A notícia da prisão de um dos mandantes dos ataques que mataram 18 pessoas em 2006 deixou a modelo Bia Furtado surpresa. Mais de três anos depois do ataque em que o ônibus em que estava ter sido incendiado, deixando cerca de 40% de seu corpo queimado, ela acreditava que todos os responsáveis já estivessem na cadeia.
Na Justiça, agora, Bia luta por uma indenização da empresa em que viajava, para tentar cobrir os gastos com 16 cirurgias, remédios, roupas especiais para queimaduras e terapia, que chegam, segundo ela, a R$ 350 mil. A ex-modelo pede ressarcimento por danos morais.
?Claro que é importante que sejam pegos, mas me surpreendeu. Achei que já tinham sido todos presos; outros já li que morreram?, disse ela, durante sua estada em Muqui, no interior do Espírito Santo, onde mora a família.
Desempregada, Bia mora sozinha em São Paulo e batalha para retornar ao mercado da moda. ?Gosto muito de produção, de criar, é o que quero fazer. Preciso voltar a trabalhar. O meu trabalho foi arrancado de mim. Foi uma tragédia que aconteceu e estou lutando?, conta ela.
Bia conta que ela e a família precisaram se desfazer de parte do patrimônio para custear os cerca de R$ 350 mil que já gastaram desde o início do tratamento, o que, segundo ela, complicou sua situação financeira.
?Estou bem, normal, mas ótima não estou, nem nunca vou estar. Foi tudo muito traumático. Já superei algumas coisas, sim, mas ainda tenho muito o que superar. Eu fui toda queimada?, resume ela, que cogita, no futuro, ajudar projetos sociais que envolvam pessoas com queimaduras. ?Mas meu psiquiatra acha que ainda não estou pronta?, lembra.
Tratamento interrompido
Depois das 16 cirurgias, Bia, segundo os médicos, ainda precisa de pelo menos outras duas intervenções. ?Mas estou sem condições financeiras de continuar o tratamento?, conta ela, que chegou a casar com o namorado da época do ataque, mas se separou há um ano, depois de 9 anos de relacionamento. ?Depois que me separei, tive alguns relacionamentos, mas preciso ficar sozinha, me distrair um pouco?, diz ela.
Entre as distrações na TV, por exemplo, Bia deixou para trás a novela "Viver a Vida". As semelhanças da recuperação da modelo Luciana, interpretada por Alinne Moraes na trama de Manoel Carlos, incomodam-na por lembrar os dias mais difíceis da sua história. ?Tem sempre alguma coisa que ela fala que me lembra muito o que eu passei, principalmente no hospital. Ela aprendendo a comer, a pegar nas coisas... A minha enfermeira, meus médicos ligavam quando viam, lembrando de mim, mas evito ver?, admite.
Como foi
Em dezembro de 2006, uma série de ataques violentos nas Zonas Sul, Norte e Oeste do Rio deixaram 18 pessoas mortas e outras 22 feridas. Na época, sete ônibus foram incendiados.
Época de apagão aéreo, Bia voltava do Espírito Santo, onde tinha passado o Natal, para São Paulo de ônibus, onde passaria o Ano Novo. Mas o veículo foi interceptado por bandidos no Rio. Ela sofreu queimaduras de 2º e 3º graus.