Jürg Kirchhofer é da quarta geração de relojoeiros em sua família. Aos 69 anos, o suíço ainda parece um menino diante das badaladas de um relógio exclusivo. Em meio aos clientes aglomerados em uma de suas sete lojas no país, ele mostra sem receio um luxuoso relógio de um milhão de dólares.
Todo cravejado em diamantes, o modelo Hublot Classic Fusion Haute Joaillerie One Million foi produzido em apenas oito unidades mundo afora. Só para colocar as 1.185 pedras preciosas na peça, foram necessários quatro meses.
A marca da peça é a Hublot, que cronometra as partidas de futebol da Copa do Mundo no Brasil e aparece nas placas que indicam substituições e acréscimo de tempo. A grife suíça até lançou um modelo especial para a Copa do Mundo da FIFA com as cores do Brasil e que marca os 45 minutos de cada tempo no jogo. Batizado de ?Soccer Bang?, o modelo em ouro foi produzido em edição limitada de 100 exemplares.
Mesmo com tantos diamantes e preço tão alto, Kirchhofer permite que os seis jornalistas presentes no tour peguem a peça de mais de R$ 2 milhões, antes exposta em caixa de vidro como uma obra de arte. Alguns clientes curiosos se aproximam, e o relojoeiro oferece sem hesitar: "quer ver também??.
No entanto, um relógio estimado em metade do preço do One Million parece ser mais valioso para o especialista. É uma aquisição recente de Kirchhofer: o Parmigiani Notre Dame, único exemplar no mundo, custará cerca de US$ 500 mil. Somente quando ? e se ? Kirchhofer decidir colocá-lo à venda. ?Não vai ficar mais de três ou quatro dias na loja?, prevê. Ou é bem possível que ele faça da peça a 501ª de sua coleção particular.
Um obcecado Kirchhofer aperta um botão no relógio e aproxima a peça dos jornalistas para que escutem as badaladas. Quando esta repórter oferece para passar a peça ao próximo colega, o relojoeiro não se conforma: ?ainda não completou a hora?. E apenas fica satisfeito quando os seis profissionais presentes escutam as badaladas completas, com horas e minutos, que o relógio de pulso emite.
O tour continua pelas quatro lojas de Kirchhofer na cidade de Interlaken e por incontáveis relógios, incluindo modelos caros e alguns até esquisitos, que o empresário chama de ?malucos?.
O maior estabelecimento, Kirchhofer Casino Gallery, reúne mais de 100 marcas diferentes de relógios. As peças são garimpadas pelo próprio dono e profissionais de sua confiança. No local, que visa atrair os turistas que vêm de todas as partes do mundo, a equipe de vendedores é preparada para atender aos clientes em mais de 30 idiomas. Para facilitar a vida do turista que não tem muito tempo, Kirchhofer abriu restaurantes ao lado das lojas e já vende também, dentro da própria relojoaria, souvenirs suíços e bolsas femininas. Sua ambição é nada menos que vender ?tudo o que o turista quer comprar sob um mesmo teto?.
Parece estranho para um especialista em relógios finos, mas não para por aí. Em Interlaken, o relojoeiro também é dono de um Hooters, bar de rede americana em que as garçonetes costumam servir os clientes com pouca roupa e que chega a destoar da paisagem rodeada pelos Alpes Suíços. O próprio Kirchhofer se considera visionário nos negócios, como seu pai, que criou sua primeira loja de relógios em 1944, em plena Segunda Guerra Mundial, quando itens luxuosos não eram prioridade nem mesmo na Suíça.
Com o pai, Kirchhofer aprendeu a arte da relojoaria e terminou seu primeiro relógio quando tinha 20 anos, após três anos construindo a peça. Bem-humorado, o especialista divide os suíços dos Alpes em duas categorias: ?no verão, são fazendeiros e, no inverno, fazem relógios?.
?O silêncio das montanhas nos cinco meses de inverno ao ano favorecem a profissão, que é meticulosa e exige esmero nos detalhes?, explica Kirchhofer. Historicamente, a religião também ajudou: ?era proibido produzir joias, mas não relógios?, conta. Por isso os relógios se tornaram verdadeiras joias. ?E é por isso que os suíços fazem os mais valiosos e caros relógios do mundo?, resume.
Antes de terminar o tour, Kirchhofer compara as duas máquinas que provavelmente apaixonem mais homens no mundo todo. Para ele, um relógio como Vacheron Constantin é um Rolls-Royce, e o famoso Rolex não passa de um Mercedes Classic. ?Porque não é feito à mão?, explica, ao mesmo tempo em que desperta a polêmica.