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"Mulher tem que ser boa de cama, limpa, uma boneca"

Em entrevista ao Vídeo Show, ela diz que a idade não a angustia

Hoje é dia de festa para Fernanda Montenegro! A atriz que tem no currículo diversos prêmios, indicação ao Oscar, e quase 60 peças de teatro, mais de 20 filmes, 170 teleteatros e mais de uma dezena de novelas e minisséries, completa nesta sexta-feira, 16, 80 anos de vida.

Fernandona, que é orgulho nacional e internacional, completa oito décadas fazendo o que mais gosta na vida: atuar. Luigi Baricelli teve a honra de dar os parabéns em nome do VÍDEO SHOW. Confira como foi a entrevista:

Luigi Baricelli: Arlette Pinheiro Monteiro Torres. Para quem não sabe, este é o nome que está registrado na certidão de nascimento da nossa querida Fernanda Montenegro, que completa 80 anos com mais de 50 anos de carreira. Qual é o segredo de viver sem tempos mortos?

Fernanda Montenegro: É trabalhar, ter um ofício, gostar dele. Todo dia você levanta e tem uma missão a cumprir e você vai à luta. Se pensar muito, emperra

LB: Você sempre teve muita disposição. Isso é pelo trabalho ou pela vida?

FM: A gente nasce assim com essa vontade de vida. Oitenta anos? A gente quase viveu um século. Um dia eu fiz uma conta que quando eu nasci, tinha 40 anos da Proclamação da República, da libertação dos escravos. Meu Deus! Eu venho de longe. Isso não me angustia. É a vida

"Sou absolutamente analfabeta"

Fernanda Montenegro

LB: O que você faz para se atualizar?

FM: Vai vivendo. Caso contrário, fica uma explanação imensa e talvez metida a besta. É melhor dizer a primeira coisa que é viver. Todo dia você encontra uma novidade. Você pode talvez não se envolver totalmente com o processo novo. Por exemplo, eu ainda não me envolvi com a informatica. Embora eu saiba que está ali. Sou absolutamente analfabeta. Sinto falta. Tenho preguiça de aprender essa nova linguagem. Um dia ainda me meto lá. Também tenho quem faça. Até o fax eu fui muito bem. Também fui uma excelente datilógrafa. Eu aprendi estenografia. Isso é coisa da Idade Média.

LB: Tem algum momento especial da carreira que você pode destacar?

FM: Eu posso falar de blocos: Rádio Ministério, cinco anos em São Paulo, na companhia Maria Delacosta, onde generosamente ela me deu um papel título numa peça que mudou a minda vida. Encontro com Sérgio Brito, Francisco Cuoco e outros nomes do grande teatro. Em janeiro de 1951, fui contratada pela TV Tupi. Então eu tenho de teatro o que eu tenho de televisão. Nós nos ligamos a umas duas e três gerações através do trabalhos.E há 10 anos, o bloco do cinema. Não dá para ter um mural.

LB: Como é viver dividida entre o palco, telenovela, a mãe, a atriz?

FM: Acho que todas nós fizemos isso. Mulher tem três jornadas, quatro jornadas.. e ainda tem que ser boa de cama, cheirosa, perfumada, limpa, a vida não pode passar por ela. Tem que ser uma boneca.