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"Posso ser árvore, um animal e até Esperança Garcia", diz Gyselle Soares

Na web, usuários criticam a escolha da ex-BBB para o papel e fazem referência à cor da pele de Gyselle, que interpreta ume mulher negra

A ex-BBB Gyselle Soares tem sido alvo de críticas nos últimos dias após aceitar o papel da escrava negra Esperança Garcia na peça "Uma escrava chamada Esperança" e em entrevista ao meionorte.com na tarde desta quarta-feira (13), a artista afirma que se considera negra e que as críticas são importantes para melhorar seu trabalho como atriz. 

Ela ressalta ainda que sua profissão permite que, por meio de técnicas, possa viver qualquer personagem. Gyselle ressalta também não ficou abalada e nem triste com relação as manifestações. Para a atriz, as críticas são uma oportunidade de aprendizado. 

Gyselle Soares durante a peça "Uma escrava chamada Esperança" - Foto: Tibério Hélio

Eu enxergo essas criticas de uma forma muito positiva, porque a gente tem que respeitar a opinião de todo mundo. As críticas são importantes para gente aprender e crescer. Eu me considero negra,  a minha família tem uma miscigenação muito forte. O meu papel como atriz é poder ser qualquer tipo de instrumento no palco, eu posso ser um animal, posso ser uma árvore e posso ser Esperança Garcia, que foi uma grande guerreira. Eu não me sinto triste, pelo contrario, essa é uma discussão importante e super válida. Estou muito feliz, porque estou realizando um sonho de infância que é poder atuar no teatro. Na peça, estamos falando sobre a força e o empoderamento das mulheres”, declarou. 

Gyselle conta ainda que durante toda sua vida quiz ser atriz  e sua mãe sempre fez tudo ao seu alcance para apoia-la na carreira. "Sofri muito preconceito adulta por ser nordestina , por ter sotaque forte e venci todos esses preconceitos cada dia e até hoje luto com esperança e amor para fazer minha história acontecer e levar arte com beleza e positividade que tudo nessa vida é possível", pontuou,

Gyselle Soares com 15 anos em ensaio fotográfico - Foto: Arquivo Pessoal

Na noite da última terça-feira (12), ativistas do movimento negro realizaram um protesto em frente ao Theatro 4 de Setembro, no Centro de Teresina, contra a atuação da ex-BBB Gyselle Soares no papel de Esperança Garcia. A escrava é considerada a primeira advogada negra do país. Ela vivia na fazenda de Algodões, próximo ao município de Oeiras e se tornou conhecida após escrever uma carta em 1770 para o governador da capitania do Piauí, denunciando os sofrimentos que passava na casa de seus senhores e pedindo providências ao governo.

Diretor critica movimento negro

Valdsom Braga, diretor da peça "Uma escrava chamada Esperança", comemorou a estreia da encenação e criticou o protesto realizado por ativistas do movimento negro. O ator afirma que todos os assentos disponíveis do Theatro 4 de Setembro estavam ocupados. Em outro momento, após celebrar a presença de pardos, negros, e brancos, Valdsom afirma ter sofrido agressão.

Imagens mostram trechos da peça em Teresina - Foto: Tibério Helio

"Eu estava diante de uma ditadura. Era um grupo selecionado de pessoas que me agrediram, entende? Reproduziram aquilo que eles mais temem, mas o que eu fico mais impressionado é que o ataque fala mais a respeito dessas pessoas que agridem, do que sobre mim. Foi uma noite incrível, nunca mais vou esquecer", disse.

Braga ainda afirmou que durante a peça pôde mostrar a injustiça que é reproduzida, segundo ele, por "aqueles que deveriam, ao invés de atacar, levantar a voz por uma bandeira".

"Mas a gente entende o que está por trás disso e ainda bem que a arte possibilita a gente se expressar. A arte não vem para a sociedade com um papel agressor, ela vem com uma reflexão. Foi uma das noites mais incríveis que eu já vivi na minha vida e eu não vou esquecer nunca, nem vou desistir", conclui o diretor da peça.