Um levantamento feito pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo durante a parada gay deste ano na capital paulista mostrou uma preocupante contradição.
A pesquisa, cujos resultados foram repercutidos na imprensa durante esta semana, mostrou que apesar de 87% dos jovens homossexuais considerarem que o público de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) é mais vulnerável a doenças sexualmente transmissíveis em comparação aos heterossexuais, grande parte desse mesmo público não usa preservativo em todas as relações.
O estudo aponta ainda que, entre os jovens do sexo masculino, 3,3% afirmaram que nunca usam preservativo. Outros 38,4% disseram que aderem à camisinha apenas ?algumas vezes?.
No que diz respeito aos jovens do sexo femino meninas, 43,7% relataram nunca utilizarem preservativo. Outros 35,5% nem sempre fazem uso da proteção.
O quadro descrito pela pesquisa preocupa entidades LGBT e autoridades de saúde, que continuam em busca de novas estratégias para fazer frente a essa situação. Para a presidente do GPTrans (Grupo Piauiense de Transexuais e Travestis), Maria Laura dos Reis, o problema tem múltiplas abordagens.
?Sexo e prevenção ainda são vistos como tabus nas escolas, nos lares, no dia a dia das pessoas. Quem tenta fazer esse trabalho de informação são os grupos de movimentos sociais em parceria com as coordenações de AIDS dos municípios e do estado, mais infelizmente percebemos que os resultados não chegam na ponta, que é a população.
Muitas pessoas insistem em confiar em seus parceiros sexuais, sem se preocupar de fato com as consequências deste ato. O público que mais se cuida é o de pessoas que trabalham com o mercado do sexo. Fora isso, é muito difícil falar de algo e tentar conscientizar, sendo que esse ainda é um assunto fechado dentro de muitos espaços?, explica Maria Laura.
A coordenadora de DST/AIDS da Secretaria de Estado da Saúde do Estado do Piauí (Sesapi), Karina Amorim, também relata dificuldades enfrentadas na lida com esse tipo específico de conscientização. ?Como é uma questão comportamental, é difícil deduzir quem vai adotar um comportamento seguro em relação às DSTs e quem não vai?, resume.
A coordenadora afirma que há a necessidade de estudos locais a respeito desse problema. ?Em nível estadual não existe uma pesquisa que se proponha a analisar esse aspecto. De nossa parte, implementamos esforços para facilitar a dispensação de preservativos, de não deixar faltar.
Desde 2010 elaboramos editais, tanto de eventos quanto projetos, onde organizações não governamentais realizam propostas de atividades voltadas para a prevenção, como oficinas, palestras, confecção de folders, entre outros esforços?.
Piauiense conduz pesquisa inédita
A ginecologista e mastologista Andréa Rufino, professora de Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da UESPI, está conduzindo uma abrangente pesquisa sobre a forma com que mulheres que fazem sexo com outras mulheres se protegem durante as relações sexuais. O estudo vai ouvir mulheres de todas as regiões do país.
"Há relatos de pesquisas anteriores que demonstram que mulheres que fazem sexo com outras mulheres acreditam estar relativamente protegidas em relação à transmissão de DSTs, por exemplo. A minha pesquisa vai investigar se isso se confirma ou não", diz a pesquisadora.
A professora esclarece que todas as DSTs podem ser transmitidas em uma relação sexual praticada entre pessoas do mesmo sexo, e que o risco aumenta consideravelmente quando há o contato do sangue de um dos parceiros com o do outro.
"Na verdade, o risco não depende da orientação sexual de quem pratica o ato, e sim das práticas realizadas. O que existe é uma hierarquia: as práticas mas perigosas são as que envolvem penetração anal. Em seguida, aparecem as de penetração vaginal e as menos perigosas são as não penetrativas".
Pesquisas anteriores apontaram que as necessidades de saúde das mulheres que fazem relações homoafetivas não são plenamente atendidas. "Esses estudos mostraram, por exemplo, que não costuma ser questionado, nos consultórios, se a mulher costuma manter relações sexuais com outras mulheres.
Ou seja, todas são tratadas como heterossexuais. Por isso, minha pesquisa também busca observar como é feito o atendimento ginecológico a essas mulheres".(D.L.)
Heterossexuais também não costumam usar preservativos
Marina reforça a importância do trabalho feito pela Sesapi. "Acreditamos que é a mesma vulnerabilidade - tanto em héteros quanto em homossexuais. Muitas pessoas vêm deixando de lado a importância do uso do preservativo. Mas estamos enfrentando essa realidade.
No início do ano nós fazemos a programação de ações e metas, definindo o que faremos durante o ano inteiro. Nesse momento, são definidas as iniciativas preparadas especificamente para o público LGBT.
Ou seja, o diálogo com os movimentos sociais é constante, e temos obtidos bom desempenho nessas questões. Apoiamos militantes e movimentos para que eles busquem experiências exitosas fora do estado, e tragam para cá novas estratégias".
Em janeiro, a Sesapi lançou uma nota técnica a respeito dos procedimentos de facilitação do acesso a preservativos.
O documento estabelece que os municípios devem desvincular a necessidade de prescrição médica para entrega do material, evitando também solicitar do usuário documentos de identificação, tais como RG, CPF, entre outros.
A nota também diz que não se deve determinar a quantidade do produto a ser entregue. Os municípios também foram orientados a desvincular o fornecimento de preservativos a participação obrigatória do usuário em palestras ou outro tipo de reunião.
Adicionalmente, o documento também orienta a disponibilização de preservativos masculinos durante as abordagens domiciliares e comunitárias, e durante períodos de festividades locais ou eventos com concentração de público.