Claudia Raia desceu do salto. Foi preciso! O público, acostumado a reverenciá-la em grandes produções, com figurinos impecáveis seja na vida ou nos palcos, vê aqui neste especial de Dia das Mães esse mulherão de 1,79 m de altura ao natural, de pijama e pés descalços cercada de seu bem maior: os filhos Enzo e Sophia. As informações são do GShow.
Com as cortinas dos teatros fechadas e as luzes dos estúdios apagadas, Claudia - ciente de que o momento é de reflexão, cuidado redobrado e de valorizar ainda mais quem se ama - abriu as portas de sua casa nessa quarentena e compartilha um pouco da intimidade ao lado das crias com os leitores do Gshow. Nesta entrevista, por e-mail, fala dos prazeres e angustias da maternidade, e do poder que um filho e uma mãe têm de transformar um ao outro.
Por conta do distanciamento social devido à pandemia do novo coronavírus, as fotos foram feitas à distância, através de vídeo chamada: simples assim.
"Queríamos fazer um registro nosso, porque acaba sendo difícil a gente fazer fotos juntos já que cada um tem sua rotina. Então, aproveitamos um dia mais calmo e registramos uma parte da nossa rotina, que compartilhamos aqui com vocês."
"As fotos que acompanham esta matéria foram isso: registros do dia a dia feitos pelo Iude, um amigo querido, por vídeo chamada. A gente ia fazendo as coisas e ele registrava. Acho que ficou um retrato intimista tão bonito. Adoramos ficar juntos, curtir a companhia uns dos outros. Fazemos ioga, cantamos... Buscamos essa conexão mesmo", destaca Claudia.
É um Dia das Mães atípico... Sem filas em restaurantes, e tantas delas sem beijo e aquele abraço apertado... Mas o sentimento não muda. Ele multiplica, se é que é possível, diante das adversidades. Vale mensagem de texto, de voz, homenagens nas redes sociais... O que importa é exaltá-las, sempre, da forma que for! Claudia faz isso, em pensamento e palavras, por Dona Odette Motta Raia, que partiu aos 95 anos em março do ano passado.
"É uma saudade que não cabe no peito. Sinto falta dela todos os dias. E no Dia das Mães esse sentimento fica ainda mais evidente. Ela foi uma matriarca daquelas para ninguém botar defeito. Uma mulher empreendedora, sábia, generosa, exigente, tocando seu próprio negócio e criando duas filhas."
"Não canso de dizer que ela é meu maior exemplo de vida. Fui uma filha que deu um certo trabalhinho (risos). Capricorniana, né, amor! Sabia desde cedo o que queria. E não adiantava me dizer 'não' porque fazia até ela concordar. O que já ameacei fugir de casa não está na história (risos). Então, assim, desde cedo ela entendeu que tinha uma filha que queria voar. Havia dois caminhos: abrir a porta da gaiola ou me deixar lá, sabendo que eu daria um jeito de escapulir. Ela abriu a porta da gaiola e me ajudou a levantar voo."
Mãe de novo aos 50, por que não?
Com quase 40 anos de carreira, a artista de 53 de idade, que interpreta, produz, canta, dança e sapateia - e não há como fugir do clichê - diz que exerce seu melhor papel sendo mãe de Enzo e Sophia, da relação de 17 anos que teve com o ator Edson Celulari. Casada com Jarbas Homem de Mello desde 2012, Claudia não descarta ter outro filho.
"Essa é uma possibilidade que ainda está em aberto, tanto que congelei meus óvulos. É muito cruel haver um prazo de validade para a mulher. Mas assim como tudo muda, essa perspectiva também está mudando. A maternidade acontece cada vez mais tarde. Ter filho com 30 anos, há tempos atrás, era considerado tarde. Hoje, se a mulher tem seu primeiro filho aos 36, a idade que eu tinha quando Sophia nasceu, já é normal."
