequeno. Em 2005, por exemplo, foram feitos apenas 70 BOs; no ano seguinte, o esse número mais que dobrou, saltando para 181.
Em 2010, 72 das 181 ocorrências registradas na delegacia ocorreram nos presídios. ?Aqui fora acontecem só discussões, no máximo?, afirmou o investigador Carlos Eduardo Labriolla, de 50 anos. ?Nas prisões tem muita apreensão de drogas, ameaças e brigas?, acrescentou. E foi justamente em uma das unidades que foi registrado o único homicídio da história da cidade. ?Foi em março desse ano. Um condenado estrangulou a mulher que foi visitá-lo?, lembrou, com pesar, o policial.
Fofocas
As dimensões da cidade facilitam o contato entre os moradores. Pode-se dizer que a maioria se conhece por nome ou apenas de vista. Isso faz com que notícias ? sejam elas verdadeiras ou falsas ? se espalhem como rastilho de pólvora. ?É um boato novo por dia. É impressionante. Tem muita fofoqueira aqui?, disse a dona de casa Paula da Silva Cunha, de 26 anos.
Um exemplo: mal a informação sobre o número de homens na cidade foi divulgada e pessoas de todos os cantos do município já comentavam os dados do IBGE. Resultado: quando a reportagem visitou a cidade, nesta terça, todos os entrevistados sabiam o porcentual de pessoas do sexo masculino e já tinham opinião formada sobre o levantamento.
A vendedora Natália Cristina Ferreira, de 21 anos, acredita que, na prática, o número de mulheres é superior. ?Aqui a mulherada fica em cima dos homens. Inclusive dos que já têm dona?, afirmou. ?Eu fui vítima. Uma amiga roubou meu namorado e eu roubei ele de volta, depois de brigar com ela?. Apesar da confusão, hoje Natália está feliz e casada com esse rapaz.
Juventude
Poucas são as opções de diversão para a juventude em Balbinos. Adolescentes, rapazes e moças ouvidos pelo G1 relataram que o ponto de encontro dos jovens é um posto de gasolina no Centro. Além da lanchonete que funciona até tarde, o lugar serve de palco para apresentações musicais em alguns fins de semana. Além do posto há a praça central, onde nos dias ensolarados o pessoal se reúne para tomar sorvete e ouvir música.
Baladas, shopping centers e cinema, só nas cidades próximas. ?Quando quero sair, vou para Lins, Pirajuí e Bauru?, contou Ailton Rigoto Júnior, de 18 anos. E é fora de Balbinos que ele procura as garotas. ?Aqui não dá para namorar ou ficar. Aqui qualquer pingo d?água se torna tempestade?, brincou.