Aos 81 anos, Hebe Camargo não pensa em parar. A apresentadora, que recebeu a reportagem de QUEM para uma entrevista exclusiva, falou abertamente sobre o passar do tempo, vaidade, sexualidade e afirmou que ?foi bom? ter passado pelo câncer de peritônio, diagnosticado no começo do ano, para servir como exemplo a quem enfrenta o mesmo problema. Por causa da doença, submeteu-se a uma cirurgia e fez tratamento de quimioterapia. Perdeu os cabelos. Mas não a vontade de viver. ?Nunca pensei que pudesse morrer?, falou, com franqueza.
O Brasil conhece Hebe há 60 anos, desde que a TV foi inaugurada por aqui. A primeira-dama da televisão, entretanto, dispensa os estrelismos: dá gargalhadas, toca no cabelo do repórter para falar sobre o crescimento de seus novos fios e responde a perguntas como se estivesse falando com velhos amigos. De fato. Hebe foi capa da edição de primeiro aniversário de QUEM, em 2001.
Perto do vencimento de seu contrato com o SBT, em dezembro, ela ainda não foi chamada por Silvio Santos para conversar. Mas toca novos projetos, em que retoma seu lado cantora: lançará no mês que vem um CD em que interpreta canções como Saúde, de Rita Lee, e É Preciso Saber Viver, de Roberto Carlos. Em 27 de outubro, grava a primeira etapa de seu DVD, no Credicard Hall, em São Paulo. Em novembro, gravará no Rio. A partir de março do ano que vem, sairá em turnê pelo país. ?Estou preocupada, será que as pessoas irão ao meu show??, brincou, nos bastidores da entrevista.
Depois das perguntas, questionada se poderia posar para as fotos que ilustram a entrevista em um terraço, ela pega o repórter pelo braço e responde: ?Claro. Adoro o sol?. Entre os cliques, escuta os elogios de sua equipe e de admiradores que a observam. Com um sorriso maroto, olha para o lado e diz: ?Eu sou f...!?.
QUEM: Você está com 81 anos e parece gostar de falar sua idade. Como lida com o passar dos anos?
Hebe Camargo: A idade nunca me incomodou. Sempre contei a idade que tinha. Algumas de minhas amigas, aquelas que tinham a mesma faixa de idade que eu, ficavam loucas. Mas não dá para esconder. Eu não tenho medos. Nenhum.
QUEM: Nem de morrer?
HC: Não, não tenho medo de morrer. Eu tenho peninha de morrer. Tenho peninha de deixar tudo para trás: a gente tem tantos amigos, bichos, coisas que a gente gosta. Mas medo, não. Nem quando tive a doença eu pensei que pudesse morrer. Em nenhum momento. Nunca passou pela minha cabeça ?vou morrer?. Nada, juro por Deus.
"As pessoas não têm que ficar achando que vão morrer. Eu, como tive a doença, sou um exemplo disso. (...) A vida é maravilhosa. Vamos em frente, enfrentar com fé e força. Não percam a fé."
QUEM: Você é uma morena com alma loira...
HC: Mas não sou burra! Engraçado. Você sabe que eu coloquei uma peruca preta e fiquei medonha? Não combina mais comigo. Não sei ser outra coisa que não seja uma loira. Mas não sou loira burra.
QUEM: O que quero dizer é que seu cabelo sempre foi sua marca registrada. Uma vez você me disse que não gostava nem de cortar as pontas. A perda dele, por causa da quimioterapia, foi difícil?
HC: Posso te falar? Não foi nada complicado. Nada. Olhava no espelho e tudo bem. Não tive trauma. Hoje em dia, estão fazendo cada peruca que você jura por Deus que é cabelo. E não é! E o cabelo cresce muito rápido.
QUEM: Como seu cabelo está hoje?
HC: O meu (cabelo) já está assim (faz um sinal com os dedos, de cerca de 5 centímetros). Está mais comprido que o seu (diz, pegando nos cabelos do repórter). Eu acho, de verdade, que foi bom eu ter tido o câncer.
QUEM: Por que diz isso?
HC: As pessoas não têm que ficar achando que vão morrer. Eu, como tive a doença, sou um exemplo disso. Gosto de falar sobre isso para que as pessoas que estão passando pela mesma coisa não achem que a vida acabou. A vida é maravilhosa. Vamos em frente, enfrentar com fé e força. Não percam a fé.
QUEM: Já retomou a vida normalmente? Deu para voltar para as suas ?vodquinhas? como costumava dizer?
HC: Já! Já foi liberado. De vez em quando eu tomo. Mas não tomo vodca a qualquer hora também. Só quando como uma coisa com caviar. Eu acho que o caviar pede uma vodca, sabe? Lá no (restaurante) Magari tem uma papinha, que se chama papinha da Hebe: é uma musse que tem um caviarzinho em cima. Aí, já peço a vodca para acompanhar. Tomo dois ou três copinhos, assim, bem geladinha, uma delícia.
QUEM: Existe uma lenda de que você nunca ficou bêbada...
HC: De porre, nunca fiquei. Nem dor de cabeça eu tenho. E olha que eu misturo bebidas: eu tomo vodca, depois tomo vinho. E não fico (bêbada). Claro que fico um pouquinho mais alegre do que eu já sou. Mas de porre nunca fiquei. Agora, a vodca tem uma coisa engraçada: se você fizer alguma ?coisinha?, tiver uma relação depois de beber a vodca, no dia seguinte você não lembra de nada! É uma coisa interessante. Não sei se isso é bom ou é ruim...