"Acho que há um entendimento maior de que a mulher pode e deve correr atrás de outras coisas, se é o que deseja. Ela pode priorizar a carreira, outros planos que tenha... E deixar para ser mãe depois. Isso para quem quer ser. Porque essa não é a vontade de toda mulher, e tudo bem também. A maternidade não faz a mulher ser mulher. A maternidade é uma vivência possível para mulheres. Não é obrigatório."
Um filho nos braços...
Em 15 de abril de 1997, a atriz deu à luz Enzo, hoje com 23 anos. Segundo ela, a memória do parto do primogênito segue intacta e desperta o melhor dos sentimentos quando revivida. Já Sophia chegou em 15 de janeiro de 2003. A menina, de 17, só veio para somar.
"A sensação é inesquecível. O nascimento dos meus filhos são os dois momentos mais importantes da minha vida. Quando peguei Enzo no colo pela primeira vez, me senti com uma força gigante, que eu nem sabia de onde vinha. E com a Sophia foi a mesma emoção, a mesma sensação..."
"Ao mesmo tempo que você se sente inundada dessa força, também se sente vulnerável porque dali em diante tudo mudou, uma mãe nasceu junto com aquelas crianças. É um aprendizado constante sobre tudo, especialmente sobre limites, independência... Maternidade não é um passeio de carrossel. É uma montanha-russa. É contraditório e delicioso. É um trabalho que nunca acaba."
Defeitos e qualidades
Nem tudo são flores nessa caminhada de parceria mútua. Os filhos sabem como ninguém tirar as mães do sério, e não é diferente com a dupla Celulari Raia. Claudia é a primeira a enaltecer as qualidades dos dois, sem esconder seus defeitos.
"No Enzo, o que mais gosto é a sensibilidade. Na Sophia, a generosidade. É uma menina que faz tudo para todo mundo. Agora o que mais me irrita é a falta de paciência dos dois (risos). Acho que tem a ver com a idade. Eles não têm paciência nenhuma."
Orgulho em dobro
O mais velho é engajado em causas sociais desde novo. Recentemente, criou o festival online "Ao Vivo Pela Vida", que arrecadou doações para o Fundo Emergencial para Saúde - Coronavírus Brasil e para a Ação da Cidadania (www.aovivopelavida.com) em parceria com vários artistas. Já a caçula vem se descobrindo, dando pequenos passos no ramo da moda. Ano passado, estrelou campanha de uma joalheria carioca. Mais do que isso, Enzo e Sophia formam uma bela dupla como irmãos. São amigos, cúmplices. Para total satisfação da mãe.
"É tão forte para mim, por exemplo, vê-los próximos, amigos, tão ligados. É uma relação lindinha demais. Ver o Enzo tão consciente, envolvido em ajudar o próximo, em repartir, cuidar... Me deixa muito feliz. E a Sophia me encanta acompanhar o desenvolvimento dela, ela se descobrindo. Ano passado, fotografou para uma campanha pela primeira vez, e eu fiquei toda emocionada de ver o comprometimento e o profissionalismo dela. Agora, durante a pandemia, ela lançou o desafio #DeMãosLavadas para incentivar pessoas a lavarem as mãos e mostrar a forma correta de se fazer isso. Só sinto orgulho deles!"
Aprendizado
Na casa de Claudia, ensinamento é uma via de mão dupla. Ela está ali para instruir, mas também tira o melhor dos filhos para si. Segundo a atriz, Enzo e Sophia são a versão melhorada dela e de Celulari:
"Aprendo com eles todos os dias, na verdade. É muito incrível se ver de alguma maneira refletida nos filhos, mas cada um tem uma personalidade única e são tão donos das suas vidas, sabem muito bem o que querem. Acho que mais do que tudo, o que aprendo com eles é empatia e solidariedade."
"É impressionante como essa geração já vem com a mão estendida para ajudar o outro, já vem com um amor imenso e incondicional pelo próximo. Minha geração aprendeu a se virar para sobreviver. Eu, por exemplo, saí de casa aos 13 anos, era outra preocupação. Então, todos os dias eu aprendo a ajudar mais ainda com eles dois."
