Neste domingo (27), Fausto Silva deixará de fazer piadas por alguns segundos. De acordo com uma fonte de sua produção, o apresentador pretende se defender da acusação de racismo que sofreu após um comentário polêmico feito no último programa. Durante a participação da cantora Anitta no palco, ele se referiu à cabeleira crespa, volumosa e tingida de vermelho da dançarina Arielle Macedo, como "cabelo de vassoura de bruxa".
Entidades anti-racismo, grupos feministas e até defensores dos cabelos cacheados usaram o carimbo "racista" para atacar o apresentador. O caso teve ruidosa repercussão nas redes sociais. Arielle chegou a postar um desabafo no Facebook. Afirmou ter se sentido ofendida, mas não fez uma menção direta a Faustão. Pouco depois o post foi apagado. Surgiram rumores de que a dançarina teria sido pressionada a não comentar mais nada sobre o assunto.
Faustão teve, inegavelmente, uma atitude deselegante e inapropriada. Contudo, parece ter sido mais uma de suas gafes, e não um ato proposital de discriminação. Desde a época em que comandava o programa Perdidos na Noite, no início dos anos 1980, o apresentador sempre fez discursos contra a desigualdade racial, especialmente quando recebe artistas negros no palco. Em 2012, ele chegou a prestar uma homenagem a ícones como Martinho da Vila e Alcione, em razão do Dia da Consciência Negra.
Vivemos tempos contraditórios. Nunca tivemos tanto espaço para exercer a liberdade de expressão. E, ironicamente, jamais fomos tão vigiados e pré-julgados. A patrulha do politicamente correto vê crime onde há apenas opinião. Enxerga ofensa onde a única intenção era o humor - ainda que no tom errado. Esse excesso de rigor na interpretação das palavras gera a indesejável autocensura. Deixamos de falar o que pensamos por medo de sermos mal interpretados. Viramos uma versão pasteurizada de nós mesmos. Isso empobrece a sociedade.
O racismo existe, jamais deixará de existir e deve ser combatido. Porém, é preciso evitar o cômodo processo de vitimização e não enxergar discriminação em cada palavra, cada gesto, cada olhar. A própria Arielle Macedo indicou isso no seu depoimento no Facebook: "não me deixo oprimir por nada e nem pela opinião de ninguém. O racismo se fortifica quando nos sentimos ofendidos".