QUEM: Falando nessa ?coisinha?, como está a vida amorosa? A Hebe fica ou só namora?
HB: Eu acho ficar meio irreverente. Eu não fico. A esta altura da vida, não dá para ter mais nada. Não dá para ficar, nem namorar, nem casar.
QUEM: Mas você não está nem com um namorinho?
HC: No momento, não tenho nenhum. Como posso dizer? Tem umas coisinhas, assim, mexendo com o meu coração, sabe?
"Não tomo vodca a qualquer hora também. Só quando como uma coisa com caviar. Eu acho que o caviar pede uma vodca, sabe?"
QUEM: Pode dar alguma dica?
HC: Não, não posso dar nenhuma dica! Ainda é sonho. É só um flerte. Mas, hoje, namorar para mim é uma coisinha bonitinha. É gostosinha. Só para elogiar, dizer que está bonito, dar beijinho. Mas ter uma relação sexual, acho que não teria mais.
QUEM: Como assim? Não tem mais desejo?
HC: Eu sinto desejos! Isso não acaba coisa nenhuma! Eu estou completamente viva. Sou uma pessoa sexualmente viva. Tenho plena vitalidade. Mas não sei se teria coragem, a esta altura da minha vida, de ter uma relação sexual. Mesmo que estivesse amando a pessoa. Gozado isso, né?
QUEM: Mas como explica isso?
HC: Eu não sei. É engraçado isso... Não consigo explicar. Não mesmo.
QUEM: Mas faz muito tempo que está assim?
HC: Ih, algum tempo. Sou uma viúva, sabe (O segundo marido de Hebe, Lélio Ravagnani, morreu há dez anos)? Mas a gente acaba dando outro jeitinho.
Na Lata
QUEM: Já perdoou uma traição?
HC: Não perdoo. Nunca. Eu fico louca de ver essas mulheres que perdoam e recebem os maridos de volta. Teve um homem na minha vida, que fiquei oito anos com ele. E ele me traiu... Isso me marcou muito.
QUEM: Qual foi sua reação?
HC: Quando soube, eu peguei, arrumei as roupas dele, coloquei numa mala e mandei entregar na casa onde ele tinha a outra, lá. Chorei a noite inteira.
QUEM: Você o amava?
HC: Muito! E, mesmo amando, tive que fazer isso. Fiquei um mês sofrendo terrivelmente. Depois, ainda passei um ano sofrendo. Menos, mas sofrendo. Tive que esquecer. Quem trai não ama. Quem ama não trai.
QUEM: Um homem mais novo atrairia você?
HC: Não, não. Jamais gostei de homens mais novos. Jamais. Gosto de homens mais velhos. Assim, um cabelinho branco...
QUEM: Sua vaidade é sempre muito comentada. Já saiu de casa sem maquiagem, por exemplo?
HC: Não, sem maquiagem não! De jeito nenhum! Não saio sem cílios (postiços), senão meu olho fica desse tamanhinho. E, quando vou tirar (os cílos), eu arranco tudo, meu cílio natural sai junto. Não por causa da químio, mas por arrancar mesmo. Então, não fico sem eles.
QUEM: Suas sobrancelhas estão bem cheias...
HC: Sim! Você notou? Cresceu todinha! Um espetáculo.
QUEM: E quando ficam falando das suas plásticas? Isso a incomoda?
HC: Sabe que eu não faço muita plástica? Dei uma puxadinha no rosto, no seio fiz umas duas ou três (vezes). Acho que só. Até estava precisando levantar um pouquinho (os seios). Mas o importante é que eu tenho muita confiança no meu cirurgião, o Pedro Albuquerque. Ele não exagera nas puxadas: não me deixa com a boca enorme, com os olhos assim (puxa o rosto com as mãos). Ele faz uma coisa para melhorar. Para suavizar.
QUEM: Faria de novo?
HC: Oh! Se precisar fazer de novo, eu vou e não tenho medo. Quando você vai operar, toma a anestesia, acorda e já fizeram tudo. É uma maravilha. Foi assim com minha doença. Deram uma anestesia e quando acordei eles tinham feito tudo o que queriam (risos).
QUEM: Suas joias também são muito comentadas...
HC: Tem muita gente que pensa que é artificial, de mentira, sabe? Mas não, eu não uso (joias) de mentira.
QUEM: Nunca usou bijuterias?
HC: Já usei muito quando não tinha dinheiro para comprar as de verdade. Eu procurava bem aquelas que pareciam as de verdade, sabe (risos)? Mas agora não.
QUEM: Você já ganhou joias de presente?
HC: Eu compro tudo o que eu tenho! Não é de amante, não é de marido... É tudo do meu trabalho.
QUEM: Diria que comprar joias já virou um vício?
HC: Eu sempre digo que não vou comprar mais. Mas, de repente, mandam lá em casa, para eu ver, um brinco, um anel... e eu não resisto... compro!
QUEM: Você tem noção de seu patrimônio?
HC: Nem me preocupo com isso. Não sei nem o que tenho. Meu sobrinho (e empresário, Cláudio Pessutti) cuida de tudo. Se eu ficar pobre, a culpa é dele (risos).
QUEM: Você é muito religiosa. Se pudesse fazer uma pergunta a Deus, qual seria?
HC: Queria saber o motivo de o ser humano estar tão violento. Não me conformo em ver mãe matando filho, filho matando pai, marido matando esposa... Não sei o que está acontecendo com o ser humano!