Liberdade
Culpa, medo... São sentimentos comuns às mães. Para Claudia, maternidade não vem com manual de instrução: é dia a dia, respeitando a individualidade.
"Acho que o receio de toda mãe é como ser mãe. O mais importante é aceitar que vai errar e tudo bem. Sempre dá para consertar, ajustar a rota, fazer de novo. Ser mãe não tem fórmula. Estamos falando de relacionamento entre pessoas, cada uma delas com seu jeito, vontades, anseios... É preciso entender isso e entender que perfeição não existe."
"Mesmo que erramos, é por amor. E em nome desse amor, devemos admitir o que não foi legal e buscar fazer melhor. Acho que outro receio é entender que os filhos não são uma extensão dos pais. Eles têm sua própria jornada, e eu estou aqui para ajudá-los, ouvi-los, aconselhá-los. Mas, jamais, para ditar todas as regras e dizer como é o jeito certo de viverem. É preciso que tenham espaço para se descobrirem também."
Educação
"Eduquei meus filhos para se respeitarem e respeitarem os outros, para pensarem no próximo, no coletivo. Estamos todos conectados. Então, é importante ter essa sensibilidade para o outro, para ajudar, para criar pontes. Sempre pensei isso e agora tenho ainda mais certeza. Para superarmos este momento tão delicado, precisaremos de mais amor, empatia, solidariedade. Não dá para ficarmos olhando só para nós. Somos peça de uma engrenagem muito maior e estamos também a serviço de um bem maior."
Mãe belíssima...
"Quando era jovenzinha, nem pensava em ser mãe (risos). Essa vontade foi uma coisa que veio com a maturidade. Quando Enzo nasceu, eu estava com 30 anos. Quando Sophia nasceu, com 36. Então, foi algo que foi se transformando em mim. E tenho plena certeza de que ser mãe é o grande papel da minha vida, tanto que tenho Enzo e Sophia, e minhas filhotas adoradas que a profissão me deu (Mariana Ximenes, Marcella Rica, Fernanda Souza e Paolla Oliveira, que foram suas madrinhas de casamento). Quando dizem que coração de mãe sempre cabe mais um não estão mentindo (risos)."
"Sobre ser uma mãe lindíssima, eu tive um exemplo dentro de casa, que foi minha mãe, Dona Odette, sempre arrumada, linda, se cuidando. Nada disso mudou depois que meus filhos nasceram. Entendi que a maternidade se somaria a pessoa que eu já era. Ela não veio para substituir nada. E isso que é o barato. Então, continuei me cuidando, fazendo minhas aulas, meus trabalhos... E conciliava tudo isso com a maternidade. Meus filhos são a luz da minha vida."
Quarentena com eles...
"Enzo e Sophia moram comigo. Então, o dia a dia nós temos juntos. Claro que, nesse período, isso está bem mais intenso. Durante a semana, cada um tem sua atividade: Enzo trabalha na empresa dele, a Dadivar; Sophia estuda, ela está tendo aulas por conferência em vídeo; e eu tenho minhas coisas também, estou fazendo minha biografia, por exemplo. O que a gente faz é separar um momento do dia para fazermos algo juntos: assistimos a um filme, uma série... E no fim de semana, gostamos de curtir mais. Então, tomamos um café da manhã, conversamos por mais tempo."
Histórias marcantes com Dona Odette
"Tenho muitas... O momento em que a gente se despediu quando eu estava indo para Nova York (aos 13 anos para estudar balé). Quando ela foi lá me salvar. Quando me viu no palco pela primeira vez aos 3 aninhos... A mais recente foi quando fiz o 'Raia 30 - O Musical', um espetáculo em comemoração aos meus 30 anos de carreira, e fiz uma grande homenagem para ela no palco. Foi muito bonito."
"Fiz essa homenagem em vida. Minha mãe foi minha grande professora e incentivadora. Minha grande mestra. Ela me moldou para enfrentar essa profissão. Então, nada mais justo que eu dedique minha carreira a ela. Esse foi um momento muito lindo e único."